Ministério insensível


Limitar acesso a remédio para tratamento do câncer é inaceitável e desumano, afirmam deputados

Médicos, os deputados Raimundo Gomes de Matos (CE) e César Colnago (ES) classificaram de “absurdo” o Ministério da Saúde limitar acesso a remédio para tratamento de câncer. Reportagem do jornal “Folha de S. Paulo” desta sexta-feira (9) mostra que a pasta está limitando o número de pacientes com leucemia mieloide crônica que terão direito a drogas mais caras para tratar a doença. Os tucanos consideraram lamentável e desumano o governo federal agir dessa forma.

Na semana passada, o hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) recebeu uma lista do ministério vetando, nominalmente, 14 pacientes de continuar recebendo a medicação. Indignado com a situação, um professor da universidade resumiu a situação: “É uma ‘lista de Schindler’ às avessas. Sem esses medicamentos, esses pacientes morrem”, alertou.

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Na avaliação de Colnago, o governo tem que rever sua posição, pois a situação é inadmissível. “É um absurdo, pois o Sistema Único de Saúde garante esse medicamento aos pacientes. O governo tem tantos gastos supérfluos com cargo comissionado, viagens, diárias, cartão corporativo, sem contar os desvios, e na hora de ajudar quem precisa faz isso. É uma falta de responsabilidade social”, reprovou.

A polêmica vem desde julho, quando passou a vigorar uma nova portaria do ministério que limitou em 15% a taxa de doentes com direito a receber drogas chamadas de segunda linha – única opção para aqueles que não respondem ao tratamento com as de primeira linha. Os medicamentos de primeira linha são usados por pacientes no período inicial da leucemia. Com o tempo, é comum o organismo ficar resistente à droga. A solução, então, é recorrer ao tratamento de segunda linha.

Gomes de Matos, por sua vez, lamentou o fato de o governo petista só falar em saúde quando o assunto é cobrar mais imposto do cidadão. “É triste vermos vários pacientes até morrerem por precisarem do uso contínuo do remédio e não terem acesso. Às vezes um paciente precisa entrar na Justiça para poder ter o direito ao medicamento”, lamentou. “O governo não age de forma lógica, pois se esse paciente fica sem tomar o remédio por dois dias, por exemplo, o quadro clínico piora. Logo, vai sair mais caro, já que ele voltará a se internar, as vezes até ficar na UTI, demandando mais investimento. Há uma incoerência”, acrescentou.

Números controversos
→ O ministério diz que uma auditoria constatou que 10% dos pacientes com esse tipo de leucemia precisam de drogas de segunda linha. Os hospitais dizem que o índice de pacientes com essas características varia de 20% a 35%. Na Unicamp, por exemplo, é de 27%. No Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) e na Santa Casa de São Paulo, de 19%.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Ag. Câmara e Paula Sholl/Áudio: Elyvio Blower)

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9 setembro, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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