Ação inócua


Mobilização de Dilma não livra governo de dar explicações sobre enriquecimento de Palocci

Depois de semanas de imobilismo, Dilma Rousseff programou atividades públicas diárias até sexta-feira com intuito de mostrar trabalho e tentar esquivar-se do caso Palocci. Como destaca a edição desta segunda-feira da Carta de Formulação e Mobilização Política do Instituto Teotonio Vilela, “fica claro que o maior esforço do governo é por escapar de dar as explicações devidas sobre o escândalo, impedir apurações e usar a máquina de propaganda para dar ares de normalidade a uma situação absolutamente anormal”. No entanto, como destaca o órgão de estudos políticos do ITV, não será assim que conseguirá sepultar a crise. Leia abaixo a íntegra do documento:

O governo dá início hoje a um esforço concentrado destinado a demonstrar que está tudo normal no centro do poder. Depois de semanas de imobilismo, Dilma Rousseff programou atividades públicas diárias até sexta-feira com intuito de mostrar trabalho e tentar desviar o foco do enriquecimento de Antonio Palocci. Não será assim que conseguirá escapar de dar as explicações ainda devidas sobre o escândalo e sepultar a crise.

A presidente vai hoje ao Uruguai para uma visita de cinco horas, adiada três vezes desde janeiro, assinar um monte de papéis. Os 14 acordos que a chancelaria brasileira alardeia como justificativa para a visita são absolutamente secundários.

O evento em Montevideo só tem um objetivo: dar oportunidade a Dilma de transferir – por esta enormidade de tempo – o governo para Michel Temer. O que importa é a pose sorridente para os fotógrafos, como o próprio vice-presidente admitiu no sábado.

É a maneira que a presidente imaginou para transmitir ao público a ideia de que a relação com o PMDB está pacificada. Não está. Na semana passada, Dilma ameaçou demitir todos os ministros pemedebistas, levando Temer e Palocci a travarem uma áspera discussão por telefone. Os condôminos se engalfinhavam pelo butim.

A “agenda anticrise” prossegue amanhã com uma reunião com governadores sobre o andamento das obras da Copa do Mundo de 2014, que Dilma prometera realizar tão logo tivesse voltado da China, há um mês e meio. Tudo bem que a pneumonia a tenha impossibilitado de cumprir alguns compromissos, mas há prova mais evidente de paralisia do governo do que o estado de penúria que há meses ronda as obras?

Na quarta-feira, a presidente abrirá espaço na agenda para recepcionar os senadores do PMDB. Divulga-se que discutirá com eles o Código Florestal, que agora tramita no Senado. Mas o objetivo, novamente, é outro: evitar que parte da bancada assine requerimento para a criação da CPI do Palocci. Como? Escancarando, claro, o balcão fisiológico que move as relações entre governo e aliados na era petista.

A lista de compromissos da semana inclui, ainda, o lançamento do programa “Brasil sem Miséria”, apresentado como “vitrine do governo”. É chocante como uma iniciativa que deve ser séria – a de atender os 16 milhões de miseráveis existentes no país – seja tratada como uma simples peça da estratégia de marketing palaciana para fugir da crise. Começando assim, o programa corre risco de ter o mesmo destino do Fome Zero…

Para completar a semana, Dilma lança no Rio mais uma plataforma da Petrobras, a P-56. Seria uma boa oportunidade para a presidente dar uma olhada nas precárias condições das demais estruturas da empresa. Na quinta-feira passada, foi suspensa a operação da plataforma P-65, às voltas com uma série de normas de segurança não seguidas pela estatal. Em agosto de 2010, também fora interditada a P-33 por problemas de manutenção.

Esta avalanche de espuma não livrará o governo do PT de explicar o inexplicável: como o patrimônio de seu principal ministro multiplicou-se por pelo menos 20 vezes em apenas quatro anos.

Na sexta-feira, Palocci enviou ofícios à Procuradoria Geral da República, mas, pelo que se divulgou, não informou o essencial: para quem prestou tão valiosos serviços de “consultoria”. Aí está a “variável-chave” para o desenrolar da história. “A lista de clientes e preços de Palocci pode ser uma resposta ou a pá de cal”, comenta Carlos Alberto Sardenberg hoje n’O Estado de S.Paulo.

Mas a defesa do ministro desdenha de dar explicações, e chega a lançar mão de argumentos de um cinismo ímpar. Em artigo publicado hoje na Folha de S.Paulo, o advogado José Roberto Batochio diz que os R$ 20 milhões descobertos até agora – será só isso mesmo? – redundariam em “uma receita mensal bruta de R$ 416 mil” ao longo de quatro anos. Ele acha pouco.

Omitindo que assina o artigo como advogado de Palocci, o que Batochio faz é distorcer os fatos. Os R$ 20 milhões vieram num único ano e não em quatro. Pior: metade disso veio quando Palocci coordenava a transição de governo e tinha acesso a todas as informações relativas às decisões do governante que saía, bem como às intenções da gestão que entrava, mostrou a Folha ontem.

Igualmente cínica é a posição da Controladoria-Geral da União, que se recusa a investigar o enriquecimento de Palocci, contrariando decreto assinado pelo então presidente Lula em junho de 2005, no auge da crise do mensalão. “Para não investigar o caso, a CGU alega que Palocci não era ‘agente público’ na época em que recebeu os pagamentos feitos à empresa Projeto”, informa o Estadão.

Fica claro que o maior esforço do governo é por escapar de dar as explicações ainda devidas sobre o escândalo, impedir apurações, turvar a compreensão do caso pela opinião pública e usar a máquina de propaganda para dar ares de normalidade a uma situação absolutamente anormal. A menos que, no balcão de negócios que o condomínio do poder opera, tráfico de influência e operações suspeitas sejam considerados meros compromissos na agenda oficial.

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30 maio, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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