Voos suspeitos

Utilização de jatinhos de empresas por ministros é “promiscuidade entre o público e o privado”

Os deputados William Dib (SP) e João Campos (GO) reprovaram nesta terça-feira (23) o uso de jatinhos de empresas por ministros, seja para uso particular ou vistoria de obras do governo. Os tucanos lamentaram que essa conduta tenha se tornado comum entre autoridades e afirmaram que se trata de uma “promiscuidade entre a iniciativa privada e o poder público”.

O atual ministro dos Transportes, Paulo Passos, inspecionou a Transnordestina com um avião da companhia que constrói a ferrovia. A viagem ocorreu em 2010, quando ele era secretário-executivo da pasta. O órgão justifica que o trajeto, citado pela revista “Época”, ocorreu porque aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) não operam em Salgueiro (PE). Já o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, usou aeronave da empreiteira Sanches Tripoloni, que faz obras públicas e financiou campanha da sua esposa, a ministra Gleisi Hoffmann.

Dib acredita que um servidor público deve seguir a lei, a ética e a moral. “É uma promiscuidade entre o público e o privado.  Quando o número um do primeiro escalão se submete a esse tipo de coisa, qual exemplo ele vai dar para o restante dos funcionários?”, questionou.

Nos últimos 40 dias, a revista “Época” perguntou quatro vezes a Paulo Bernardo sobre suas eventuais viagens em um avião particular quando exercia o cargo de ministro do Planejamento no governo Lula, mas ele não respondeu. Para Dib, isso mostra que o ministro não tem compromisso com a verdade.

João Campos, por sua vez, ressaltou que a promiscuidade cria um ambiente propício para a corrupção. “Isso merece a reprovação da sociedade e a atuação firme do Parlamento para fazer a devida apuração”, disse. Por isso, a oposição está batalhando pela CPI da Corrupção. “Temos que investigar todos os fatos que envolvem escândalos. O governo está doente. É como se fosse um organismo cheio de tumores”, finalizou.

Outro caso que envolve esse tipo de conduta resultou na demissão, semana passada, do ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Ele viajou em um jatinho de uma empresa beneficiada por decisões do ministério.

Vistoria de obras

→ A revista “Época” perguntou a 30 ministros da presidente Dilma se eles já viajaram em algum jato particular desde que assumiram seus cargos. Dos contactados, 28 responderam prontamente que não. O ministro dos Transportes, Paulo Passos, informou que já teve de usar aviões privados para vistoriar obras de sua pasta localizadas em áreas remotas, aonde aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) não tinham como chegar. O ministro das Cidades, Mario Negromonte, deputado federal eleito pela Bahia, disse que freta, por sua conta, aviões particulares para chegar a determinadas cidades de sua base eleitoral.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Paula Sholl/ Áudio: Elyvio Blower)