Pasta irrelevante


Governo usa Ministério da Pesca como moeda de barganha política, criticam deputados

A nomeação do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para o Ministério da Pesca evidenciou a irrelevância do órgão, inclusive aos olhos do governo federal. Na avaliação de deputados do PSDB, as sucessivas trocas mostram que o Planalto encara a pasta como mera moeda de troca. Em nota oficial, a presidente Dilma admite que o objetivo da nomeação é dar espaço ao partido na Esplanada. Tucanos voltaram a defender a proposta de reengenharia da máquina pública, com a extinção do órgão.

“Apesar do meu respeito ao Crivella, o que enxergamos nisso tudo é uma despreocupação com a gestão e interesse apenas em se arranjar politicamente para manter o condomínio de poder do PT”, disse o 1º vice líder do PSDB na Câmara, César Colnago (ES). Segundo ele, é possível que a escolha tenha sido motivada pelos atritos entre ministros e a comunidade evangélica. Como o senador é uma forte liderança do segmento, o Executivo estaria usando o cargo para se retratar com os religiosos.

Play
baixe aqui

“Trata-se de uma atitude atrasada e degradante. Com certeza estão pensando em eleições e não em gestão eficiente do Estado. É uma esperteza política”, apontou. A imprensa também levanta a hipótese de que o espaço concedido ao PRB teria em vista um possível segundo turno na disputa pela prefeitura de São Paulo.

Para Colnago, a utilidade da Pesca é mais uma vez colocada em xeque. “O PT confunde a necessidade de políticas setoriais, que no caso do setor precisa existir uma muito bem elaborada, com espaços de poder para fazer barganha. A proposta do PSDB é ter um Estado forte e eficiente que não sofra de gigantismo sem conseguir andar”, afirmou, ao defender a extinção do órgão.

De acordo com Alfredo Kaefer (PR), o ideal seria transformar a pasta, que possui 370 cargos de confiança, em uma secretaria especial subordinada ao Ministério da Agricultura, como era no início do governo Lula, com 161 cargos. “Ministério da Pesca? O que é isso?”, ironizou o tucano. “Para começo de conversa, nem faz sentido a existência desse órgão. Deveria haver uma subdivisão na Agricultura, como sempre foi”, completou.

Nota oficial divulgada pelo Planalto justifica que a mudança “permite a incorporação ao gabinete de um importante partido aliado do governo”. Crivella admitiu hoje (1º) em entrevista à rádio “Estadão ESPN” não ter intimidade com a área. O novo ministro disse que precisará de um “intensivão” sobre a pesca e entregou: “não sei colocar uma minhoca no anzol”. Já em entrevista ao site de “Veja”, afirmou que estreitará a relação entre o governo e a igreja evangélica.

“Essa mudança de ministro foi para atrair uma parcela da sociedade por causa de questão religiosa. Colocaram alguém que diz nunca ter pegado um peixe na mão. Isso é gestão? Não. A presidente terá que fazer uma guinada se quiser mudar esse país”, apontou Vaz de Lima (SP).

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Antonio Cruz/ABr/ Áudio: Elyvio Blower)

Compartilhe:
1 março, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *