Conivência com falcatruas


Ao preservar Orlando Silva, atual presidente adota padrão de conduta do antecessor

Os escândalos no Ministério do Esporte marcam uma importante mudança na atitude de Dilma Rousseff: ela passou a adotar o padrão Lula de conduta, de conivência com as falcatruas. A análise consta na Carta de Mobilização Política desta terça-feira (25). “Nas crises anteriores, a presidente agiu a reboque da imprensa, mas agiu. Fez a sua faxina de mentirinha, afastando ministros e subordinados. Agora, nem isso: mesmo com a avalanche de denúncias, Orlando Silva e seus auxiliares não foram perturbados. Pelo menos por ora”, diz o documento do Instituto Teotonio Vilela. Leia a íntegra abaixo:

Orlando Silva está próximo de ser o quinto ministro da atual gestão a cair por envolvimento em corrupção. Mas o episódio das irregularidades no Ministério do Esporte marca uma importante mudança na atitude da presidente Dilma Rousseff: ela passou a adotar o padrão Lula de conduta, de imensa conivência com as falcatruas.

Nas crises anteriores, a presidente agiu a reboque da imprensa, mas agiu. Fez a sua faxina de mentirinha, afastando os quatro ministros envolvidos em escândalos e alguns de seus subordinados. Agora, nem isso: mesmo com a avalanche de denúncias de corrupção, Silva continua onde estava e nenhum de seus auxiliares foi perturbado. Pelo menos por ora.

Noticia-se que a interferência de Lula tem sido fundamental para manter o ministro do PCdoB no cargo. A onipresença do padrinho no governo da pupila soa incômoda até para observadores mais isentos. Ontem, o ex e a atual presidente viajaram juntos a Manaus e despacharam durante as mais de 2h40 do voo. Nunca se viu tamanha interação.

“Diferentemente do habitual, a presidente dedicou todo o seu tempo e sua atenção a Lula, e não conversou com nenhum dos ministros convidados a acompanhá-la. Mesmo depois de o avião aterrissar, a comitiva que a aguardava no aeroporto, incluindo o governador Omar Aziz, ainda teve que esperar cerca de 20 minutos, até que o encontro reservado terminasse”, relata O Estado de S.Paulo.

Mas mesmo Lula parece estar se dando conta de que apostou no cavalo errado. Ele jogou suas fichas na hipótese de uma virada de semana sem novas revelações, o que colaboraria para esfriar o assunto. Mas a enxurrada de irregularidades não cessou e Lula agora ensaia tirar o time de campo e o apoio que deu a Orlando Silva e ao PCdoB.

“Não tenho mais convicção de nada. Esses caras não me falam a verdade”, teria dito o ex-presidente a Dilma, segundo o Estadão. “Ele não resistiria a mais uma denúncia nova”, teria retrucado a presidente, de acordo com relato d’O Globo. Não há “casca dura” que resista a tanta mutreta…

Se a preocupação é com novas irregularidades, tem coisa grossa nos jornais de hoje. A começar pela revelação da Folha de S.Paulo de que Orlando Silva envolveu-se diretamente em uma medida que beneficiou a ONG do policial militar João Dias Ferreira, o mesmo que ele agora chama de “bandido”.

Em julho de 2006, Silva assinou despacho que reduziu o valor que a ONG precisava dar como contrapartida para receber verbas do governo. “A medida foi autorizada mesmo depois de auditorias internas terem apontado os primeiros indícios de fraude nos negócios do policial com o ministério”, informa o jornal.

A Associação João Dias teve de se comprometer com uma contrapartida de apenas 6% do valor do convênio, quando o manual de conduta adotado pelo ministério para casos similares exigia entre 10% e 20%. A decisão partiu do próprio ministro, embora ele argumente agora que seguiu instruções técnicas – que inexistem nos documentos do processo.

O policial vem sendo autor das principais denúncias contra o ministro, mas promete não ficar sozinho. Ontem, ele anunciou que um grupo de 20 ONG se organiza para vir a público revelar como foram usadas pelo Ministério do Esporte para desviar dinheiro para campanhas do PCdoB e de aliados, como a da reeleição de Lula em 2006. Pelo menos 20% da verba de convênios firmados com 300 entidades teria sido desviada, coisa de pelo menos R$ 40 milhões.

O dinheiro que escorre pelos ralos da corrupção é o mesmo que falta para tocar obras importantes como o Centro de Treinamento de Esportes de Alto Rendimento de Campos do Jordão. Prometido para 2007, serve hoje de pasto para cavalos e cabras, embora já tenha consumido R$ 1,37 milhão de verbas públicas, como mostra O Estado de S.Paulo em manchete. Praticamente paralisada há quatro anos, está longe de ficar pronta.

Até agora, Orlando Silva resistiu no cargo pelas “piores razões”, como aponta Dora Kramer no Estadão: “Pelos defeitos de um sistema torto e viciado. De uma sistemática de alianças que captura as melhores intenções que porventura tenha um governante para torná-lo refém (na hipótese mais generosa) de uma lógica, em si, corrupta”.

Mas tudo indica que o tempo dele também chegou. O Valor Econômico afirma hoje que Dilma “abriu negociações com o PCdoB para a substituição de Orlando Silva”. “Emissários de Dilma já tratam do assunto com integrantes da cúpula do partido, apesar de em público a legenda ainda manter o apoio político ao ministro”.

Motivos para trocar o ministro, a presidente tem de sobra. Mas o que se espera é que a possível saída de Silva não sirva apenas para permitir que tudo mude para tudo continuar como está, com a máquina pública sendo tratada como um imenso latifúndio de porteira fechada pelos partidos que, junto e sob as ordens do PT, desgovernam o país.

(Fonte: ITV/ Foto: Roosewelt Pinheiro – ABr)

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25 outubro, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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