Experimento de laboratório?


Estratégia do governo para combater a queda do dólar a conta-gotas não está funcionando, avalia ITV

Em sua Carta de Formulação e Mobilização Política desta quinta-feira, o Instituto Teotônio Vilela afirma que a equipe econômica de Dilma Rousseff vem colocando em marcha uma política de tentativa e erro para buscar conter a queda das cotações do dólar no país. Ontem voltou a aumentar, mais uma vez, o IOF sobre operações financeiras feitas no exterior. “Um governo que refaz uma medida que ele mesmo havia tomado uma semana antes não parece saber o que está fazendo. A estratégia de enfrentar o problema a conta-gotas não tem funcionado”, avalia o ITV no documento intitulado “Conta-gotas entupido˜, cuja íntegra está disponível abaixo.


O governo federal prossegue na sua política de tentativa e erro em busca de uma forma de conter a queda do dólar. Ontem, voltou a elevar a tributação incidente sobre operações financeiras feitas fora do país. Uma equipe econômica que refaz uma medida que ela mesma havia tomado uma semana antes não parece saber o que está fazendo.

Nesta quarta-feira, o Ministério da Fazenda estendeu a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) mais alto, à alíquota de 6%, para empréstimos tomados no exterior com prazo de até dois anos. Oito dias atrás, o mesmo tributo já havia sido aumentado, mas apenas para operações de até 360 dias – medida que, vê-se agora, demorou apenas uma semana para mostrar-se inócua.

Guido Mantega explicou como funciona sua, digamos, estratégia: “A gente vai fazendo por aproximação. A gente toma a medida e vê o efeito dela e pode estendê-la na medida da necessidade. Achávamos que um ano [para a cobrança de IOF mais alto] era suficiente e agora estamos passando para dois”. Parece experimento de laboratório.

A intenção declarada da Fazenda é desestimular a tomada de crédito lá fora e, principalmente, segurar a queda do dólar. Durante o dia de ontem, a informação de que haveria o anúncio de um “pacote de medidas na área cambial” foi antecipada pelo governo como forma de assustar o mercado financeiro. Não adiantou muito – o dólar subiu só 0,3% ao longo do pregão – e tudo indica que o que foi divulgado também não adiantará.

A entrada de moeda estrangeira no país continua cada vez mais vigorosa. No trimestre, vieram US$ 35,6 bilhões líquidos, segundo o Banco Central. Trata-se do maior valor verificado desde o início da série, em 1982. Mais: o volume de ingresso de dólares registrado apenas nestes três primeiros meses de 2011 supera em 46% tudo o que entrou no país em todo o ano passado. É mais que uma enxurrada, é um tsunami.

Desde o ano passado, a equipe econômica – quanto de Lula quanto de Dilma Rousseff – pôs em prática sua estratégia de enfrentar a queda do dólar no Brasil a conta-gotas. O efeito foi nulo até agora. A moeda brasileira é a que mais se valorizou no mundo nos últimos tempos: só neste ano, até ontem, o dólar já tinha caído mais 3,2%.

Analistas de mercado ouvidos pelos jornais são unânimes em afirmar que a mais nova medida da equipe econômica petista também será inócua para segurar o dólar. A principal razão para este fracasso é que o motor central da especulação com a moeda americana no país continua girando a todo vapor: os juros altos.

O Brasil continua liderando com folga o ranking mundial de taxa de juros reais. Pratica-se aqui algo como 6% ao ano, ou o triplo do que é usual nas melhores economias – na média de um conjunto mais amplo, de 40 países, a taxa chega a ser hoje negativa. Este bife suculento continua sendo servido, e custou R$ 38,4 bilhões ao setor público apenas no primeiro bimestre.

Uma das estratégias adotadas no país para segurar o dólar tem sido acumular reservas em dólar. Elas hoje superam US$ 320 bilhões, o que representa 15% do PIB. Empilhar verdinhas no BC custa muito caro: no ano passado, o custo de carregamento, também considerada a variação cambial, atingiu R$ 48,6 bilhões – ou seja, quase quatro Bolsa Família. Vale a pena?

Há razões conjunturais globais que explicam por que o dólar está tão barato. A política de expansão de crédito praticada pelos EUA para fugir da recessão é apenas uma delas. A desvalorização da moeda americana ocorre em todo o mundo, mas aqui ela tomou proporções desmesuradas.

Não parece difícil ver que há incongruências na política econômica brasileira que colaboram para piorar o quadro. A mais gritante delas é, claro, os juros. Mas eles são decorrência de uma série encadeada de malfeitos, a começar pelos elevados gastos públicos, acelerados nos dois últimos anos para eleger Dilma. Mas nisso o governo do PT não parece disposto a mexer, tanto que até agora não se viu a cor dos cortes no Orçamento anunciados há mais de um mês. Pelo contrário.

Tanto quanto o recrudescimento da inflação, o problema da valorização da nossa moeda é grave, e mortal para setores econômicos como a indústria nacional. O pior é que o nó em que a política petista nos meteu acarreta efeitos contraditórios de uma na outra: se a desvalorização do dólar se reverter, os índices de preço subirão ainda mais. A estratégia de um passo adiante, dois para trás que o governo Dilma vem adotando não está nos levando a lugar algum. Este conta-gotas está entupido.

(Fonte: ITV)

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7 abril, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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