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ITV: Dilma tentou mais uma vez ser esperta ao insistir em plebiscito, mas acabou “engolida”

O plebiscito e a constituinte estão mortos para este ano. Menos para o PT e para Dilma Rousseff. “A presidente e seu partido tentam exibir boa vontade com a voz das ruas e culpar o Congresso pelo insucesso. Mas ninguém mais – nem no governo, nem na base aliada – parece muito disposto a seguir as ordens da chefe”, analisa a Carta de Formulação e Mobilização Política desta sexta-feira (5). “Acontece que, mais que nunca, ficou claro que a ações de Dilma Rousseff sempre se orientaram pela esperteza. De tanta, acabou engolindo a dona”, completa o documento editado pelo Instituto Teotonio Vilela. Confira abaixo a íntegra:

O plebiscito e a constituinte estão mortos. Menos para o PT e para Dilma Rousseff. A presidente da República e seu partido insistem nas propostas por excesso de esperteza: querem exibir boa vontade com a voz das ruas e culpar o Congresso pelo insucesso. Só que, quando é muita, a esperteza come o dono – neste caso, a dona.

A presidente está gastando tempo precioso numa pantomima. Todos, inclusive ela, já sabem que não há como fazer plebiscito a tempo de vigorar já na eleição de 2014, mas Dilma persevera na proposta. É sua maneira de tentar desviar o foco das insatisfações da cidadania e transferir a pressão para o Congresso.

A impossibilidade de realizar a consulta popular no exíguo prazo até 5 de outubro foi discutida ontem de manhã pelo vice-presidente da República, ministros e líderes da base aliada. O consenso foi tamanho que tanto Michel Temer quanto José Eduardo Cardozo manifestaram à imprensa a dificuldade de cumprir o cronograma. Depois, tiveram que recuar.

Seguindo sua estratégia esperta, Dilma dobrou a aposta à tarde. Durante cerimonia na Bahia, ela insistiu em defender a manifestação imediata dos brasileiros em relação à reforma política. No mesmo momento, o PT divulgava nota batendo na mesma tecla: quer não apenas plebiscito, mas também constituinte – meramente para defender teses que só interessam ao partido, como o financiamento público de campanhas e o voto em lista fechada.

Tanto a presidente quanto os petistas estão carecas de saber que, por uma questão matemática, o plebiscito não sai a tempo de vigorar nas eleições gerais do ano que vem. Mas querem posar de defensores da manifestação popular, jogando para o Congresso a pecha de fechar-se ao clamor das ruas. Julgam-se muito espertos.

Mas a verdade é que o Congresso não se nega a fazer as mudanças necessárias no sistema político. Numa resposta rápida aos protestos, prepara-se para dar fim ao voto secreto e demonstra disposição para implementar outras alterações, como a adoção do voto distrital.

O Congresso tampouco se nega a submeter o assunto a consulta popular. A população pode muito bem se manifestar se quer ou não manter o que os parlamentares aprovaram por meio de um referendo.

Ontem, na Bahia, a presidente afirmou que não é “daquelas que acreditam que o povo é incapaz de entender [o plebiscito] porque as perguntas são complicadas”. Vale-se, novamente de esperteza. A questão não é se as perguntas são ou não complicadas, mas que as respostas, complexas e multifacetadas, não cabem no binário “sim” ou “não” que caracteriza as decisões plebiscitárias.

Não dá para fazer um plebiscito – cujo custo é estimado em R$ 2 bilhões – agora, de afogadilho, pretensamente para “responder” as ruas, mas sem condições de valer nas eleições de 2014, frustrando as expectativas populares.

É ainda menos lícito concentrar todas as energias do país, incluindo-se governo, instituições e Parlamento, em algo que, definitivamente, não é essencial na pauta dos brasileiros. Enquanto Dilma queima pestanas com plebiscito sobre voto em lista fechada e outras excentricidades, a inflação escala e chega a 6,7% nos últimos 12 meses, implodindo o teto da meta, como informou o IBGE há pouco.

Não adianta a presidente insistir na sua tese ladina de desviar atenções enquanto o bate-cabeças que impera em seu governo mostra-se cada vez mais sonoro e os problemas reais da população se avolumam. Ninguém mais se entende e ninguém mais parece muito disposto a seguir as ordens da chefe. Acontece que, agora, mais que nunca, ficou claro que a ações de Dilma Rousseff sempre se orientaram pela esperteza. De tanta, acabou engolindo a dona.

(Fonte: ITV/ Foto: Wilson Dias – ABr)

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5 julho, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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