Analfabetismo é chaga nacional, por Rogério Marinho
Resultados da Avaliação Nacional da Alfabetização, realizada pelo MEC, em 2014, mostram a existência de taxas inaceitáveis de estudantes analfabetos no ensino fundamental. O fato deveria mobilizar a sociedade e o governo para enfrentarem essa chaga. Contudo, a sociedade não reage diante deste que é o maior problema do ensino brasileiro: perpetuação do analfabetismo no sistema escolar.
Segundo a avaliação, apenas 11,2% dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental tem proficiência adequada em leitura. Na região Norte, o percentual foi de magros 5%; no Nordeste, 6%; no Centro-Oeste 10%; no Sudeste, melhor percentual, 17% e no Sul apenas 14% dos estudantes sabiam ler e compreender plenamente um texto adequado à sua idade. Os dados mostram que analfabetismo na escola é endêmico.
Especialistas sérios sabem que o fato está condicionando a falta de aprendizado no ensino básico e mesmo no ensino superior. O Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa constataram, em pesquisa de 2012, que 38% dos alunos de ensino superior eram analfabetos funcionais.
Infelizmente, é forçoso concluir que o analfabetismo escolar do ensino fundamental se perpetua em todas as etapas educacionais, caracterizando uma população em idade para trabalhar com mais de 73% de analfabetos funcionais, segundo pesquisa de 2015 do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa. As instituições constataram que somente 8% dos brasileiros em idade apta ao trabalho compreendem textos e são capazes de escrever adequadamente.
O fracasso é retumbante e explica nossa baixíssima produtividade do trabalho e inúmeros outros infortúnios. A realidade nua e crua é de que o sistema de ensino nacional precisa passar por profundas reformas.
Parte da deficiência do ensino pode ser explicada pela hegemonia de métodos e técnicas pedagógicas, nas escolas e na formação dos professores, baseadas em premissas construtivistas de alfabetização. São mais de duas décadas sem nenhum resultado positivo.
O frágil método é defendido, com vigor, por diversos setores educacionais apesar do seu fracasso e das evidências científicas internacionais. Na contramão das conclusões empíricas e científicas, o construtivismo é hegemônico nos livros didáticos e nas diretrizes educacionais. Transformou-se em ideologia defendida cegamente.
Para reafirmar a necessidade de mudanças pedagógicas na alfabetização, indicamos, na Comissão de Educação da Câmara Federal, o professor João Batista de Araújo e Oliveira para ser agraciado com o Prêmio Darcy Ribeiro. Na semana passada, recebeu a comenda por sua luta, dentre outras, pela alfabetização baseada em evidências científicas. O professor coordenou seminários internacionais, escreveu livros e artigos científicos importantes sobre os métodos de alfabetização. Criou programas de ensino com efeitos positivos, reais e medidos tecnicamente. O País perde em não escutá-lo.
João Batista é pessoa perseverante, criativa, inovadora e corajosa e defende suas ideias e posições, independente da moda pedagógica. Tem serviços prestados: participou ativamente, por exemplo, da reforma educacional feita em Sobral, no Ceará, responsável por elevar o Ideb do município para um dos mais altos do País.
Espero que o setor educacional deixe dogmas de lado e ouça o professor João Batista. Precisamos dar passos corretos para cumprir a obrigação mínima de um sistema de ensino que se preze: alfabetizar todos os alunos matriculados nos dois primeiros anos do ensino fundamental. Nada de sólido será gerado pelo sistema de ensino sem superar a gravíssima disfunção pedagógica que é o analfabetismo escolar.
(*) Rogério Marinho é deputado federal pelo PSDB-RN. Artigo publicado no “Novo Jornal”.
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