Estratégia furada


Tucanos alertam Cerveró sobre risco de defender Dilma no caso Pasadena

15197880101_03dfd08c91_zDeputados do PSDB alertaram o ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró, durante depoimento prestado por ele nesta quarta-feira (10) na CPI Mista que investiga a companhia, sobre os riscos de isentar a presidente Dilma Rousseff da rumorosa transação envolvendo a refinaria de Pasadena (EUA).

O ex-diretor foi apontado pela petista como o responsável pela elaboração de um resumo “técnica e juridicamente falho” que recomendou a compra da unidade. Estima-se que a Petrobras tenha gasto quase US$ 2 bilhões com Pasadena, já que, além de comprá-la por US$ 1,249 bilhão, assumiu as despesas para manter o refino do petróleo.

“Ela (Dilma) o jogou no covil das onças ao dizer que foi induzida a erro porque o senhor não levou para ela todas as informações necessárias para evitar esse grave prejuízo. E o senhor se acomoda”, disse o líder do partido na Câmara, Antonio Imbassahy (BA). “O senhor se comporta de uma maneira muito arriscada. O senhor tem história, familiares e está sendo levado a uma situação muito desagradável”, acrescentou.

O tucano criticou ainda a tentativa da petista de se manter distante dos sucessivos escândalos que abalaram a credibilidade da estatal. Em entrevista à imprensa na segunda-feira (8), ela declarou que não tinha a “menor ideia de malfeitos” na Petrobras.

 “É duro acreditar nessa afirmativa da Dilma. A maioria da população brasileira não acredita. As pessoas acham que a presidente da República, e digo isso com tristeza, falta com a verdade ao fazer essa declaração”, enfatizou Imbassahy, para quem a CPI mista ganha um novo rumo a partir da delação premiada acertada pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa com a Justiça. “Ela estava meio devagar. Vamos entrar numa nova fase para averiguar o que de fato aconteceu.”

 LAMAÇAL – Titular do PSDB no colegiado, o deputado Carlos Sampaio (SP) afirmou que Cerveró não parece ter qualquer envolvimento no esquema criminoso organizado na estatal, mas insiste em preservar Dilma no processo de compra da refinaria norte-americana. “A partir do momento em que ele voltar a agir como técnico, e não como político a defender o PT, é bem provável que ele saia desse lamaçal no qual se inseriu desde que tentou defender a presidente Dilma, que foi quem imputou a ele o equívoco de toda operação de Pasadena.”

A respeito da decisão do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), de liberar à comissão os documentos referentes à Operação Lava Jato, da Polícia Federal, o tucano disse que a CPI mista pode ajudar na agilização das investigações. “É um direito da população brasileira saber antes das eleições quais são os deputados e senadores envolvidos no esquema criminoso dentro da Petrobras”, destacou.

 Durante a reunião, Sampaio criticou a contínua interferência de Edson Ribeiro, advogado de Cerveró, no depoimento. “Não dá mais para seu advogado ficar aqui lhe orientado. Não vim aqui para ouvir o advogado do Cerveró, mas para ouvi-lo”, enfatizou o tucano. “Como promotor há 27 anos, nunca vi um juiz fazer a pergunta e o réu pedir um minutinho. O senhor está de brincadeira comigo. Pelo amor de Deus.”

PECHINCHA NA ZONA SUL– Além do caso Pasadena, a nebulosa compra de um apartamento na Zona Sul do Rio de Janeiro dominou boa parte das perguntas feitas a Cerveró, que morou na propriedade na condição de inquilino nos últimos cinco anos pagando cerca de R$ 3.650 de aluguel.

De acordo com a revista “Veja” do fim de semana, o apartamento foi comprado por uma empresa offshore no Uruguai – a Jolmey Sociedad Anonima – que tem um laranja como representante no Brasil, o advogado Marcelo Oliveira Mello. Ele já trabalhou na Petrobras com Cerveró e foi sócio do escritório de advocacia Tauil, Chequer & Mello, parceiro do Thompson & Knight, responsável pela defesa da companhia no processo sobre Pasadena.

Sobre o episódio, o deputado Izalci (DF) questionou especialmente o custo do aluguel, considerado defasado pelo mercado imobiliário, e a proximidade do ex-diretor com Marcelo Mello. “Esse valor abaixo do mercado não teria sido por essa relação com o Marcelo? Ou foi por que estava liquidando mesmo o aluguel? Quem negociou o aluguel?”, perguntou. O ex-diretor negou qualquer coincidência na transação.

 NO AZUL – Em aproximadamente 20 minutos de exposição, realizada no começo da reunião da CPI mista, Cerveró detalhou sua trajetória de 39 anos na companhia e os avanços que promoveu na Diretoria Internacional entre 2003 e 2008.

 A exemplo do que fez nas duas ocasiões anteriores em que compareceu ao Congresso para explicar o processo de aquisição de Pasadena, o ex-diretor defendeu a transação e acrescentou que a unidade vem operando com capacidade máxima. Por isso, registrou lucro líquido de quase US$ 80 milhões no primeiro semestre de 2014. Explícito entusiasta de Pasadena, Cerveró apostou que a refinaria fechará o ano no azul, com “lucro na ordem de US$ 150 milhões”.

(Reportagem: Luciana Bezerra/ Foto: Alexssandro Loyola)

Compartilhe:
10 setembro, 2014 Últimas notícias Sem commentários »

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *