Triste sina


Omissão da União nas estradas ajuda a transformar datas festivas em tragédias, avalia ITV

Em sua Carta de Formulação e Mobilização Política desta terça-feira (26), o Instituto Teotônio Vilela destaca que a triste sina das mortes nas estradas brasileiras voltou a se repetir nesta Páscoa. Durante os cinco dias da Semana Santa, 175 pessoas morreram em acidentes rodoviários no país. “Já se tornou lugar comum dizer que o trânsito é uma sangrenta guerra diária no Brasil, e muito pouco tem sido feito para estancá-la. As rodovias federais são mal conservadas e fiscalizadas, numa omissão que conspira para transformar datas festivas em tragédias”, diz trecho do documento. Leia a íntegra abaixo:

A guerra sem trégua nas rodovias

A triste sina das mortes nas estradas brasileiras voltou a se repetir nesta Páscoa. Durante os cinco dias da Semana Santa, 175 pessoas morreram em acidentes rodoviários no país. A imprudência dos motoristas é responsável por parte desta calamidade, mas a omissão do poder público colabora enormemente para transformar datas festivas em tragédias.

Segundo balanço divulgado ontem pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), ocorreram 3.861 acidentes nas estradas federais entre 0h da última quarta-feira e meia-noite do domingo de Páscoa. Além das mortes, eles deixaram 2.274 pessoas feridas.

Em termos absolutos, os números são menores do que os do Carnaval, o que foi destacado pelo governo. Mas a comparação é enganosa: o feriado da Semana Santa teve um dia a menos e, para igualá-lo ao de março, a PRF incluiu nas estatísticas os dados de terça-feira passada, dia útil normal. Na comparação com a Páscoa de 2010, as ocorrências só pioraram. Ou seja, o cenário nas nossas estradas manteve-se calamitoso.

Minas Gerais, que tem a maior malha federal, Santa Catarina, Bahia e Paraná ocuparam as primeiras posições no ranking de mortes, feridos e acidentes. Em Piauí, Rondônia, Rio Grande do Sul e Acre, o número de mortos dobrou nesta Páscoa.

Já se tornou lugar comum dizer que o trânsito é uma guerra diária no Brasil. Mas não custa ressaltar quanto esta guerra é sangrenta e quão pouco tem sido feito para estancá-la.

O Brasil ocupa a quinta posição no mundo em quantidade absoluta de mortes no trânsito, depois de Índia, China, EUA e Rússia. Em diversos estados, mais pessoas morrem vítimas de acidentes automobilísticos do que de homicídios. Acontece todo dia.

Por ano, nossas rodovias vitimam 36 mil pessoas e deixam 500 mil feridas. São cerca de 100 óbitos diários. É como se, a cada dois dias, caísse um Boeing. No país, a cada 100 mil habitantes, 20 morrem em acidentes de trânsito. Há uma meta oficial para reduzir a média para 14, mas os esforços estão bem aquém do necessário.

As piores “rodovias da morte” são, sem exceção, da alçada federal: a BR-381 em Minas; a BR-470 em Santa Catarina; a BR-163 em Mato Grosso; a BR-324 na Bahia. São apenas alguns exemplos. Muito menos perigosas tem se mostrado as rodovias estaduais concedidas à exploração privada, mais bem cuidadas e patrulhadas.

As rodovias federais sofrem com a má conservação e com a péssima fiscalização: a PRF opera hoje com déficit de 4 mil patrulheiros, o que corresponde a 40% do pessoal na ativa. Os postos de pesagem não funcionam: dos 240 que deveriam operar, existem apenas 70 construídos e poucos em atividade.

Sem controle, caminhões sobrecarregados causam acidentes com mais facilidade. Também deterioram o piso das estradas e agravam as condições de tráfego: hoje 56% das vias pavimentadas no país estão desgastadas, com buracos, afundamentos ou destruídas. São, portanto, um convite a tragédias.

É também o que acontece com os radares eletrônicos. Há quatro anos, os equipamentos para controlar o excesso de velocidade foram desativados, depois que chegou ao fim o contrato do governo federal com as empresas que os operavam. Só agora o governo promete voltar a instalá-los nas rodovias federais – num total de 2.696 até 2012. Em locais onde existem, os radares colaboram para reduzir acidentes em 70%.

A omissão não para por aí. Quando há legislação, ela não é cumprida por falta de fiscalização que coíba excesso de velocidade e imprudência dos motoristas. É o caso da Lei Seca, achincalhada pela venda ilimitada de bebidas alcóolicas na beira de estradas brasileiras.

Tudo somado, temos que os mais de 57 mil quilômetros de rodovias que estão sob a responsabilidade do governo federal se transformaram numa terra sem lei, num lastimável salve-se quem puder. Nesta guerra, já passa da hora de desfraldar uma bandeira branca.

(Fonte: ITV)

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26 abril, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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