Mistério continua


Deputados voltam a cobrar esclarecimentos sobre a evolução patrimonial milionária de Palocci

Duas semanas depois de a imprensa revelar a multiplicação do patrimônio do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, muitas perguntas continuam sem resposta, na avaliação de parlamentares do PSDB. Nesta segunda-feira (30), os tucanos voltaram a cobrar explicações do petista. No documento encaminhado à Procuradoria Geral da República na última sexta-feira (27), o braço direito de Dilma não especificou os clientes para os quais a empresa Projeto prestou “consultoria”. Até o momento, todas as informações sobre as atividades comerciais de Palocci são mantidas em sigilo.

O PSDB continua, nesta semana, a coleta de assinaturas para instalar a CPI Mista e esclarecer o caso. “A cada dia, novos fatos. E até agora nenhuma explicação ao Congresso e à sociedade. Vamos intensificar a busca pelas assinaturas que faltam para instalar a CPI Mista”, afirmou pelo Twitter, no domingo (29), o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP).

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O deputado Vanderlei Macris (SP) afirmou que a oposição vai insistir na apuração das denúncias. “A cada momento que usa a sua tropa de choque para abafar qualquer iniciativa de esclarecimento das denúncias, o governo se torna coadjuvante dessa farsa e tentativa de acobertar o caso”, ponderou. “A cada dia que passa a suspeita aumenta. A condenação moral do ministro está cada vez mais forte com a ausência de respostas”, completou Macris.

Três empresas assumiram ter recorrido aos serviços da Projeto Consultoria, da qual o ministro da Casa Civil é sócio: o banco Santander, a operadora de saúde Amil e a empreiteira WTorre.  Ao explicar a contratação de Palocci, o dono da WTorre, Walter Torre Júnior, afirmou: “Ele é uma pessoa extremamente influente, com alto grau de conhecimento do mercado financeiro, ex-ministro da Fazenda”.

Para o tucano Fernando Francischini (PR), sem o detalhamento das atividades da empresa, a investigação do Ministério Público é inócua. “Sem o nome das empresas, os valores que cada uma pagou e a informação se elas tinham relação com o governo não existe uma investigação que consiga apurar se o enriquecimento foi lícito ou ilícito”, avaliou.

Além disso, de acordo com a revista “Veja”, o apartamento em que Palocci mora de aluguel tem 640 metros quadrados e fica perto do Parque do Ibirapuera. É cercado por varandas e conta com três salas e quatro suítes – duas com closets e banheira. O condomínio custa R$ 4.600, o IPTU sai por R$ 2.300 mensais e a locação R$ 15 mil. Custo total: R$ 21.900, o equivalente a 83% do salário de ministro. “Chega a ser exorbitante a quantidade de indícios que mostram que é necessária uma investigação por meio de uma CPI mista”, alertou Francischini.

O deputado pelo Paraná condenou ainda a recusa da Controladoria-Geral da União (CGU) de abrir sindicância para investigar o caso, apesar de decreto presidencial que determina a investigação a partir de notícia ou de indícios de enriquecimento ilícito e evolução patrimonial incompatível de agentes públicos. O órgão alega que Palocci não era “agente público” na época em que recebeu os pagamentos feitos à Projeto.

“A CGU é dura com funcionários de baixo escalão. Cento e sessenta e sete funcionários foram demitidos nos últimos anos por enriquecimento ilícito. Mas quando é uma figura de alto escalão, que tem relacionamento político com o governo, o órgão não tem se mexido o suficiente. Isso é muito triste para a democracia: um país onde existem dois pesos e duas medidas”, reprovou.

Da tribuna, o deputado Nelson Marchezan Junior (RS) afirmou que a Câmara não pode se omitir em relação a Palocci, como aconteceu no caso do mensalão com o ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu. O parlamentar defendeu a apuração dos indícios de tráfico de influência. “Penalizar alguém pelo que não fez é uma injustiça. E não penalizar pelo que fez também é uma injustiça. Precisamos de algum esclarecimento, pois podem ter ocorrido diversos crimes com a ajuda de outras pessoas que ocupam cargo público hoje e deveriam vir a público esclarecer”, destacou.

Explicações insuficientes

→ A WTorre doou R$ 1 milhão à campanha presidencial de Dilma Rousseff em 24 de agosto de 2010. Em 10 de setembro, houve outro repasse de R$ 1 milhão. No dia 7 de outubro, a empresa recebeu R$ 9,2 milhões de restituição da Receita Federal.

→ Reportagem da “Folha de S. Paulo” mostrou que o período em que a empresa de consultoria ganhou mais dinheiro, cerca de R$ 10 milhões, foi quando Palocci tinha poder para acessar dados reservados sobre planos de investimentos do governo federal. Metade dos R$ 20 milhões do faturamento da empresa em 2010 se deve ao período entre novembro e dezembro. Nessa época, o petista era deputado federal e coordenava a equipe de transição da campanha de Dilma Rousseff.

(Reportagem: Alessandra Galvão/ Fotos: Eduardo Lacerda e Paula Sholl/Áudio: Elyvio Blower)

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30 maio, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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