Portas abertas


Fronteiras do país merecem mais cuidado por parte do governo federal, alerta ITV

Em sua Carta de Formulação e Mobilização Política desta terça-feira (3), o Instituto Teotônio Vilela considera fantasioso imaginar que o Brasil está entre os alvos de represálias que podem se seguir à morte de Osama bin Laden. No entanto, o órgão de estudos políticos do PSDB entende que nada dispensa a necessidade de nossas autoridades se manterem vigilantes. “Nossos inimigos podem até não ser uma organização tão ameaçadora quanto a Al Qaeda, mas o poder de destruição das armas e drogas que transpassam nossos limites territoriais é razão suficiente para que as fronteiras do país mereçam mais cuidado”, cobra o instituto. Leia abaixo a íntegra do documento.

Seria fantasioso imaginar que a morte de Osama bin Laden tenha alguma consequência para o Brasil. É factível pensar que a Al Qaeda desencadeie represálias pelo mundo afora, mas muito pouco provável que a ira se direcione para estes trópicos. O episódio suscita, porém, oportunidade para avaliar o cuidado (ou, melhor dizendo, a falta dele) que as autoridades brasileiras têm dedicado ao controle das nossas fronteiras, fragilizando a segurança nacional.

É frouxo, para dizer o mínimo, o policiamento dos nossos mais de 16 mil km de divisas com os países vizinhos. Por ali entram armas e drogas, combustíveis da criminalidade que viceja nos grandes centros e se espraia por todos os recantos do país, por meio da disseminação do vício. Na ausência do aparato estatal, o comércio ilegal também prospera.

O Paraguai é a principal fonte de armas contrabandeadas para o Brasil; a Bolívia, a origem de cerca de 60% da cocaína importada para consumo no país. Para enfrentá-los, o governo brasileiro mobiliza apenas 1.600 homens do Exército. É uma guerra de terror, impossível de ser vencida nestas condições.

Como criminalidade e drogas são algumas das maiores aflições da população brasileira hoje, a necessidade de prover segurança nas fronteiras foi um dos temas recorrentes na campanha eleitoral do ano passado. Era o interesse nacional que estava em discussão. “As fronteiras brasileiras são das mais desguarnecidas do mundo”, escreveu o ex-governador José Serra em artigo recente.

Pouco tem sido feito pelo atual governo, porém, para controlar o crime nos limites do território brasileiro. As ações da Polícia Federal têm sido cada vez mais tímidas, assoladas pelo corte orçamentário – necessário diante dos excessos eleitoreiros dos últimos anos, mas quase sempre inescrupuloso.

Os cortes levaram embora 36% da verba destinada ao Ministério da Justiça neste ano. Dos R$ 4,2 bilhões previstos, a tesoura de Dilma retalhou R$ 1,5 bilhão. Em consequência, as ações da PF minguaram e o combate ao crime nas fronteiras desapareceu, mostrou a Folha de S.Paulo há alguns dias.

“Embora a cúpula da PF se esforce para refutar a ideia de que os cortes orçamentários já afetam o ritmo das operações, sabe-se que, somente na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraguai, a média mensal caiu de seis para uma”, volta a exemplificar o jornal em sua edição de hoje.

Pelas fronteiras brasileiras, passa boi, passam boiadas. Compram-se armas no sistema delivery, para entrega em domicílio do lado de cá da divisa. Sem ser incomodado, o contrabando alimenta o tráfico de drogas. Um exemplo: no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, comunidades do Rio ocupadas pelo Exército no início deste ano, 77% das armas apreendidas eram de fabricação estrangeira.

São antigas as suspeitas de que a Tríplice Fronteira, formada por Brasil, Argentina e Paraguai, abrigue núcleos de fundamentalistas islâmicos. Vira-e-mexe os Estados Unidos divulgam algum indício desta natureza, mas o governo brasileiro nunca leva os temores muito a sério, nem se preocupa em aumentar a vigilância. No máximo, vez por outra, tira da cartola pirotecnias como o Vant (Veículo Aéreo Não Tripulado), há meses parado num hangar sem combustível para voar.

Em países centrais, a realidade é diferente. EUA, Reino Unido e Alemanha acionaram ontem operações preventivas contra eventuais represálias de fanáticos pela morte de Bin Laden. Seria paranoia achar que o Brasil está entre os alvos visados, mas nada dispensa a necessidade de nossas autoridades se manterem vigilantes. Nossos inimigos podem até não ser uma organização tão ameaçadora quanto a Al Qaeda, mas o poder de destruição das armas e drogas que transpassam nossos limites territoriais é razão suficiente para que as fronteiras do país mereçam cuidado e atenção especiais.

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3 maio, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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