IDH: um passinho de lado
Brasil caminha muito lentamente para se tornar um país realmente bom para se viver
Os resultados do Índice de Desenvolvimento Humano para 2011, divulgados ontem pela ONU, apontam perda de velocidade na melhoria das condições de vida no país. Mostram, também, que a desigualdade de renda continua sendo uma chaga e que o nível de educação brasileiro é vergonhoso. Essa avaliação sobre os números é destacada na edição desta quinta-feira da Carta de Mobilização Política do Instituto Teotônio Vilela. “Estamos, na melhor das hipóteses, andando de lado em relação ao resto do mundo e caminhamos muito lentamente para se tornar um país realmente bom para se viver”, alerta o órgão de estudos políticos do PSDB. Confira a íntegra abaixo:
Os resultados do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para 2011, divulgados ontem pela ONU, apontam perda de velocidade na melhoria das condições de vida no país. Mostram, também, que a desigualdade de renda continua sendo uma chaga e que o nível de educação brasileiro é vergonhoso.
O Brasil avançou uma posição na classificação de 2011: nosso IDH subiu de 0,715 para 0,718 e passou a ocupar a 84ª posição no ranking da ONU, formado por 187 países. O índice é uma média geométrica que reflete expectativa de vida de 73,5 anos; 7,2 anos de estudo e renda per capita anual de US$ 10.162.
Este é o retrato mais completo da situação brasileira hoje. O IDH acaba funcionando como um antídoto diante da perspectiva irrealista que tem pautado o discurso oficial. Não estamos mal, mas caminhamos muito lentamente para se tornar um país realmente bom para se viver.
O nível de desenvolvimento do Brasil no ano passado é inferior ao que países como Noruega, EUA e Japão possuíam há 40 anos. Aliás, a distância entre nós e a líder Noruega aumentou de 2010 para 2011.
“Subimos uma colocação em relação ao ano passado, deixando para trás São Vicente e Granadinas, um país caribenho que tem metade da população de Taboão da Serra (SP) e uma economia voltada para a agricultura, com destaque para a banana”, compara O Estado de S.Paulo.
Quanto mais um país avança, mais lenta é a sua evolução, diz uma regra básica da estatística. Por isso, uma leitura mais acurada dos resultados pode ser obtida quando se compara o desempenho de um país ao dos demais. Assim, vejamos.
Classificada como nação de desenvolvimento alto, o Brasil ainda está atrás de 19 países da América Latina. Dois deles, Chile e Argentina, foram classificados na 44ª e 45ª posições, respectivamente, do grupo de desenvolvimento muito elevado.
O IDH brasileiro cresceu a uma média anual de 0,69% de 2000 a 2011, ligeiramente abaixo da expansão de países de desenvolvimento humano elevado (0,70%). Pesou aqui o desempenho do crescimento econômico, menor no Brasil do que, por exemplo, nos demais Brics.
Quando se observam períodos mais longos – e o IDH exige que assim seja feito – a perda de fôlego no ritmo de melhoria das condições de vida no país torna-se bastante evidente. Entre 1980 e 2011, o crescimento médio anual é de 0,87%. De 1990 a 2011, de 0,86% ao ano; e de 2000 para cá, de apenas 0,69%.
“O lançamento do novo IDH deve servir como um alerta para que o país possa se ver no mundo dentro da ótica do desenvolvimento humano, não como sua sétima economia, mas como um país que ainda deve muito aos seus cidadãos”, analisa Flávio Comim, consultor da ONU n’O Globo.
Na fotografia das Nações Unidas, a educação surge como nossa maior vergonha. O número médio de anos de estudo do brasileiro ficou estacionado em 7,2 anos, ou seja, menos que o período de ensino fundamental completo. Estamos no mesmo nível do Zimbábue, país que ocupou o último lugar no desenvolvimento humano no mundo em 2010 – no ano passado eles melhoraram um pouquinho…
Neste quesito, entre os 187 países que compõem o ranking, superamos apenas 74, em 113º lugar. No atual ritmo de evolução, o Brasil precisará de 31 anos para alcançar as condições educacionais da Noruega, onde se estuda em média 12,6 anos. “É uma geração inteira”, compara Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, n’O Globo.
A desigualdade de renda é outra chaga. Quando o IDH é ajustado por este quesito, o índice brasileiro despenca para 0,519 e o país perde 13 posições, ocupando a 97ª posição no ranking geral da ONU. Só nove países são mais desiguais que o Brasil quando se compara a renda dos 20% mais ricos com a dos 20% mais pobres: Namíbia, Angola, Honduras, Haiti, Colômbia, Bolívia, Botsuana, África do Sul e Lesoto, nesta ordem.
“Apesar da falação exagerada sobre redução da injustiça e essa ficção ideológica e mercantil de ‘nova classe média’, o Brasil ainda é líder em desigualdade de renda”, sustenta Vinicius Torres Freire na Folha de S.Paulo. Entre as 47 nações consideradas de alto desenvolvimento, apenas a Colômbia é mais desigual que nós.
Quando visto descolado do conjunto mundial, o Brasil é apresentado como um país de desempenho excepcional nos anos recentes. É a versão que o governo petista sempre tenta nos vender. Mas o cotejo preciso que o IDH da ONU permite fazer mostra que estamos, na melhor das hipóteses, andando de lado em relação ao resto do mundo. O realismo é salutar se de fato quisermos superar nosso atraso.
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