Questões em aberto


Enriquecimento de petista pode estar ligado ao sucesso de campanha da presidente, avalia ITV

A queda do braço direito da presidente Dilma Rousseff mostra que ainda há muito a ser investigado no episódio. Essa é a avaliação do Instituto Teotonio Vilela, órgão de estudos políticos do PSDB. “Ele saiu sem abrir a boca sobre o que realmente interessa: por que recebeu tanto dinheiro nos últimos quatro anos? Certamente há muito mais a revelar, com implicações que podem ser muito mais sérias do que a simples demissão de um ministro”, diz o ITV em sua carta de mobilização política desta quarta-feira (8). Para o ITV, o enriquecimento do “consultor” e o sucesso eleitoral de Dilma Rousseff podem estar umbilicalmente ligados. Leia abaixo a íntegra.

Com menos de seis meses de existência, o governo Dilma Rousseff enfrentou sua primeira crise braba. E não foi pouca coisa, posto que resultou na queda de seu principal ministro, o futuro novamente consultor Antonio Palocci. O desfecho mostra que ainda há muito a ser investigado no episódio. A história está apenas começando.

Há fundadas suspeitas de que o enriquecimento de Palocci esteja umbilicalmente ligado ao sucesso eleitoral de Dilma. O ministro caiu sem explicar a multiplicação de seu patrimônio no interregno dos quatro anos em que acumulou o papel de consultor com os de deputado federal, coordenador de campanha presidencial e chefe do governo de transição da atual presidente. Terá de fazê-lo.

Palocci saiu sem abrir a boca sobre o que realmente interessa: para quem trabalhou como consultor e por que recebeu tanto dinheiro? Certamente tem muito mais a revelar, com implicações que podem ser muito mais sérias do que a simples queda de um ministro. A demissão saiu barata. “É preciso procurar as razões pelas quais Antonio Palocci não conseguiu, ou não pôde, explicar como e por que enriqueceu no exercício da vida pública”, escreve Dora Kramer n’O Estado de S.Paulo.

Temeroso do que investigações mais aprofundadas podem desnudar, o governismo vai tentar dar ares de página virada ao caso Palocci. Não é. A demissão anunciada ontem encerra apenas um capítulo; a história segue e o “the end” ainda está distante. Os esclarecimentos terão de ser dados, seja no Congresso, seja a outros órgãos de controle, como o Ministério Público.

Promotores do MP do Distrito Federal continuam a investigar se Palocci cometeu ato de improbidade administrativa. Terão agora acesso à lista de clientes da Projeto, a empresa do ex-ministro, informações fiscais e bancárias que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que irá lhes enviar. Poderão chegar a conclusão mais abalizada do que a da PGR, que isentou o ex-ministro das suspeitas.

O discurso oficial, com algum amparo na imprensa hoje, também irá buscar dar ares de “recomeço” ao governo Dilma após a saída de Palocci. Qual o quê! Seria aceitar como natural a presidente da República não ter exercido nestes cinco meses a autoridade devida sobre seu governo. Seria chancelar como algo corriqueiro a ascendência que o antecessor exerce sobre ela.

Dilma deve, sim, responder pela equipe que tem, pela linha que adota, pelo governo que há cinco meses faz. Se escolheu Palocci para ser seu braço direito e o manteve sangrando por mais de três semanas sob suspeitas gravíssimas, a responsabilidade é dela. Se aceitou e continua a aceitar a tutela de quem não tem mais a caneta, é porque não demonstra estatura para o cargo para o qual foi eleita.

Parte do noticiário diz que Dilma decidiu tirar Palocci da equipe à revelia dos conselhos de Lula, que preferiria a manutenção dele. O Valor Econômico vai em outra direção: “É certo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi decisivo na definição”, crava o jornal sobre a escolha de Gleisi Hoffmann para ocupar a Casa Civil.

O comportamento exibido por Dilma nos últimos 23 dias corrobora a conclusão. Durante a crise que envolveu seu principal e mais importante ministro, a presidente da República só se manifestou publicamente uma única vez. E nesta única oportunidade foi lastimável: acusou a oposição de fazer “politicagem”, ecoando o discurso emanado de seu tutor.

Isso foi há dez dias. Como nada de novo surgiu contra Palocci desde então, é de se perguntar: por que Dilma aceitou, então, a demissão de seu primeiro-ministro, se as suspeitas de tráfico de influência eram era só “politicagem” de oposicionistas?

A presidente não tinha encarado nenhum problema mais sério até agora e, logo na primeira crise, mostrou fragilidade e pouca autoridade para enfrentar adversidades. Saiu do episódio bem menor do que entrou, mais flagrantemente dependente de outrem e mais sem luz própria do que se havia podido supor até aqui.

Antonio Palocci foi o terceiro dos quatro ministros que ocuparam a Casa Civil, o mais importante ministério da Esplanada, nos governos petistas a cair envolvido em suspeitas de corrupção – em alguns casos, mais que suspeitas. Há quem queira ver aí uma “maldição”, mas o mais provável é que seja consequência de um modo de conduta. A conclusão é uma só: ainda há muito a investigar.

(Foto: ITV)

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8 junho, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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