A crise americana, a Europa e o Brasil no meio do mundo, por Marcus Pestana


O mundo inteiro acompanhou o dramático desenrolar das negociações do presidente Obama com o Congresso norte-americano, visando à ampliação do teto de endividamento do governo dos EUA. O desenvolvimento da maior economia do planeta tem se ancorado em enormes déficits fiscais e comerciais, que resultam num crescimento acelerado da dívida pública, que bateu nos 100% do PIB. Os efeitos de uma moratória americana seriam imprevisíveis. Afinal, o combalido dólar ainda é a moeda de referência da economia global. A desconfiança generalizada sobre a capacidade de pagamento dos EUA poderia desencadear um movimento de pânico de resultados inimagináveis. No mundo globalizado, de mercados financeiros integrados, a quebra de confiança na nação líder teria efeitos violentos na retração da economia mundial e do comércio internacional.

Para agravar, a Europa atravessa profunda crise, sem perspectivas de recuperação imediata. A crise arrastou Grécia e Irlanda, invadiu Portugal e Espanha. A próxima vítima pode ser a Itália. Déficits fiscais insustentáveis, taxas de crescimento medíocres, desemprego nas alturas e lideranças políticas fragilizadas para promover verdadeiras reformas formam um quadro explosivo.

A crise dos nossos dias tem características peculiares. Assim como a de 1929 e diferente das décadas de 1980 e 1990, começa do centro para a periferia. A velocidade de propagação potencial é muito maior, já que temos uma inédita integração dos mercados e uma possibilidade limitada de políticas nacionais autônomas. Por último, os efeitos da crise mundial sobre países como a China, a Índia e o Brasil, foram menores que no capitalismo central.

Mas não podemos dormir sobre os louros de vitórias provisórias. Uma grande retração na economia mundial, com suas repercussões no comércio internacional e no fluxo de capitais, pode resultar em efeitos que seguramente não serão meras marolinhas.

E o Brasil dentro desse mundo em crise? Temos aspectos positivos. A economia brasileira se reestruturou após o Plano Real. Temos reservas e somos o quinto país que mais recebe investimentos estrangeiros. Temos uma balança comercial positiva e uma inflação razoavelmente sob controle. Mas nem tudo são flores. Temos a maior taxa de juros real do mundo, que atrai dólares e resulta em moeda extremamente valorizada e em perda de competitividade de nossas exportações. Há uma clara desindustrialização e nossas exportações são sustentadas por produtos primários, que usufruem de preços momentaneamente favoráveis. A equação fiscal ainda é precária e a taxa de investimento baixíssima. Uma grave retração do comércio internacional e do fluxo de capitais nos colocaria em posição delicada. Assistimos à tomada de medidas pontuais, mas as reformas profundas que poderiam desatar os nós do crescimento não têm encontrado apoio suficiente. Ou fazemos o dever de casa, preparando o futuro ou podemos ver escoar pelo ralo as conquistas alcançadas nos últimos 17 anos.

(*) Marcus Pestana e deputado federal pelo PSDB-MG. E-mail: contato@marcuspestana.com.br. Artigo publicado no jornal “O Tempo” em 08/08/11.

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8 agosto, 2011 Artigosblog 1 Commentário »

Uma resposta para “A crise americana, a Europa e o Brasil no meio do mundo, por Marcus Pestana”

  1. Antônio Carlos de Araújo disse:

    Prezado Deputado Marcus Pestana!

    Assistimos uma terrível e avassaladora desindustrialização do nosso país. Com o câmbio atualmente praticado as nossas empresas ficarão sim, totalmente desprotegidas no mercado internacional e não encontrarão forças para superar concorrentes como os da India, Rússia e China principalmente. O nosso país apesar de estar economicamente neste grupo denominado BRICs, somo muitos frágeis e atrasados tecnologicamente. Então vejamos:

    A Rússia é reconhecidamente dominadora do hidrocarboneto, principalmente do gás natural que é o motor da indústria européia mas não se limita a esta comodity, pois é um pais que domina há muito o ciclo do urânio, tem desenvolvimento tecnológico e produz naves espaciais.

    A India é um pais que tem tudo que o Brasil tem, além de ser o maior expoente global do chamado setor de serviço, sendo que o principal motor deste setor é o desenvolvimento e venda de softwares para o mundo.

    A China dispensa comentários, pois um país que cresce a taxas estratosféricas acima de dois dígitos há 20 anos já mostra que não está pra brincadeiras neste cenário competitivo e globalizado. Só para se ter uma idéia eu li recentemente que este país investe 8% do seu PIB em educação ao ano. Estamos falando de US$ 640Bi que é quase metade do PIB brasileiro.

    E o nosso Brasil vendido lá fora pelo marqueteiro Luiz Inácio? Infelizmente não consigo ver nenhum diferencial em relação aos demais BRICs. Estamos a depender de meras aventuras políticas, de um governo sustentado por um partido político, que antes enquanto oposição pregava a ética, lisura e honestidade no trato da coisa pública, porém o que se vê é o oposto de tudo aquilo.

    Eu pergunto senhor deputado: Há espaço para competir com o demais membros do chamado BRICs? Nós, infelizmente não agregamos valores às comodities petróleo, minerais, soja, café, ouro e outros. Tecnologicamente somos atrasados. O que fazemos é muito pouco.

    O pouco recurso de que dispomos é drenado no ralo da corrupção. Vide os recentes escândalos da Casa Civil, Ministério dos Transportes, Ministério da Agricultura e o mais atual Ministério do Turismo quando o segundo homem na estrutura do ministério é algemado e levado para a cadeia.

    Eu não tenho dúvidas que a crise econômica que ora abala o mundo não será uma marolinha em praias brasileiras. Será um avassador tornado.

    Já está na hora da Oposição fazer germinar uma nova semente que realmente correpsonde a expectativa dos Brasileiros que realmente sabem o que quer e como fazer.

    Boa noite.

    Antônio Carlos.

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