Decisão política


Posicionamento brasileiro em relação à entrada da Venezuela no Mercosul é contraditório, dizem deputados

Em audiência solicitada pelo líder da Minoria, Antonio Carlos Mendes Thame (SP), o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, tentou explicar a suspensão do Paraguai do Mercosul e a entrada repentina da Venezuela no bloco. Para o tucano, ficou claro que as recentes decisões, aparentemente comandadas pela diplomacia brasileira, foram ações políticas que pouco consideraram os possíveis avanços econômicos e sociais da região.

Para Mendes Thame, as decisões são tomadas de acordo com concepções políticas e não com os interesses da população dos países que compõem o bloco. “O que estamos vendo é um rosário de acontecimentos em confronto, não buscando um consenso”, afirmou. Em junho, Brasil, Argentina e Uruguai se posicionaram contrários ao processo de impeachment ocorrido no Paraguai. Os vizinhos avaliaram que o então presidente Fernando Lugo não teve tempo para se defender durante o processo.

Os governos decidiram pela suspensão temporária do Paraguai do Mercosul e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). A espécie de punição por um “rompimento com a democracia” segue até 21 de abril de 2013, quando estão marcadas as eleições presidenciais no país. Apesar disso, no dia 31 de julho foi aprovada a entrada da Venezuela no grupo.

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O país tem dado sinais de rompimento com a democracia ao longo do governo de Hugo Chávez, como restrições a imprensa, fechamento de indústrias estrangeiras e outras atitudes autoritárias. Apesar disso, ele foi aceito no bloco às pressas e sem a aprovação do Paraguai, que já estava suspenso. O ingresso de um novo membro precisa ser acatado por todos os países fundadores, conforme critério previsto na formação do Mercosul.

“É o uso de dois pesos e duas medidas”, avaliou Thame. Para ele, é natural que se queira expandir a atuação do bloco. A participação da Venezuela era um fato dado como certo, mas o momento não foi oportuno. Segundo ele, no próximo ano, após as eleições no Paraguai, seria a hora de se definir a participação da nação.

“A verdade é que daqui a alguns meses, quando acontecerem as eleições paraguaias e o país voltar a sua plena democracia, o Brasil terá que fazer um papel de pajem, tentando conciliar os interesses e posições dos dois países. Um brutal desgaste de energia interna que poderia ser canalizada para abrir novos mercados e melhorar a competitividade dos produtos brasileiros a nível internacional”, destacou.

Patriota afirmou que a discussão em relação à Venezuela já vinha ocorrendo desde 2007 e que a participação da nação no Mercosul fortalecerá a região. Por outro lado, o chanceler afirmou que a suspensão do Paraguai não prejudica sua economia ou população.

O deputado Luiz Nishimori (PR) questionou o ministro sobre a expectativa dos ganhos para o Brasil com a entrada da Venezuela. O tucano lembrou que, por diversas vezes nos últimos anos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou a forma como estava sendo feita a discussão sobre o ingresso do país no Mercosul. Segundo ele, em audiência no Congresso, um representante da CNI chegou a afirmar que o processo de adesão estava sendo conduzido de forma pouco transparente e sem consulta aos empresários brasileiros.

Para Antonio Imbassahy (BA), existem duas posições dissonantes: uma do Palácio do Planalto e outra do Itamaraty. “Verifica-se que, pendurada na estrutura organizacional do governo federal, aparece a Assessoria Internacional da Presidência, que dá indicações sempre na direção de defesa de políticas de governo. Certamente isso deve causar algum tipo de inquietação dentro do Itamaraty”, completou. De acordo com o tucano, é clara a defesa de interesses ideológicos por meio do Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower/ Vídeo: Hélio Ricardo)

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5 setembro, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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