Ideias antigas
Raimundo Matos questiona capacidade de Dilma em liderar mudanças prometidas na campanha
Um novo governo geralmente significa mudanças, novas atitudes, ideias novas colocadas em prática e melhorias para a sociedade. Dilma Rousseff prometeu isso na última campanha sob o slogan “governo novo, ideias novas” e, apesar de uma votação bem apertada, acabou reeleita. Mas o deputado Raimundo Matos (CE), assim como jornalistas e cientistas políticos, questiona a capacidade da presidente para liderar mudanças. Às vésperas de iniciar o segundo mandato, a petista se encontra completamente enrolada em sua própria herança maldita, que abrange desde um gigantesco escândalo de corrupção até o descontrole das contas públicas.
“Até agora ela não sinalizou nada”, resume o deputado do PSDB. Para ele, a presidente precisaria desde o início ter liderado um projeto de mudanças reais, com enxugamento da máquina pública, sinais claros em relação à economia e uma posição contundente diante da corrupção na Petrobras. O que se vê até agora, na avaliação de Raimundo Matos, é apenas uma “confusão” para saber quem vai ou não ser ministro. “Isso desestabiliza. É inadmissível ela continuar com o mesmo modelo do toma lá dá cá”, aponta o deputado.
O tucano concorda com o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Calmon. Em reportagem publicada no “Correio Braziliense”, ele prevê um início de governo complicado e avalia que a presidente perde “a janela de oportunidade” que se abre no começo de todas as gestões. Segundo ele, o esquema criminoso descoberto na estatal fecha essa janela.
“Ela ainda não tem dado sinais. Se estivesse decidida, já teria mandado para o Congresso uma proposta de reforma administrativa com algo para ser desenvolvido a partir de 2015”, afirma o deputado. Para ele, se nos seis primeiros meses não houver nenhuma medida para acabar com a distribuição deliberada de cargos para manter a chamada “governabilidade”, a população deve voltar às ruas. Isso porque, segundo ele, a insatisfação com os altos preços e juros elevados é latente. A manutenção do modelo atual, em que a corrupção prevalece, será inadmissível.
Na avaliação do tucano, dar o bom exemplo seria o primeiro passo. “E para isso tem que diminuir o tamanho da máquina”, sugere. Da forma como está, o parlamentar acredita que continuará havendo espaço para irregularidades. O tucano defende ainda a saída de Graça Foster do comando da Petrobras. “Era a primeira coisa que ela tinha que fazer. A empresa precisa de uma intervenção até porque estamos perdendo patrimônio e credibilidade”, alerta, ao lembrar que “organismos internacionais estão afirmando que para fazer negócio no Brasil precisavam pagar propina”.
No campo econômico, Matos afirma que a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda foi acertada, mas levanta dúvidas sobre a liberdade que o novo ministro terá para promover os ajustes necessários. A pulverização de partidos com representação no Congresso Nacional, especialmente na Câmara – serão 28 a partir de fevereiro –, deve dificultar ainda mais a vida de Dilma e qualquer tentativa de reforma.
(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)
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