Jogo de cena


ITV: visando permanecer no Dnit, Pagot faz show no Senado e cumpre roteiro do Planalto

O diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, cumpriu o roteiro desenhado pelos governistas para depoimento dele no Senado. Recuou e deixou para outra ocasião as críticas que ensaiara na véspera. Na sua carta de formulação política, publicada nesta quarta-feira (13), o Instituto Teotônio Vilela (ITV) afirma que o comportamento pode custa-lhe a permanência no cargo, mesmo depois de ser relacionado a esquema de recebimento de propina no Ministério dos Transportes. “A despeito da folha corrida do órgão nos últimos anos, Pagot levou o que queria”, afirma o documento. Veja íntegra abaixo:

Luiz Antonio Pagot cumpriu ontem o script que os governistas esperavam do depoimento dele no Senado. Pôs a viola das críticas que ensaiara na véspera no saco. Foi tão afinado, que o Planalto já cogita recompensá-lo, mantendo-o no mesmo lugar de onde ele não chegou a sair: a diretoria-geral do Dnit. A despeito da folha corrida do órgão nos últimos anos, Pagot levou o que queria.

Nos últimos dias, Luiz Antonio Pagot dissera coisas graves. Responsabilizara ministros de outras pastas pelo inchaço dos bilionários contratos do Dnit; dissera que quem mandava mesmo no corrompido órgão era o PT; e, por fim, insinuara que parte dos aditivos em obras tocadas pelo Dnit fora “feita para alavancar a candidatura presidencial de Dilma”.

Ontem, ele disse que tudo era “mentira” inventada pela imprensa. Será? A história pregressa de Pagot e do Dnit não indicam que haja exagero nas suspeitas em relação à desvirtuada atuação do órgão sob o comando dele, do PR e do PT. A repartição chefiada por Pagot é considerada há anos a “campeã de irregularidades” da Esplanada dos Ministérios.

Desde que Pagot assumiu o cargo, em fins de 2007, sucedem-se denúncias de desvios, falcatruas e grossa corrupção no Dnit. Relatório do TCU aprovado no ano passado mostra que, de cada dez contratos firmados pelo órgão, quatro têm valores inflados. Em agosto passado, O Globo revelara ocorrências de sobrepreço e superfaturamento por lá, entre outros problemas, que somavam R$ 1,02 bilhão.

Como diretor-geral, Pagot também apelou para artifícios, digamos, “heterodoxos” para fazer seu pessoal no Dnit trabalhar mais. Em 2009, criou um bônus anual para servidores que cumprissem metas fixadas pelo órgão e agilizassem a execução do PAC. O valor poderia chegar a R$ 48.900, mas nem assim conseguiu-se tirar as obras do papel – embora o dinheiro do orçamento tenha continuado a escorrer pelo ralo…

Embora tenha dito ontem que o Dnit está sob estrita vigilância, Pagot nunca gostou muito do controle de órgãos externos. Brigou feiamente com o Ibama para derrubar precauções ambientais impostas a suas obras viárias. Estrilou contra o TCU e contra a Comissão Mista de Orçamento do Congresso – como neste artigo publicado em agosto de 2009 no Estadão.

Mesmo com pífia atuação à frente do Dnit, Pagot poderá agora ser mantido no cargo que já ocupa há quase quatro anos. Segundo O Estado de S.Paulo, “o Palácio do Planalto avalia que foi precipitado tirar Luiz Antonio Pagot da diretoria-geral do Dnit e procura uma ‘saída honrosa’ para ele”.

Vale lembrar que, para continuar onde está, Pagot peitou a presidente da República, que, há onze dias, num sábado, anunciou que o afastaria do cargo devido a suspeitas de corrupção veiculadas pela revista Veja. Ele despachou normalmente na segunda-feira seguinte e depois tirou férias. Espera voltar a seu gabinete em 5 de agosto.

O que poderia explicar tamanha desenvoltura? Vale reproduzir aqui nota divulgada no ‘Painel’ da Folha de S.Paulo de 5 de abril de 2009: “Está decidido que Luiz Antonio Pagot não disputará a sucessão do padrinho Blairo Maggi em Mato Grosso. O diretor-geral do Dnit, órgão que faz obras nas estradas, cumprirá missão estratégica na campanha de Dilma.”

Será a “missão estratégica” a mesma que levou aos aditivos contratuais “para alavancar a candidatura presidencial de Dilma” que Pagot citou a interlocutores na semana passada? Ressalte-se que, no Dnit, os aditivos dependem da autorização do único petista na direção do órgão, mostra a Folha hoje: o diretor de Infraestrutura Rodoviária, Hideraldo Caron, filiado ao PT gaúcho e na função desde 2003.

Mais uma pista sobre os dutos subterrâneos que podem unir os negócios tocados pelo Dnit ao submundo da política petista. Finda a eleição do ano passado, Blairo Maggi foi chamado a socorrer os cofres da candidata vitoriosa. Aportou R$ 1 milhão para ajudar a saldar o rombo de R$ 22,7 milhões deixado pela campanha de Dilma. Mas não foi só ele.

Sob articulação do PR, os três proprietários da construtora Sanches Tripoloni (Paulo Francisco, Antonio e João) também doaram outro milhão de reais ao comitê financeiro nacional do PT em novembro passado. Ontem, a Folha de S.Paulo revelou que a empreiteira, de Maringá (PR), aumentou em 1.273% os recursos recebidos do Dnit nos últimos seis anos, saltando de R$ 20 milhões em 2004 para R$ 267 milhões em 2010.

Luiz Antonio Pagot pode ter se livrado de dar explicações no Senado, mas terá de passar por nova rodada de esclarecimentos hoje na Câmara. A primeira parte do produto ele entregou. O governo aguarda, ansioso, a segunda parcela para dar-lhe como pagamento a manutenção do comando de um orçamento anual de R$ 10,3 bilhões. O show tem que continuar.

(Fonte: ITV)

Compartilhe:
13 julho, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *