Atraso generalizado


Críticas da Fifa ao Brasil foram inadequadas na forma e pertinentes no conteúdo, avalia ITV

As declarações do secretário-geral da Fifa foram totalmente inadequadas na forma, mas pertinentes no conteúdo. Esta é a avaliação do Instituto Teotônio Vilela em sua Carta de Mobilização Política desta segunda-feira (5). “O Brasil está se preparando muito mal para a Copa do Mundo de 2014. Com obras de infraestrutura capengas, hotéis insuficientes e estádios atrasados, corremos o risco de desperdiçar uma oportunidade única de construir legados importantes para as cidades-sedes e de potencializar a imagem do país como destino turístico privilegiado”, diz o órgão de estudos políticos do PSDB. Confira abaixo a íntegra do documento:

Totalmente inadequadas na forma, as declarações do secretário-geral da Fifa não erram um milímetro no conteúdo. O Brasil está, sim, se preparando muito mal para a Copa do Mundo de 2014. No ritmo atual, corre-se o risco de desperdiçarmos uma oportunidade única de construir legados importantes para as cidades-sedes e de potencializar a imagem do país como destino turístico ímpar no mundo.

Jérôme Valcke, que já coleciona uma penca de polêmicas, produziu mais uma na sexta-feira. O secretário da Fifa afirmou que o Brasil merece um “chute no traseiro” por seu mau desempenho nos preparativos para o mundial. Numa prévia do que pretendia dizer às autoridades do governo federal em viagem prevista para a semana que vem, disparou: “Temos de dar um empurrão, um chute no traseiro e entregar a Copa”.

Ele listou os principais problemas que, a cada visita, encontra no país: estádios atrasados, obras de infraestrutura capengas, hotéis insuficientes, legislação específica para a Copa ainda pendente de aprovação. “O grande problema que temos no Brasil é que quase nada avança”, resumiu. Ninguém de bom senso discordaria do mérito da crítica; todos, acertadamente, abominariam a forma.

A reação do governo brasileiro variou do correto – Aldo Rebelo ao cobrar uma retratação de Valcke e recusar-se a recebê-lo – ao grotesco – Marco Aurélio Garcia ao encher o secretário-geral de impropérios tão inadequados quanto a frase que originou a celeuma.

Seria de bom-tom, sim, a Fifa ter uma postura mais respeitosa com o Estado brasileiro. Mas é igualmente necessário que o governo brasileiro passe a tratar o evento com mais seriedade. Faltando 829 dias para o início da Copa, há muito ainda a ser feito.

Comecemos pelos aeroportos. Segundo estudo ainda inédito do Ipea, dos 13 terminais priorizados pelo governo para apoiar a realização da Copa, apenas três – Salvador, Porto Alegre e Manaus – contariam com capacidade razoavelmente adequada. “Nos outros dez aeroportos, o cenário é crítico”, informou o Valor Econômico há um mês.

Só a perspectiva de que se acelerem os investimentos privados no setor, a partir da privatização iniciada no mês passado, é que pode alterar um pouco o quadro. Mas, até agora, apenas três aeroportos foram concedidos: Guarulhos, Brasília e Viracopos. Os demais ainda são uma incógnita.

A capacidade hoteleira do país também é insuficiente, mostrou pesquisa recente realizada pelo IBGE. No total, a estrutura existente nas cidades-sedes seria capaz de abrigar pouco mais de 400 mil visitantes, o que pode ser considerado abaixo do potencial previsto para a Copa e, no caso específico do Rio, também para as Olimpíadas – também São Paulo e Brasília têm situação mais crítica.

Mas são as obras de mobilidade urbana que fornecem o exemplo mais eloquente da incapacidade do governo petista de produzir benefícios duradouros para a população. De 46 projetos, 19 não cumpriram o calendário previsto em setembro e 6 atenderam apenas parcialmente ao cronograma. Outros 14 obedeceram os prazos fixados e 7 são obras que já estavam em andamento e prosseguiram, mostrou o Valor.

Em razão disso, dos R$ 5,3 bilhões reservados pela Caixa – principal agente financeiro desses empreendimentos – para emprestar a estados e municípios que sediarão jogos da Copa apenas R$ 194 milhões, ou 3,7% do total, haviam sido liberados até fins de janeiro, faltando 30 meses para o torneio.

Tamanho deszelo também se nota na construção e reforma de estádios, cujo custo já subiu 21% na comparação com os primeiros orçamentos divulgados pelo governo federal, em janeiro de 2010. A soma já está beirando R$ 7 bilhões, mostrou o Zero Hora no mês passado. Com tanto descalabro, ninguém faz ideia de quanto a realização da Copa no Brasil custará.

O Brasil tem chance de dar a Jérôme Valcke respostas à altura. Desde que saia do terreno improdutivo da retórica e passe às ações. A Copa não deixará legados à base de saliva, mas, sim, à custa de muito trabalho e esforço. O país continua, porém, dando toquinho de lado e canelada.

(Fonte: ITV)

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5 março, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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