Hora da verdade


Situação crítica de Palocci apenas reforça necessidade de uma CPI para investigar enriquecimento

Antonio Palocci teve na sexta-feira excelente oportunidade de explicar por iniciativa própria seu enriquecimento inexplicável. Mas como destaca a Carta de Formulação e Mobilização Política do Instituto Teotônio Vilela nesta segunda-feira (6), o petista não esclareceu rigorosamente nada. “Chegou a hora, portanto, de manifestar-se onde de direito: no Congresso”, cobra o órgão de estudos políticos do PSDB. “Na promíscua relação que estabeleceu entre interesses públicos e privados, Palocci fez sua escolha. A sociedade brasileira também fez a dela: quer vê-lo longe do governo. Não há boa fé que dê jeito”, completa o documento, cuja íntegra está disponível abaixo.

Depois de 19 dias de silêncio, Antonio Palocci teve na sexta-feira excelente oportunidade de se explicar por iniciativa própria. Ocupou 15 minutos do telejornal de maior audiência no país para falar sobre seu enriquecimento faraônico. Também concedeu extensa entrevista publicada no dia seguinte pela Folha de S.Paulo. Em ambas as ocasiões, porém, não esclareceu rigorosamente nada. Chegou a hora, portanto, de explicar-se onde de direito: no Congresso, provavelmente já fora do cargo que ainda ocupa.

Palocci preferiu jurar e honrar lealdade aos que lhe pagaram fortunas durante os anos em que dividiu seu tempo entre o cumprimento do mandato de deputado federal eleito por São Paulo e a concessão de “consultorias”. Desdenha da obrigação de ser transparente, em especial, com quem hoje lhe paga o salário: a sociedade brasileira. Não merece, pois, o cargo público que ainda ocupa.

O ainda ministro não rasga dinheiro. Sabe que seu futuro no governo está selado: a presidente Dilma Rousseff terá de demiti-lo. Aguarda apenas a melhor oportunidade para fazê-lo, provavelmente após a manifestação do procurador-geral da República. Ah, e não sem antes ouvir seu tutor, o ex-presidente Lula, conforme a Folha de ontem…

É difícil achar quem aposte numa sobrevida que vá além desta semana. Desempregado, Palocci voltará, docemente constrangido, para os braços privados. Seu passe provavelmente será menor desta vez do que foi no passado, mas continuará valorizado. Cairá da condição de “Pelé”, na visão de Lula, para um, digamos, Petkovic.

Como seu partido ainda tem mais três anos e meio pela frente no poder, Palocci terá um radiante futuro de “consultorias” pela frente. Por isso, prefere afundar calado a dizer o nome de seus clientes escorados em “cláusulas de confidencialidade”. Não matará a galinha dos ovos de ouro que lhe rendeu um patrimônio de pelo menos R$ 20 milhões e o passaporte para uma vida de padrão nababesco.

A situação a que chegou Palocci reforça a convicção pela instalação de uma CPI para investigar o episódio. Trata-se do principal ministro do atual governo, que coordenou a campanha vitoriosa da atual presidente enquanto fazia milionários negócios com banqueiros, industriais, empresários de todo o tipo. Quais destes interesses terão sido traficados para dentro do aparelho estatal? Quais ainda estão encastelados lá?

Nas duas entrevistas de sexta-feira, Palocci repetiu à exaustão que as informações que poderiam dirimir as principais dúvidas – para quem trabalhou, quanto recebeu, se atendeu estes clientes também na condição de ministro, se praticou tráfico de influência – estão à disposição dos órgãos de fiscalização e controle.

Pois bem, o Congresso é um destes órgãos. Basta que mais oito senadores aponham sua assinatura no requerimento pela criação da CPI. Ou, antes disto, basta que a bancada governista não atropele a decisão tomada na semana passada na Comissão de Agricultura da Câmara e mantenha a convocação do ministro para que ele tenha uma excelente oportunidade de explicar-se melhor e de uma vez por todos. Basta querer.

Num dos trechos mais emblemáticos da entrevista dada ao Jornal Nacional, Palocci conclamou os milhões que o assistiam a ter “boa fé” e acreditar que seus contratantes não obtiveram nenhuma benesse do Estado petista, nem ele se aproveitou disso. “Não há nada mais difícil de se provar do que aquilo que você não fez”, disse ele.

Palocci tem razão: não há nada mais difícil de provar do que aquilo que não se fez, como consultorias das quais não se viu até hoje um mísero papelucho, o menor rascunho, uma única foto, uma reles apresentação de powerpoint. Os conselhos que o ministro admitiu ter dado são tidos como triviais no mercado. A mercadoria que ele entregava era de outra natureza.

Pela história pregressa, Antonio Palocci não dispõe do benefício da dúvida que cercam os homens de boa fé. Devassou a vida privada de um caseiro de uma residência brasiliense onde, como ministro da Fazenda, regozijava-se com amigos ribeirão-pretanos. Tudo por causa de um depósito de R$ 24 mil, ou quase mil vezes menos do que ele insistir em omitir agora.

Nas avaliações correntes, as entrevistas de sexta-feira teriam servido como ato final de Palocci no governo. Mais ainda, tiveram o objetivo principal de livrar a cara da presidente da República. Segundo o ministro, Dilma não foi informada sobre coisinhas insignificantes como uma empresa de um homem só que faturava mais do que firmas de porte. Assim, ela poderá repetir, como seu tutor, que “não sabia” de nada.

Demitindo Palocci ou não, a presidente sai do episódio que mina seu governo há três semanas muito menor do que entrou. Mostrou-se incapaz de contornar adversidades, foi absurdamente inábil no age da crise – quando ameaçou demitir os ministros do partido que lhe garante a mais canina, ainda que interesseira, fidelidade no Congresso – e curvou-se às ordens de seu tutor. A julgar pelos auxiliares que escolhe para ter por perto, como Palocci e Erenice Guerra, Dilma Rousseff também está se revelando uma péssima gestora.

Aguarda-se para as próximas horas a decisão que Lula – ops, Dilma – irá tomar sobre o destino de Palocci. Já não importa. Para a opinião pública, ele já caiu faz tempo. Na promíscua relação que estabeleceu entre interesses públicos e privados, Palocci fez sua escolha. A sociedade brasileira também fez a dela: quer vê-lo longe do poder público. E rápido.

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6 junho, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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