Cegos, surdos e mudos


Tucanos desconfiam que ex-gerente da Petrobras escondeu informações em depoimento

16783080627_6d29c3649f_h

Ex-gerente responde questionamentos de Bruno Covas durante a audiência pública desta terça-feira (31).

Para deputados do PSDB, soou como duvidoso o depoimento do ex-gerente de Implementação de Empreendimentos para a Refinaria Abreu e Lima (Rnest) Glauco Legatti na CPI da Petrobras nesta terça-feira (31). Os parlamentares  que participaram da oitiva veem nítidas contradições entre as falas do depoente e do engenheiro Shinko Nakandakari, que em delação premiada disse ter pagado a ele R$ 400 mil em propinas. Os tucanos querem ouvir Nakandakari e já admitem possibilidade de uma acareação entre ambos.

Glauco desmentiu Nakandakari, que admitiu ter sido o operador da empreiteira Galvão Engenharia no esquema revelado pela Operação Lava Jato. O depoente alegou ter ficado surpreso com as acusações e afirmou que o ‘ex-amigo’ o usou e também que mentiu em sua delação.

Em relação a Pedro Barusco, Paulo Roberto Costa e Renato Duque, disse ter com eles apenas uma relação profissional. Já o doleiro Alberto Youssef e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, ele negou conhecer. Disse ainda que desconhecia irregularidades praticadas por eles e que, pelo teor das delações premiadas feitas até agora, elas ocorreram “do lado de fora” da estatal. Ele ressaltou ainda que era impossível saber que havia formação de cartel.

“O senhor pode realmente se sentir um marido traído, pois tudo aconteceu lá na Rnest”, disse o deputado Izalci (DF) ao depoente. O tucano contestou as afirmações do ex-gerente. Glauco disse que aceitaria participar de uma acareação com Nakandakari, como foi sugerido pelo deputado Delegado Waldir (GO). O deputado goiano, por sua vez, rechaçou o suposto desconhecimento de Glauco. “O senhor era gerente e não via nada? Vocês são todos cegos, surdos e mudos?”, rebateu.

“Ele diz que não sabia de nada, que nunca ouviu falar, nem participou de nada e está chocado com o que está acontecendo. É muita cara de pau”, criticou o deputado Bruno Covas (SP). Em resposta a questionamento do tucano, o depoente disse que o grau de automatismo e as diversas especificidades de Abreu e Lima fizeram com que os custos da refinaria ficassem acima da média de projetos semelhantes. Segundo ele, a modernidade do empreendimento lhe rendeu o apelido de “refinaria do século XXI”.

“Está claro então para todos nós que a refinaria do século XXI é aquela que custa três vezes mais que o normal e está completamente envolvida em irregularidades”, rechaçou Covas. “Vamos ouvir o Nakandakari e, se mantidas as colocações dele, será necessária uma acareação”, reforçou. Segundo ele, uma refinaria do porte de Abreu e Lima deveria custar em torno de US$ 4 bilhões, conforme números de empreendimento nos EUA.

A Rnest consumiu, porém, US$ 18 bilhões na construção. O orçamento inicial era de US$ 2,5 bilhões. Na semana passada, a ex-presidente da Petrobras Graça Foster admitiu que a divulgação desse dado foi um erro e atribuiu o aumento do custo a sucessivas mudanças no projeto original. Já Glauco atribuiu as diferenças ao câmbio e disse que parte do projeto foi calculado em dólares e outra parte em reais. Citou ainda alguns aditivos, como aumento na taxa de juros e adequação no escopo. Para ele, os preços foram justos e os US$ 2,4 bilhões iniciais tratavam-se, segundo ele, de uma estimativa inicial e não havia um projeto concluído.

(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)

Compartilhe:
31 março, 2015 Últimas notícias Sem commentários »

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *