O autônomo e o autômato, por Roberto Rocha


(*) Roberto Rocha

Não faz muito tempo ainda elegíamos presidentes no Brasil por exclusão. Seja pelo temor, seja por razões morais, o fato é que era frequente votarmos num candidato para evitar o pior, e não para eleger o melhor. É notável que nossa pedagogia política tenha nos levado, em tão pouco tempo, a uma situação em que podemos escolher por convicções, num gesto de afirmação cívica.

Essa virada tem a ver com a postura que o PSDB inaugurou na administração pública ao estabilizar a economia e iniciar um processo de formulação de políticas públicas de longo prazo, descentralizando gastos e montando as bases de uma ação exitosa com a criação da bolsa-escola, dos agentes comunitários de saúde, da reforma agrária responsável e de toda uma engenharia de parcerias complexas e a cada dia mais integradas entre os Governos Federal, Estadual e Municipal.

Historicamente os gastos sociais no Brasil eram drenados por uma rede de interesses de uma elite parasitária do Estado e o efeito perverso disso é que os recursos disponíveis mal chegavam aos que mais necessitavam. O esforço de descentralização e de criação de mecanismos para que o dinheiro chegasse aos necessitados é uma das características da Rede de Proteção Social, idealizada pelo PSDB e que hoje constitui um patrimônio imaterial de nossa consciência de gestores.

Um dos formuladores mais argutos dessa visão de enfrentamento ao clientelismo e à ineficiência inerente às megaestruturas burocráticas tem sido, ao longo da vida, o governador José Serra. Jamais cevou as oligarquias patrimonialistas regionais que representam os resquícios do atraso político que ele tanto combate. Por isso ele acumula tantos êxitos como gestor público. Reconhecidos pela população brasileira que têm lhe dado a liderança nas expectativas de votos nas próximas eleições.

José Serra já foi Governo e já foi oposição. Traz na sua história a origem humilde, filho de um imigrante italiano vendedor de frutas no Mercado Público. Quando jovem esteve do lado dos mais fracos, combatendo o regime militar como presidente da União Nacional dos Estudantes, com apoio da Juventude Católica. Essa luta valeu-lhe um longo exílio político na Bolívia, junto com nosso bravo maranhense Neiva Moreira, com quem dividiu um apartamento, e posteriormente na França e no Chile. Aproveitou os anos duros do exílio para adquirir sólida formação acadêmica, como professor.

Em 1978, Serra retomou sua carreira política no Brasil e em 1983 assumiu a Secretaria de Planejamento do Estado de São Paulo. Eleito deputado constituinte em 1986 com a maior votação do Estado, foi o parlamentar que aprovou mais emendas no processo da Constituinte, ao todo 130, dentre as quais a que cria o Fundo de Amparo ao Trabalhador. Destacou-se também na reformulação orçamentária e de planejamento do país, o que seria fundamental para estruturar as finanças brasileiras, prelúdio para a formulação do Plano Real.

Em 1994, assumiu o Ministério do Planejamento e em 1998 o Ministério da Saúde, onde criou os genéricos e o Programa de Combate a AIDS, a Agência Nacional de Saúde e a ANVISA. Foi considerado, internacionalmente, uma referência mundial em gestão na área.

Foi prefeito e governador de São Paulo, com gestões de pleno êxito e amplo apoio popular. É um verdadeiro líder cuja liderança provém de sua autoridade moral. Um autônomo, e não um autômato.

(*) O deputado federal Roberto Rocha é presidente do PSDB-MA.

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8 abril, 2010 Artigosblog Sem commentários »

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