Frustração


Deputados fazem série de perguntas a Bumlai na CPI do BNDES, mas amigo de Lula silencia

Alexandre Baldy foi um dos deputados que ficaram sem respostas para as perguntas.

Alexandre Baldy foi um dos deputados que ficaram sem respostas para as perguntas.

Após quase três horas de depoimento na CPI do BNDES, o pecuarista José Carlos Bumlai manteve silêncio, mesmo após o bombardeio de perguntas feitas por deputados do PSDB. Nem mesmo a menção aos filhos dele, levados de forma coercitiva pela Polícia Federal para depor, quando foi preso, fez o amigo de Lula suspeita de tráfico de influência mudar sua postura.

“O senhor gostaria que os nomes dos seus filhos constem no relatório final da CPI? Que daqui a anos o senhor seja conhecido como operador do esquema de corrupção?”, questionou, por exemplo, o deputado Alexandre Baldy (GO).
“Vou ficar calado, deputado”, reiterou Bumlai. No entanto, ele estava visivelmente incomodado e alegou que, se estivesse na condição de testemunha, como teria sido se não fosse preso no dia marcado para depor na CPI, poderia ter esclarecido muitos questionamentos. 

A resistência da bancada governista em aprovar o requerimento que resultou na audiência de hoje, (01/12), foi questionada. “Por que vossa senhoria acha que parlamentares do PT tentaram impedir sua convocação? Eles pretendiam proteger o senhor ou o presidente Lula?”, perguntou Caio Narcio (MG).

Miguel Haddad (SP), 1º vice-presidente da comissão, insistiu: “O senhor acha que a sua prisão no mesmo dia em que estava marcado seu depoimento na Câmara foi coincidência”? Indagou, ainda, se o papel dele era de operador com participação ativa em operações fraudulentas envolvendo a Petrobras.

Os deputados João Gualberto (BA), Betinho Gomes (PE) e a deputada Mara Gabrilli (SP) questionaram pontualmente as acusações feitas pelo Ministério Público ao pecuarista. Ele é acusado de obter vantagens do banco Schahin em troca de um contrato de fornecimento de navio sonda para a Petrobras por uma das empresas do grupo. A suspeita é de que o banco teria perdoado uma dívida de R$ 21 milhões do pecuarista depois da operação.

Também é apontado por dois delatores na Operação Lava Jato. Eduardo Musa, ex-gerente internacional da Petrobras, apontou Bumlai como intermediário do pagamento de propina de US$ 5 milhões relativos ao contrato do navio-sonda Vitória 10000 pela estatal. Também afirmou que o contrato com o grupo Schahin foi usado para que o banco considerasse quitada uma dívida de R$ 60 milhões relativa à campanha eleitoral de 2006 do PT.

Bumlai e o lobista Fernando Baiano teriam sido os intermediários do pagamento que, em seguira, fora repassado ao ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró. “O senhor quer ser reconhecido como operador do esquema Lava Jato, do mensalão ou do jornal de Santo André (SP)?”, questionou Baldy.

Outro delator, o empresário Salim Schahin declarou que, em 2004, o banco do grupo emprestou R$ 12 milhões a Bumlai a pedido do então chefe da Casa Civil José Dirceu. Segundo Salim, o destinatário final do empréstimo era o PT.
Oficialmente, o empréstimo foi quitado em 2009, comentou Bumlai, antes de ser preso, na semana passada. Ele afirmou ter quitado a dívida usando sêmem de gado. “Pagamento em sêmem?”, ironizou João Gualberto. Ele lembrou a pobreza em que o país está mergulhado, principalmente depois de treze anos de governo petista. “O senhor faz parte de uma engrenagem perversa, que rouba do povo pobre. O senhor está consciente disso?”, indagou.

Para Betinho, o Brasil escutou Bumlai, mesmo ele não se manifestando. Segundo ele, a PF prendeu o pecuarista por saber da relação dele com o PT e com Lula. “A investigação avança e está claro que o Brasil não aceita mais esse esquema de corrupção montado pelo PT como um projeto de poder. Agora está desmoronando”. 

A amizade do empresário com o ex-presidente Lula foi ironizada pela deputada Mara Gabrilli (SP). Ela relatou que em 2002, ano do assassinato do prefeito Celso Daniel, de Santo André (SP), o pai dela era vítima do esquema de extorsão que funcionava sob a conivência do prefeito. “Meu pai era concessionário e todos os meses recebia a visita de Ronan Maria Pinto, Klinger Muniz de Souza, então secretário municipal e por Sérgio “Sombra”, que faziam a cobrança”.

Ela, ingenuamente, acreditando que Lula condenaria esse crime, foi até ele e relatou o esquema.”Lula negou conhecer Ronan Maria Pinto e depois se descobriu que parte do dinheiro do empréstimo feito pelo BTG Pactual foi para silenciá-lo”, disse ela, alertando o pecuarista sobre o risco de confiar nesse tipo de amigo. 

(Reportagem: Ana Maria Mejia/foto: Alexssandro Loyola)

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1 dezembro, 2015 Últimas notícias Sem commentários »

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