Peça de marketing

Presidente desnaturada: “mãe do PAC” abandonou principais obras, criticam tucanos

Seria preciso um milagre para que a presidente Dilma conseguisse, a essa altura, entregar as obras previstas para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) até o fim do mandato. A petista foi apresentada à nação como “mãe do PAC”, mas parece ter abandonado o projeto, que definha com construções inacabadas por todas as partes do país. O governo não conseguiu sequer investir a totalidade do orçamento de 2007, ano de lançamento do programa. Somente 72% dos recursos aportados para aquele ano foram executados. 

Em 2012, tucanos já denunciavam o prejuízo com o atraso nas obras de transposição.

A lentidão e a ineficiência se arrastam ao longo dos anos. Dos recursos previstos para 2014, nada mais que 27,6% foram efetivamente pagos, de acordo com levantamento da Assessoria Técnica da Liderança do PSDB na Câmara. Outrora usado como principal peça de marketing nas propagandas petistas, especialmente na TV, o PAC saiu dos holofotes. Talvez seja a falta do que mostrar. Obras importantes para a infraestrutura nacional sofrem com descaso e abandono.

Para o deputado Nelson Marchezan Júnior (RS), o PAC é um filho abandonado.  “A mãe do PAC não cuidou do filho. Esse filho está passando por extremas dificuldades e, junto com ele, os brasileiros”, avalia. Em sua avaliação, o programa, que sempre foi uma grande peça de marketing, “virou bolha de sabão”. O deputado afirma que o governo não estabelece prioridades e utiliza os recursos públicos para alimentar a corrupção enquanto as obras essenciais para o país se arrastam.

A transposição do Rio São Francisco é um exemplo da ineficiência que impera no PAC. Com pouco mais da metade das obras concluídas, o empreendimento que Lula prometeu entregar em 2012 só deverá ficar pronto em 2017. O orçamento, que era de R$ 4,8 bilhões, quase dobrou – foi para R$ 8,2 bilhões – e cerca de 12 milhões de nordestinos continuam a esperar pela água que já deveria ter chegado às torneiras. “Esses são números que evidenciam a ineficiência do PT na gestão dos recursos públicos. O PT só é bom na gestão da máquina pública para se servir dela, para partidarizá-la”, criticou Marchezan, ao citar o escândalo da Petrobras. .

O deputado Raimundo Gomes de Matos (CE) afirma que o programa é de “aceleração da corrupção” e não do crescimento. “A presidente Dilma e sua equipe não possuem capacidade de gestão. Estamos em outubro e só 27% dos recursos foram efetivamente pagos. Isso mostra que falta compromisso com a aplicação desse dinheiro que deveria estar melhorando a vida do povo”, alertou o tucano. Para ele, as propagandas positivas não passam de enganação.  

Não são apenas as grandes obras que demoram a ser concluídas. Pequenos e médios empreendimentos sob a responsabilidade de diversos órgãos do governo continuam apenas no papel. Várias obras de dragagem e adequação de navegabilidade tocadas pela Secretaria de Portos, por exemplo, estão com execução em 0%. Também continuam no papel algumas obras de ferrovias tocadas pela Valec. Outras, como o trecho da Oeste-Leste entre Caetité e Barreiras, não tiveram mais que 30% do previsto efetivamente pago até agora.

Empreendimentos faraônicos – Outro sinônimo da lentidão do PAC é a Transnordestina. A ferrovia que servirá para escoar a produção de grãos e minérios de Ceará, Pernambuco e Piauí teve o orçamento inflado de R$ 4,5 bilhões para R$ 7,5 bilhões. Iniciada em 2007, a obra deveria ter sido concluída em 2010. O prazo já se excedeu em quatro anos e ainda serão necessários mais dois para que seja entregue. “Esse modelo de gestão é maléfico para o povo brasileiro”, pontuou Gomes de Matos.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)