Mensalão 2?


Para deputados, depoimento de contadora de doleiro preso confirma esquema de corrupção

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Deputado tucano Izalci preside reunião na qual a contadora deu mais detalhes do trabalho que desenvolvia para o doleiro Alberto Youssef.

Para deputados do PSDB, o depoimento de Meire Bonfim Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, prestado nesta quarta-feira (13) no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, confirma que a corrupção continua presente na conduta de petistas e de integrantes de partidos que apoiam o governo de Dilma Rousseff. Ao longo de aproximadamente duas horas, Meire deu esclarecimentos como testemunha nos processos de investigação contra o deputado Luiz Argôlo (SD-BA) apresentados pelo PPS e pela Mesa Diretora da Câmara.

Tucano pede convocação de contadora de doleiro preso na CPI Mista da Petrobras

As representações foram motivadas após a divulgação de reportagens da revista “Veja” e do jornal “Folha de S.Paulo” que mostram troca de mensagens entre o parlamentar e o doleiro sobre a transferência de R$ 120 mil. O recurso teria sido encaminhado para a conta do chefe de gabinete do deputado, Vanilton Bezerra.

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 “Eles (petistas) continuam a praticar atos ilícitos e ilegais nas mais diversas áreas. Como um partido que tem representantes condenados por corrupção permanece nessa atividade?”, questionou o deputado Cesar Colnago (ES) após acompanhar o depoimento da ex-contadora do doleiro.

 Para Izalci (DF), o governo da presidente Dilma Rousseff usa os mesmos mecanismos de controle e submissão de sua bancada que foram utilizados durante a gestão do ex-presidente Lula: o mensalão. “É uma sequência. Tivemos o mensalão do Lula e, agora, houve somente a substituição de alguns elementos. Antes eram os contratos publicitários e agora a Petrobras é utilizada. Ainda é o mensalão, só que é o da Dilma”, destacou o parlamentar tucano, que também esteve na reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.

 “BEBÊ JOHNSON” – Diante dos deputados, Meire confirmou que Argôlo recebia dinheiro do doleiro e destacou a relação carinhosa que havia entre os dois. Chamado de “bebê Johnson” por Youssef, o parlamentar chegou a ir pessoalmente a São Paulo buscar uma quantia que a contadora não soube precisar. “Normalmente, ele recebia em dinheiro. Nunca foi feita uma TED (operação bancária de transferência de dinheiro entre contas) diretamente para Argôlo”, disse. Os depósitos ou transferências eram direcionados, afirmou Meire, para as contas de Élia da Hora e Manoelito Argôlo, pai do parlamentar. O primeiro chegou a ter depositado na sua conta em torno de R$ 47 mil. Manoelito recebeu R$ 60 mil.

 A testemunha confirmou ainda que os dois eram sócios informais da Malga Engenharia e de duas empresas sediadas em Fortaleza (CE): a M.Dias Branco e a Grande Moinho Cearense. Pelas notas que emitiu e pelos depósitos e transferências que realizou, Meire calculou que Youssef repassou mais de R$ 1 milhão para o deputado federal.

Ela também afirmou que uma empreiteira fechou contratos de fachada e fez pagamentos para a empresa GFD, de Youssef, que não exercia nenhuma atividade real além da emissão de notas frias. No depoimento, a contadora preferiu se limitar a contar o que sabia sobre os casos que envolvem o parlamentar do Solidariedade.

 ESQUEMA MILIONÁRIO – Na segunda quinzena de julho, Meire foi até à sede da Polícia Federal em Curitiba (PR) para contar tudo o que sabe, viu e ouviu sobre a engrenagem de pagamento de propinas montada pelo doleiro. Em quase sete dias de depoimento e em posterior entrevista à revista “Veja” do fim de semana, ela apontou, entre os envolvidos no esquema de Youssef, o PT, PMDB e PP, os deputados Cândido Vacarezza (PT-SP), o ex-petista André Vargas (PR) e Luiz Argôlo, o senador Fernando Collor (PTB-AL), além da Petrobras e de empreiteiras.

Preso em março pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, Youssef é acusado de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado R$ 10 bilhões. Parte desse montante, segundo a publicação, foi desviada de obras públicas e destinada a enriquecer políticos e corromper outros com o pagamento de suborno.

Segundo a contadora, as empresas que tinham negócios com a Petrobras forjavam a contratação de serviços para passar dinheiro ao doleiro. 

O dinheiro arrecadado, disse Meire, abastecia o caixa eleitoral dos partidos ou os bolsos de políticos, que recebiam os pagamentos em dinheiro vivo diretamente das mãos do doleiro ou por meio de depósitos bancários.  “O Beto era um banco de dinheiro ruim. As empreiteiras acertavam com os políticos e ele entrava para fazer o trabalho sujo, levando e trazendo dinheiro, sacando e depositando”, declarou. 

HISTÓRIA REPETIDA – O deputado Carlos Sampaio (SP) anunciou nesta quarta a apresentação de requerimento que pede a ida do tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, à CPI Mista da Petrobras para esclarecer o encontro que ele teve com Youssef um mês antes da Operação Lava Jato. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (13) pelo jornal “Folha de S.Paulo” a partir de relatório de investigação da PF.

“A relação do Partido dos Trabalhadores com o esquema de corrupção orquestrado pelo doleiro Alberto Youssef está sendo demonstrada dia-a-dia”, disse o parlamentar por meio de nota. “O financiamento do PT com recursos públicos já é por todos nós conhecido, desde a época do “Mensalão do Lula”! O que percebemos é que esta história está se repetindo e, nos dias de hoje, o “Mensalão da Dilma” já é uma realidade”, acrescentou.

De acordo com o relatório da PF,  Vaccari entrou e saiu da sede da GFD Investimentos, empresa do doleiro, na manhã do dia 11 de fevereiro deste ano. A Lava Jato foi deflagrada em 17 de março, quando cinco doleiros foram presos, entre eles Youssef.

Vaccari admitiu à “Folha de S.Paulo” conhecer Youssef e que foi ao local para encontrá-lo. Disse que foi embora ao saber que o doleiro não estava. O petista afirmou “não ter relacionamento” com o doleiro, mas não explicou a razão pela qual foi procurá-lo.

Homem de confiança do ex-presidente Lula e ligado ao ministro Ricardo Berzoini (Relações Institucionais), Vaccari é responsável pelas contas do PT desde 2010. Ele é acusado pelo Ministério Público de participar de desvio de dinheiro na Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), em 2002.

  (Reportagem: Luciana Bezerra, com informações da revista “Veja” e jornal “Folha de S.Paulo”/ Áudio: Hélio Ricardo)

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13 agosto, 2014 Últimas notícias 1 Commentário »

Uma resposta para “Mensalão 2?”

  1. rubens malta campos disse:

    Pressão neles.

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