Parlamentares lamentam destruição do Museu Nacional e defendem mais zelo com patrimônio cultural
Parlamentares do PSDB lamentaram a tragédia que destruiu boa parte do acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e defenderam mais cuidado e atenção com o patrimônio cultural do Brasil. Por meio de manifestações em redes sociais e no Plenário da Câmara, apontaram fatores como falta de recursos e falhas de gestão. Além disso, alertaram para as consequências devastadoras para a memória brasileira.
Representante do Rio na bancada tucana na Câmara, o deputado Otavio Leite (RJ) afirmou que o Brasil começou a semana de luto. “A maioria dos nossos museus já vivem em precárias situações por causa da falta de recursos e agora são mais de 200 anos de história perdida. Fico imaginando o que vai ser preciso para soerguer isso. É uma tristeza muito grande, pois se trata de um patrimônio de todos os brasileiros”, disse.
Iniciado por volta das 19h30, o fogo foi controlado no fim da madrugada desta segunda-feira (3). O museu completou 200 anos em 2018 e foi residência da família real, além de ter abrigado a primeira Assembleia Constituinte do Brasil. Fósseis, múmias, registros históricos, livros e obras de arte viraram cinzas. Pedaços de documentos queimados foram parar em vários bairros da cidade. Quatro vigilantes estavam no local. Ninguém ficou ferido.
PERDA IRREPARÁVEL
As causas do fogo serão investigadas. A Polícia Civil abriu inquérito e repassará o caso para que seja conduzido pela Delegacia de Repressão a Crimes de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, da Polícia Federal, que irá apurar se o incêndio foi criminoso ou não. A tragédia expôs a falta de política pública para os setores cultural e científico. O diretor do museu, Paulo Knauss, destacou a importância do acervo perdido para história mundial e disse que o Brasil “está carente de uma política que defenda os nossos museus”.
O 1º vice-líder do PSDB na Câmara, Betinho Gomes (PE), lamentou “profundamente” o incêndio. “Infelizmente, o que aconteceu é fruto da falta de comprometimento dos governos. Não é de agora que os recursos para manutenção não chegaram. Uma perda irreparável à nossa memória”, apontou.
Para Marcus Pestana (MG), é preciso cuidar melhor do patrimônio histórico nacional. “Museus, prédios e monumentos carregam nossa alma e nossa história”, lembrou. Além de lamentar a grave tragédia, o deputado Vitor Lippi (SP) chamou atenção para o sucateamento do patrimônio histórico e cultural brasileiro. Segundo ele, o Museu Nacional estava há anos abandonado, enquanto o governo federal usava recursos públicos para financiar obras em Cuba, Venezuela e outros países com alinhamento ideológico aos governos petistas.
“Esse incêndio é uma notícia estarrecedora para a nossa história. Virou tudo pó. É inacreditável que um país não se preocupe com o mais importante acervo histórico da nossa gente, da nossa história, com peças do mundo inteiro, da antropologia do mundo, esqueletos da época dos faraós. É uma vergonha para o Brasil. Para cuidar dos nossos museus não tinha dinheiro, mas para mandar para Cuba, Venezuela e países da África tinha”, apontou o deputado, ao defender o uso consciente dos recursos públicos e mais respeito dos governantes pela história e a cultura brasileiras.
DESASTRE HISTÓRICO
Nas redes sociais, vários integrantes da bancada comentaram a fatalidade e chamaram atenção para o descaso que atinge a área. O deputado Ricardo Tripoli (SP) lembrou que o local sofria com falta de reformas básicas e funcionava com um orçamento reduzido. “É um dever nacional evitar que tragédias como essa voltem a acontecer”, defendeu.
Na avaliação de Floriano Pesaro (SP), o Museu Nacional é mais um símbolo do descaso do país com sua cultura e história. “Nunca é demais lembrar que se trata de uma instituição centenária relegada ao descaso por todos os últimos governos nacionais e do estado do Rio de Janeiro. Nos anos de administração do PT e seus aliados no Congresso Nacional, que hoje pretendem se passar como opositores, a cultura foi tratada com absoluto descaso”, apontou.
O deputado Fábio Sousa (GO) compartilhou postagens de outros usuários do Twitter e também comentou a tragédia. “Desastre histórico e cultural. Uma verdadeira tragédia para um país que quase não valoriza seu acervo”. Comovida, a deputada Yeda Crusius (RS) ressaltou que “não há como recuperar o que o fogo leva”. “Sem palavras”, disse.
Para a deputada Shéridan (RR), o desastre foi uma perda incalculável para a cultura, história e ciência do país. Segundo Miguel Haddad (SP), o país está de luto pelo ocorrido. E como lembrou o deputado Waldir Maranhão (MA), o Museu Nacional abrigava importantes documentos da história nacional. “A falta de preservação e negligência dos governos estadual e federal comprovam o total descaso com a memória nacional”, lamentou.
O presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, afirmou que a tragédia agride a identidade nacional e entristece todo o país. “Neste momento de profunda perda, quero me solidarizar não apenas com os cariocas, mas com todos os cidadãos brasileiros. Diante da perda irreparável do maior acervo museológico brasileiro, devemos resgatar o compromisso de zelar permanentemente, com consciência e investimento, pela preservação do patrimônio e da memória do país”, disse.
ACERVO
O Museu Nacional é uma instituição autônoma de perfil acadêmico e cientifico, integrante do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e vinculada ao Ministério da Educação. A unidade foi afetada pela crise financeira da UFRJ e está há pelo menos três anos funcionando com orçamento reduzido. O museu chegou a anunciar uma “vaquinha virtual” para arrecadar recursos. Reportagem do Bom Dia Brasil de maio deste ano mostrou que a instituição deveria receber o repasse de R$ 550 mil da universidade, mas há três anos só recebe 60% desta verba.
Por sua importância e por abrigar tantos itens de valor imensurável, o Museu Nacional já recebeu importantes visitas ao longo de seus 200 anos. Entre as personalidades que passaram pelo local estão a cientista Madame Curie, o físico Albert Einstein, o filósofo Claude Lévi-Strauss e o pai da aviação Alberto Santos Dumont.
O museu possui um acervo histórico desde a época do Brasil Império. Entre os itens de exposição estavam o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, batizado de “Luzia”; a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador Dom Pedro I; a coleção de arte e artefatos greco-romanos da Imperatriz Teresa Cristina; e as coleções de Paleontologia que incluem o Maxakalisaurus topai, dinossauro proveniente de Minas Gerais.
(Reportagem: Djan Moreno/foto: Tânia Rego/Agência Brasil/ Áudio: Hélio Ricardo)
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