Enriquecimento suspeito


Com apoio de partidos de oposição, PSDB articula CPI para apurar caso Palocci

Diante do silêncio do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, sobre o súbito crescimento de seu patrimônio, os líderes do PSDB no Congresso articulam, em parceria com outros partidos da oposição (DEM, PPS e PSOL), a instalação de uma CPI Mista para investigar o caso, incluindo suposto tráfico de influência. Os bens do petista foram multiplicados em 20 vezes num período de apenas quatro anos.

“Já conversamos com o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias, e com o presidente do partido, Sérgio Guerra. Dada a gravidade do caso, que a cada dia ganha maiores proporções e aumenta a suspeição em torno do ministro, é preciso que haja uma apuração profunda e uma CPI Mista é o melhor instrumento”, disse o líder tucano na Câmara, Duarte Nogueira (SP). “Não podemos ficar insensíveis diante da repercussão desse escândalo. O partido tem que buscar todos os instrumentos”, afirmou Alvaro ao site da revista “Veja”.  Deputados do partido também destacaram a importância do pedido da comissão de inquérito (leia abaixo).

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Nota à imprensa: comissão de inquérito é “recurso extremo”

Ao longo da semana, o Palácio do Planalto mobilizou sua tropa de choque para derrubar ou até mesmo barrar a votação dos pedidos da oposição para que o braço-direito da presidente Dilma Rousseff desse explicações ao Congresso. Enquanto o chefe do principal ministério da Esplanada se recusa a esclarecer os fatos, a imprensa revela dia após dia informações sobre o enriquecimento do petista, apesar da tentativa de esconder quais foram os clientes e os valores cobrados.

Nesta sexta-feira, por exemplo, o jornal “Folha de S. Paulo” destaca que a Projeto, firma de consultoria aberta por Palocci, faturou mais R$ 20 milhões em 2010, mesmo ano em que ele coordenava a campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República. Essas e várias outras informações levantadas pelos meios de comunicação desde domingo poderiam ser esclarecidas na comissão de inquérito, que para ser aberta precisa do apoio de pelo menos 171 deputados e 27 senadores. A assessoria jurídica do PSDB finaliza o requerimento e logo em seguida começa o recolhimento das assinaturas.

Desde terça-feira o PSDB vem adotando uma série de medidas para tentar explicar o caso. Naquele dia, Nogueira e outros deputados do partido foram ao Ministério da Fazenda protocolar ofício direcionado ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). A legenda questiona se há registro de movimentações financeiras atípicas do Palocci e de sua empresa.

No mesmo dia, foram protocolados na Mesa da Câmara requerimentos de informações endereçados à Controladoria Geral da União e ao Ministério da Fazenda. Além disso, foi entregue pedido de convite para que Palocci viesse à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, mas a base aliada impediu até mesmo a realização da reunião no dia seguinte, quando o Planalto também barrou a convocação apresentada pelo oposição no plenário da Câmara. Também na terça, após reunir a bancada, o líder do PSDB no Senado anunciou a entrega de representação na procuradoria-Geral da República junto com outras legendas de oposição.

Ontem o deputado Fernando Francischini (PR) pediu a realização de audiência pública com a presença de parceiros do ministro da Casa Civil na empresa Projeto. Por sua vez, Alvaro Dias assinou requerimento do DEM e do PSOL endereçado à Comissão de Fiscalização e Controle do Senado que convoca o ministro Palocci para prestar esclarecimentos.

R$ 20 milhões
É quanto a empresa de Palocci teria faturado apenas em 2010, mesmo ano em que o petista coordenou a campanha de Dilma Rouseff à Presidência. A informação foi publicada pelo jornal “Folha de S. Paulo”.

Comissão parlamentar de inquérito esclarecia os fatos à sociedade, destacam deputados

“É importante que o Congresso investigue detalhadamente esse caso, que é gravíssimo. Precisamos passar a limpo a origem desse dinheiro. A CPI é justamente para esclarecer e colocar o Brasil a par de todos esses fatos. A reação do governo pedindo ao Congresso uma blindagem para o ministro Palocci mostra o grau de receio que o Planalto tem, porque se não houvesse nada irregular, é óbvio que o ministro explicaria a origem do dinheiro. Está na hora de esclarecer os fatos e mostrar para a população brasileira o que realmente está acontecendo nessa podridão do governo do PT.”
Deputado Antonio Imbassahy (BA)

Temos a função de fiscalizar o Executivo. Todo homem público tem que deixar transparente todos os seus atos. Este é um escândalo nacional, pois uma pessoa importante teve um aumento expressivo do seu patrimônio. A CPI é para que tudo seja esclarecido. Quem não deve não teme. Se os esclarecimentos não forem feitos de forma espontânea por parte do ministro,  faremos isso pela via regimental e constitucional,  por meio da CPI.”
Deputado Alfredo Kaefer (PR)

A iniciativa da Comissão Parlamentar de Inquérito foi muito boa, porque temos que deixar claro para a população a origem desse faturamento. Ficou tudo muito suspeito porque ele fez comparação aos ministros anteriores. Ao invés de Palocci se explicar,  ficou se comparando com outros gestores e não deixou claro para a população o que aconteceu realmente. Isso que a população precisa saber.”
Deputado Carlos Brandão (MA)

“Alguns atores vinculados ao governo dão por encerrado o assunto autoritariamente. O caso não está encerrado. Importante para democracia, para o culto dos bons valores da ética, da honestidade e da transparência que tudo seja colocado em pratos limpos. Espero que o ministro venha a público esclarecer esse fantástico crescimento patrimonial.”
Deputado Marcus Pestana (MG)

“O PT tem uma regra para ele e outra para os cidadãos. Infelizmente, a Casa Civil parece ser o grande centro das articulações da falta de limite entre patrimônio público e o privado. Aliás, formar consultores parece uma especialidade do partido. O grande consultor do Brasil até pouco tempo era o José Dirceu. Agora surge novo concorrente: o ministro Palocci.”
Deputado Nelson Marchezan Junior (RS)

“A transparência é fundamental para o Estado Democrático de Direito. Se o governo não é transparente, vai perder legitimidade. O ministro exerceu uma função pública. A função pública pertence à sociedade. Nesse caso, pode ser reincidência. O problema é que os aliados impedem esclarecimentos. O ministro está sempre envolvido com uma coisa estranha.”
Deputado André Dias (PA)

“Assim como não queremos culpar antes de ouvir, não podemos aceitar a tese dos que querem inocentar antes de investigar. Quando você é acusado de alguma coisa e se recusa a vir a público dar explicações isso começa a soar como confissão de culpa. Não faz sentido alguém que é inocente se recusar a dar esclarecimentos.”
Deputado Domingos Sávio (MG)

(Da redação com informações da assessoria da Liderança do PSDB na Câmara/ Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil/Áudio: Elyvio Blower)

Texto atualizado às 19h

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20 maio, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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