Mais é menos


Cenário previsto pelo Banco Central de baixo crescimento e elevada inflação é “o pior dos mundos”, avalia ITV

O Banco Central oficializou ontem o que só o governo ainda não havia admitido: o país caminha para crescer menos, num ambiente de mais inflação. “É o pior dos mundos”, avalia a Carta de Formulação e Mobilização Política desta sexta-feira (30). “Corremos o risco de abrir mão da estabilidade da moeda, desorganizar a economia e ainda por cima ver o PIB naufragar. A turbulência mundial pode e deve ser aproveitada para baixar os juros brasileiros, mas é inaceitável que isso se dê pondo a estabilidade monetária sob ameaça”, destaca o órgão de estudos políticos do PSDB. Como lembra o ITV, mais inflação é sempre menos desenvolvimento. Leia abaixo a íntegra:

O Banco Central oficializou ontem o que só o governo ainda não havia admitido: o país caminha para crescer menos, num ambiente de mais inflação. É o pior dos mundos. Corre-se hoje o risco de abrir mão da estabilidade da moeda, desorganizar a economia e ainda por cima ver o PIB naufragar.

Segundo o “Relatório de Inflação” divulgado ontem pelo BC, a inflação deste ano deve atingir 6,4% e o PIB deve crescer apenas 3,5%, menos da metade do resultado de 2010. Há três meses, as previsões eram de 5,8% para a evolução dos preços e de 4% para a expansão econômica.

Mesmo assim, há alta probabilidade de o cenário ser um pouco pior. O próprio BC calcula em 45% as chances de a inflação furar o teto da meta estipulada para este ano, de 6,5%. Analistas de mercado já dão de barato que isso acontecerá, segundo a edição do Boletim Focus desta semana.

As autoridades do governo dizem que a inflação voltará para a meta em 2013. É mera futurologia. Previsões furadas são praxe entre os porta-vozes oficiais. A depender, por exemplo, do que dizia Guido Mantega, a inflação teria caído entre março e abril e novamente agora em setembro. Aconteceu justamente o contrário.

Ontem também foi divulgado o IGP-M de setembro. A chamada “inflação do aluguel” subiu bastante em relação a agosto e acumula alta de 7,5% em 12 meses. O que mais encareceu no mês foram as matérias-primas, cujos reajustes acabam logo, logo batendo também nos preços ao consumidor.

Quem entende do assunto diz que os resultados do IGP-M indicam que a escalada do dólar começou a impactar os custos no país. Neste mês, a moeda americana valorizou-se 15%, mas só parte da alta está refletida no cenário traçado pelo BC para a inflação. É mais um fator a sugerir que o comportamento dos preços pode ser ainda pior do que o previsto no relatório divulgado ontem.

O Banco Central fia-se na crise internacional para sustentar que a inflação brasileira não sairá do controle. Com base nesta crença, a autoridade monetária já antecipa que a taxa básica de juros deve ser reduzida nos próximos meses.

Mas a inflação brasileira já é hoje uma das maiores do mundo, segundo o G1. Entre economias de porte similar ao nosso, ela perde apenas para Índia e Rússia, ainda assim por estreita margem.

Admitir uma inflação mais alta pode acabar sendo uma forma, nefasta, de atingir uma das principais promessas de Dilma Rousseff: diminuir os juros reais no país a algo em torno de 2% ao ano. Com os preços subindo e a taxa básica caindo na marra, fica até fácil alcançá-la, mas o país perde sua maior conquista: a moeda estável.

“Se alguém perguntar se o governo ainda leva a sério o regime de metas, a questão será pertinente”, provoca O Estado de S.Paulo em editorial. “O BC já não olha mais para a meta da inflação, mas sim para a meta de reduzir juros”, responde Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, a O Globo.

Uma forma bem mais saudável de permitir a queda dos juros seria aumentar o esforço fiscal. Mas também nisso os últimos resultados são negativos: o superávit de agosto foi o pior para o mês desde 2003. Os investimentos públicos estão estagnados, enquanto as despesas de custeio subiram 11,8% em relação aos oito primeiros meses de 2010.

O dado positivo é que, diferentemente do que aconteceu na crise de 2008/2009, a turbulência de agora possa ser aproveitada pelo governo para normalizar a exótica situação dos juros brasileiros, ainda os mais altos do mundo. Mas é péssimo – para não dizer inaceitável – que isso se dê pondo em risco a estabilidade da nossa moeda. Mais inflação é menos crescimento e desenvolvimento.

(Fonte: ITV)

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30 setembro, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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