Deboche com o povo

Defesa de envolvidos no mensalão mostra que impunidade é a marca da administração petista

A defesa apresentada no Supremo Tribunal Federal (STF) por acusados de envolvimento no processo do mensalão acendeu o sinal de alerta. Para os deputados Nelson Marchezan Júnior (RS) e Ricardo Tripoli (SP), as justificativas de diversas pessoas arroladas ao esquema comprovam que a impunidade e as relações promíscuas são marcas da gestão petista. Na tentativa de desviar o foco, alegam inocência e jogam a culpa para outros integrantes da “organização criminosa”, termo definido pela Procuradoria Geral da República.

Conforme o jornal “O Globo”, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, apontado como um dos principais operadores do escândalo de corrupção, afirma ser militante idealista, vítima de uma campanha sensacionalista da imprensa. Ele compara a suposta injustiça que teria sofrido durante a CPI dos Correios à condenação de Jesus Cristo.

“É quase um deboche. Demonstra a prepotência desse partido e desse governo e as relações promíscuas entre poderes, que aumentaram e proliferaram durante a última década no Brasil”, reprova Marchezan. O deputado critica a inércia das autoridades públicas em julgar os participantes do esquema.

Para Tripoli, Delúbio foi infeliz. “Não tem nada que ligue um ao outro. A imprensa não é tonta de acreditar nessas colocações. Ele responde por processo judicial e pretende, com a alegação, diminuir o tempo da pena que deve sofrer”, avaliou. O deputado recorda que os disparos contra a mídia faz parte da estratégia de censurá-la, como vem pregando a sigla.

Em outra justificativa espantosa, o ex-presidente do partido José Genoíno define as acusações como “chiliques” do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), delator do mensalão, e atribui os empréstimos tomados pelo PT ao “caos financeiro” da legenda. Segundo a matéria, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu também se diz inocente e argumentou que, na época das denúncias, estava no governo e não interferia nas questões da agremiação.

Marchezan acrescenta que o mensalão é um péssimo exemplo. “Temos várias provas, vídeos, gravações e documentos mostrando o processo de desvio de recursos, mas não tivemos nenhuma penalização ainda dessas pessoas”, alerta. Na opinião dele, pior ainda é observar os petistas se sentirem injustiçados. “Isso revela que a impunidade no Brasil ainda vigora para alguns.”

Poderoso esquema de corrupção

→ O mensalão é descrito pelo Ministério Público Federal como um esquema que desviava dinheiro público para a compra de apoio político, com o objetivo de garantir continuidade do projeto de poder do PT. Este foi o maior escândalo na política brasileira nos últimos anos.

→ Os 38 acusados no processo encaminharam suas defesas ao Supremo Tribunal Federal até a última quinta-feira (08). O caso deverá ser julgado pelo STF no primeiro semestre de 2012;

→ De acordo com a denúncia, o núcleo principal da quadrilha era composto por Delúbio, Genoíno, o ex-ministro José Dirceu e o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira. O objetivo seria negociar apoio político, pagar dívidas do PT e custear gastos de campanha e outras despesas do partido e de aliados.

(Reportagem: Laize Andrade / Fotos: Paula Sholl / Áudio: Elyvio Blower)