Afogando em dívidas, e em poluição


Com novo pacote, governo mostra falta de ousadia e alienação sobre realidade do país

O novo pacote do governo do PT incentiva o endividamento num momento de inadimplência em alta e privilegia alternativas de transporte mais poluentes. “Não falta apenas ousadia para executar as mudanças mais profundas na estrutura produtiva pelas quais o país clama; falta também uma percepção mais acurada do momento pelo qual passamos”, critica o Instituto Teotonio Vilela, órgão de estudos políticos do PSDB. De acordo com a Carta de Mobilização Política desta quarta-feira (23), a gestão Dilma Rousseff mostra-se totalmente alheia à realidade. “Alguma coisa está muito fora da ordem”, diz trecho do documento, cuja íntegra está disponível abaixo.

Incitar os brasileiros a se endividarem ainda mais, como faz o governo com seu novo pacote, é falar de corda em casa de enforcado. Incentivar o consumo de veículos, sem nenhuma preocupação com a redução das emissões de gases de efeito estufa, é ir na contramão da sustentabilidade. Nada faz sentido nas recentes medidas tomadas pela gestão petista.

É consenso nas avaliações sobre as ações anunciadas na segunda-feira – voltadas, basicamente, a esvaziar os abarrotados pátios das montadoras de automóveis – que o governo Dilma Rousseff tomou a estrada errada. Catapultar o consumo é modelo que já deu o que tinha que dar, num momento em que os devedores já estão com a corda no pescoço e a água pelo nariz.

São números oficiais que comprovam isso. O endividamento das famílias já representa 43% da renda anual do brasileiro, informa O Globo. Comparado com outros países, pode até não soar alto. Mas, dadas as particularidades do nosso mercado de crédito, chega a ser insalubre: aqui os juros são muito mais elevados que em qualquer lugar do mundo – só perdemos para a Rússia – e os prazos para pagamento, mais curtos.

No contracheque do mês, em média 22% já estão comprometidos com pagamento de parcelas de dívida. Quando se considera que o brasileiro médio ainda tem que pagar caro pela escola, pela saúde e pelo transporte que o Estado não lhe provê como contrapartida aos impostos que recolhe, conclui-se que sobra pouco para consumir, como gostaria o governo petista.

Vale comparar com o que acontece com a economia americana, por exemplo. Em 2008, auge da crise das hipotecas, que lançou o mundo na crise da qual ainda não saímos, a renda comprometida com o serviço da dívida estava em 14% lá. No Brasil, já naquela ocasião o percentual chegava a 18% e agora escala aos 22%. Não é pouca coisa.

A contrapartida ao sufoco nas contas a pagar que o brasileiro tem a honrar vem na forma de calote. De acordo com a Serasa, em abril a inadimplência do consumidor em geral subiu 4,8% em relação a março, no maior salto para o mês desde 2002.

Só no cheque especial já há R$ 22 bilhões no negativo. E, apenas no mercado de veículos, outros R$ 10,5 bilhões estão em atraso, o que equivale a 150% acima do verificado no início de 2011. Numa situação assim, quem se arriscará a tomar mais empréstimos? Nem de graça…

“O brasileiro está ficando com menor renda disponível pelo excesso de dívidas, e num momento em que houver dificuldade no mercado de trabalho e a renda não crescer haverá problemas”, analisa Miriam Leitão n’O Globo.

Diante da reação negativa ao sétimo pacote baseado na mesma receita e voltado a beneficiar o mesmo setor industrial, Guido Mantega disse ontem que, para facilitar a vida do devedor, o governo estuda medidas para permitir que eles troquem a dívida velha por nova e mais barata, com suspensão ou adiamento de tributos cobrados na renegociação.

Nenhuma palavra do ministro, porém, sobre o que interessa: ações para alavancar os investimentos, aumentar a produtividade e a competitividade do parque produtivo nacional. “O que emperra o crescimento neste ano, afora os famosos ‘fatores estruturais’ de sempre, é a impressionante contenção do investimento das empresas e a ainda fraca retomada do investimento do governo”, comenta Vinicius Torres Freire na Folha de S.Paulo.

A opção preferencial do governo Dilma Rousseff pelos automóveis também afronta os preceitos da nova economia, que se baseia em modelos de baixa emissão de carbono. Com as recentes medidas, o país – que muito contribui para a sustentabilidade do planeta por meio do etanol – simplesmente está se chocando com a direção para a qual todo o resto do mundo aponta, e justamente às vésperas de sediar a Rio+20.

Ao contrário do Brasil, onde os governos petistas lançaram sete planos, digamos, de “alto carbono”, a grande maioria dos programas lançados no mundo nos últimos anos atrela a redução de impostos à eficiência energética e ao controle de emissões. Enquanto o resto do planeta, de maneira acertada, despeja incentivos em carros elétricos, no Brasil são eles os que recolhem a maior carga de impostos, relata o Valor Econômico.

Não falta apenas ousadia ao governo Dilma para executar as mudanças mais profundas na estrutura produtiva pelas quais o país clama. Falta também uma percepção mais acurada do momento pelo qual passamos. Seja por incentivar endividamento num momento de inadimplência em alta, seja por privilegiar alternativas poluentes, a gestão petista mostra-se totalmente alheia à realidade. Alguma coisa está muito fora da ordem.

(Fonte: ITV)

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23 maio, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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