Rumo errado


Para líder do PSDB, direcionamento da investigação e disputa política atrapalham comissão de inquérito

Em entrevista ao programa “É notícia”, exibido na madrugada desta segunda-feira (2) pela RedeTV!, o líder tucano na Câmara, Bruno Araújo (PE), alertou para os rumos da CPI Mista do Cachoeira. Na avaliação do tucano, até agora é clara a manobra do governo para adiar ou até mesmo evitar a convocação de Fernando Cavendish, dono da Delta, e do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) Luiz Antônio Pagot.

Empreiteira preferida do governo federal no Programa de Aceleração do Crescimento, a Delta é suspeita de ligação com o esquema de Cachoeira. Pagot, por sua vez, já manifestou vontade de depor, mas o Planalto faz de tudo para impedir a apreciação do requerimento de convocação de uma ex-autoridade que gerenciou bilhões de reais em contratos do Dnit com empreiteiras. Em entrevistas à imprensa, Pagot acusou o esquema de Cachoeira de ter tramado a sua queda da autarquia. A falta de explicações de ambos prejudica o andamento das investigações.

“Está claro que o tema principal da CPI foi concentrado na disputa política. A Comissão Parlamentar de Inquérito convocou dois governadores, quebrou sigilo bancário, então por que não pode ouvir o dono da Delta?”, questionou o líder. “Na última semana, até decorador foi objeto de convocação. A CPI não passa de uma disputa política que não cumpre o seu objetivo principal, levando ao desgaste e descrença de um instrumento importante de investigação”, apontou, ao se referir à oitiva com o arquiteto Alexandre Milhomem, que não trouxe qualquer informação relevante ao colegiado.

Play
baixe aqui

Ao ser questionado sobre o risco de uma possível paralisação dos trabalhos, o parlamentar ressaltou que, se não aparecer fato novo, a tendência é que o colegiado acompanhe o recesso da Congresso, provavelmente a partir da segunda quinzena de julho. Mas completa: “Queremos levar a investigação adiante.”

Para Araújo, há indício de direcionamento das apurações em nome dos interesses da base governista. “É a primeira vez que vemos alguém tendo que explicar o motivo de vender algo que é seu. Na vida pública, é preciso esclarecer como alguém aumentou seu patrimônio, qual a origem do dinheiro, entre outros. Se o Marconi Perillo tivesse dado a casa, não estaria passando por esse tipo de coisa”, apontou, ao se referir a um dos principais aspectos levantados por governistas ao longo da CPI. A atuação do relator do colegiado, o petista Odair Cunha (PT-MG), também vem sendo questionado reiteradamente pelos tucanos.

Em relação à estratégia do PT de se beneficiar da CPI para desviar o foco do julgamento do mensalão, o tucano ressaltou que o partido não alcançará o resultado esperado. “Se o objetivo era fragilizar setores da imprensa, mostrar que o mensalão era algo inventado, caiu por terra. Na primeira semana de agosto começa a fase final do processo. O Brasil todo espera por isso e vai acompanhar. Acredito que o PT contribuiu para chamar mais atenção para o julgamento”, avaliou.

O tucano comentou ainda a possível cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido – GO), que deve ser votada ainda neste mês em plenário. Para ele, o parlamentar foi uma das maiores surpresas políticas do país. “O estereótipo que ele construiu é completamente diferente do que se mostrou na prática. Mostrou duas personalidades”, avaliou Bruno, que defendeu a perda do mandato. Ao longo dos últimos anos o político eleito por Goiás foi um defensor firme da ética na política, mas a revelação de suas relações com Cachoeira foi um duro golpe na imagem do senador.

Durante a entrevista, o parlamentar foi questionado sobre os principais erros do governo Dilma. Bruno Araújo destacou, por exemplo, relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) que aponta uma série de restrições ao primeiro ano de gestão da petista. “O relatório [veja principais pontos] mostrou falhas graves e derrubou por completo a fama de boa gestora de Dilma. O que a presidente autorizou a ser gasto do Orçamento deste ano é irrelevante. Se pegar obras como a transposição do rio São Francisco, menos de 10% do empreendimento foi concluído”, lamentou.

ASSISTA A ENTREVISTA NO SITE DA REDE TV!

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: George Gianni/ Áudio: Elyvio Blower)

Compartilhe:
2 julho, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *