Quando 2 + 2 dá 5 – Análise do Instituto Teotonio Vilela


Nos anos recentes, o brasileiro viu o país repetir uma série de desempenhos medíocres nos mais diversos comparativos internacionais. Mas, vez ou outra, em ocasiões raras e menos frequentes do que o desejado, o Brasil desponta como protagonista de algum sucesso. Em alguns casos, em áreas tão improváveis quanto a matemática. 

Há pouco mais de três anos um brasileiro foi agraciado com o equivalente ao Nobel de matemática, algo inédito em nossa ciência, quando Artur Avila recebeu a medalha Fields. Agora toda esta área de conhecimento produzido no Brasil foi laureada com a promoção do país à elite da União Matemática Internacional, anunciada na última quinta-feira. 

Além do Brasil, apenas outras dez nações fazem parte deste seletíssimo primeiro time mundial: Japão, China, Canadá, Alemanha, Rússia, França, Reino Unido, Itália, EUA e Israel (aqui ordenados segundo a posição de seus estudantes no ranking de matemática da mais recente edição do Pisa). 

A ascensão dos matemáticos brasileiros premia longa trajetória iniciada em meados do século passado a partir da criação do CNPq e do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), hoje um centro mundial de excelência na área. Aqui, mais que em qualquer outra situação, os números falam por si. 

A produção científica brasileira em matemática multiplicou-se por nove nas duas últimas décadas. A participação nacional no volume global de publicações na área mais que triplicou, para 2,3% do total mundial, e o de artigos em revistas científicas quadruplicou. Há hoje no país o dobro de doutorandos em matemática do que havia dez anos atrás. 

A matemática de altíssimo nível que se produz em nossos centros de excelência contrasta, no entanto, com aquela que é lecionada cotidianamente a crianças e jovens nas milhares de escolas de ensino básico do país. 

O Brasil faz feio em exames globais como o Pisa: figura apenas na 65ª posição num grupo de 70 países onde provas comparáveis de matemática são aplicadas. Segundo o mais recente Ideb, somente 7% dos concluintes do ensino médio têm desempenho satisfatório na matéria. Entre jovens brasileiros de 15 a 16 anos, mais de 70% não sabem o básico da ciência de somar, subtrair, dividir e multiplicar. 

É enorme o desafio de superar tamanho atraso, num saber tão fundamental para os tempos atuais. Mas o êxito da matemática de ponta que se produz no Brasil tinge o horizonte de confiança. Afinal, esta é uma ciência que depende menos de laboratórios e equipamentos e mais do talento humano, em especial do esforço individual. Há, portanto, esperança, ainda que às vezes esta apareça em números pequenos ou em baixas probabilidades.

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29 janeiro, 2018 Últimas notícias Sem commentários »

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