Educação reprovada


Não dá para ficar satisfeito com a leve melhora das notas médias do Enem de 2010, avalia ITV

Ao contrário da presidente Dilma, que ficou satisfeita com os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Instituto Teotônio Vilela avalia que a leva melhora das notas médias é insuficiente diante dos desafios do país nesta área. Como destaca a carta de conjuntura desta terça-feira (13), a meta perseguida pelo governo federal equivale ao patamar observado nos países desenvolvidos no início do século, ou seja, na melhor das hipóteses estamos pelo menos duas décadas atrasados. “O país precisa elevar considerável e rapidamente a qualidade do ensino oferecido em sala de aula, passo seguinte ao avanço que foi ter colocado todas as crianças na escola”, cobra o ITV. Leia abaixo a íntegra do documento:

Não dá para ficar satisfeito com a microscópica melhora das notas médias do Enem de 2010 divulgadas pelo governo federal. Os resultados confirmam a lentidão da evolução do ensino no país e o abismo que nos separa das nações que encontraram na melhor formação educacional de suas crianças e jovens um caminho para o desenvolvimento.

O Ministério da Educação comemorou o fato de a nota média nas provas objetivas – únicas nas quais é possível fazer comparações entre um exame e outro – ter passado de 501,58 para 511,21 pontos entre 2009 e 2010. Seria o mesmo que um pai ficar satisfeito em saber que, ao invés de ser reprovado com nota igual a 50, o filho tomou bomba tendo obtido média de 51.

Fernando Haddad disse que a evolução, equivalente a uma melhora de menos de 2% de um ano para o outro, “está dentro do esperado”. Só se for para ele. O que a sociedade brasileira espera do governo é que acelere este processo e não que fique a observá-lo avançar a passos de cágado.

Numa pontuação que vai de 0 a 1.000, o MEC fixou como meta atingir a média de 600 até 2028. Se a evolução verificada no ano passado se repetir, o objetivo poderá ser alcançado antes, em uma década. Ocorre que o alvo perseguido pelo governo equivale ao patamar observado nos países desenvolvidos em 2003, ou seja, na melhor das hipóteses estamos pelo menos duas décadas atrasados.

Mesmo com a ligeira melhora na nota média, o quadro geral é desalentador. A maior parte dos estudantes (53%) teve nota abaixo da média global (553,73 pontos), que considera tanto o desempenho nas provas objetivas quanto na redação.

Na rede pública, a proporção é alarmante: oito em cada dez escolas ficaram aquém da média geral do Enem. Nas particulares, foram 8%, ou menos de uma em cada dez. Em números absolutos, aparecem nesta situação 8.926 estabelecimentos da rede estatal e 397 da particular.

O Enem repisa um problema que já vem sendo verificado em outras avaliações como o Ideb, o Pisa, a Prova ABC, a Prova Brasil: o fosso que separa a qualidade do ensino na rede privada daquele que é oferecido nas escolas públicas.

Das 20 escolas com maiores médias, 18 são privadas e as duas públicas são vinculadas a universidades federais. Na outra ponta, entre as mil escolas com piores médias, 995 são públicas e apenas cinco privadas, mostrou O Globo no domingo.

A defasagem pode ser medida em anos de estudo. Segundo o professor Ocimar Munhoz Alavarse, da USP, ouvido também por O Globo, os alunos do ensino médio público teriam de estudar mais dois anos para alcançar os colegas da rede particular de ensino. Em termos qualitativos, equivale ao estudante deixar o ensino médio com apenas a formação do fundamental.

Diante do quadro, não espanta que também a formação de nível superior no Brasil exiba um estado de penúria. Relatório da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) a ser divulgado hoje mostra que o Brasil tem apenas 12% da população de 25 a 34 anos de idade com ensino superior. É o menor percentual de uma lista composta por 42 países.

Uma das explicações é que o país gasta mal os recursos destinados à educação – na proposta orçamentária de 2012, R$ 69 bilhões estão previstos para o MEC. Nas escolas públicas de nível fundamental e médio, a média aqui é de US$ 2.098 ao ano, enquanto o patamar de dispêndios da OCDE é de US$ 8.111. Tal relação inverte-se no ensino superior: o custo do estudante brasileiro é de US$ 11.610, enquanto a média da OCDE é US$ 10.543, mostra a Folha de S.Paulo.

Não é segredo para ninguém que um país só avança no seu nível de desenvolvimento quando joga todas as suas forças na educação. Tome-se, na mesma pesquisa da OCDE, o exemplo do que ocorreu na Coreia: entre uma geração e outra, a média de formandos de nível superior avançou 50 pontos percentuais – enquanto no Brasil aumentou apenas três.

A educação brasileira encontra-se diante do desafio de elevar considerável e rapidamente a qualidade do ensino oferecido em sala de aula, bem como de diminuir a distância entre os que podem e os que não têm como pagar por um bom estudo. É o passo seguinte ao enorme avanço que foi ter colocado todas as crianças na escola, vencido no governo Fernando Henrique.

(Fonte: ITV)

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13 setembro, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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