Faz parte do jogo?
Manter descalabro no Esporte apenas comprovará aceitação pacífica da corrupção no governo petista
Há razões de sobra para que o Ministério do Esporte sofra uma limpeza completa. “Manter tudo do jeito que está apenas revela como a corrupção é pacificamente aceita como parte integrante do modo PT de governar. Além da complacência com as malfeitorias, outra hipótese é que a presidente da República não sabe ao certo que rumo dar a seu governo – e não só ao ministério comandado pelo cada vez mais enfraquecido Orlando Silva”, diz trecho da Carta de Formulação e Mobilização Política desta quarta-feira (19). Leia abaixo a íntegra do documento editado pelo Instituto Teotônio Vilela.
Há razões de sobra para que o Ministério do Esporte sofra uma limpeza completa. Também há motivos em profusão para que a relação entre poder público e organizações não governamentais (ONG) seja amplamente revista. Manter tudo do jeito que está apenas revela como a corrupção é pacificamente aceita como parte integrante do modo PT de governar.
No governo petista, há um padrão de conduta que não é exclusividade do PCdoB do ministro Orlando Silva. Todos os comensais agem da mesma forma, com pequenas variações de ímpeto. A regra instaurada e permitida pela gestão Lula, e preservada por Dilma Rousseff, é avançar sobre o butim do Estado. É parte, e preço, do jogo.
“As denúncias contra Orlando Silva terminaram reacendendo a disputa entre os partidos. É mais uma faceta da fisiologia, em que os embates não se travam em torno de projetos, mas em função do acesso ao dinheiro do já sufocado contribuinte”, opina O Globo, em minieditorial.
Aqui e acolá, a presidente da República dá sinais de insatisfação com o desempenho de Silva. Mas, ao invés de fazer o que se espera de um estadista, ou seja, impor a ordem e afastar do governo quem tem conduta indevida, ela mantém intacto o feudo que destinou a um dos partidos que lhe dá sustentação no Congresso.
Sabe-se agora que Orlando Silva será afastado das negociações tocadas pelo governo brasileiro em relação à Copa de 2014 e à tramitação da Lei Geral da Copa no Congresso. “A partir de agora, as decisões relativas à Copa ficarão centralizadas no Palácio do Planalto, nas mãos da presidente e da chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann”, informa hoje O Estado de S.Paulo em manchete.
Se, sob Orlando Silva, assim como o foi sob Agnelo Queiroz, o Ministério do Esporte não mostrou a que veio, por que manter o ministro na cadeira? Por que Dilma continua a permitir que o PCdoB continue a pintar e bordar por lá, como o partido também faz na Agência Nacional do Petróleo, outra capitania hereditária dos comunistas desde Lula, envolvida na cobrança de propina para autorizar o funcionamento de distribuidoras de combustível?
Além da complacência com as malfeitorias, outra hipótese é que a presidente não sabe ao certo que rumo dar a seu governo – e não só ao Ministério do Esporte. “Só fará sentido trocar ministros se [Dilma] tiver uma missão clara a dar e a cobrar de cada um deles. Os integrantes do governo têm que se sentir ministros e não meros assessores”, comenta Rosangela Bittar no Valor Econômico.
Na pasta comandada por Orlando Silva, os indícios de irregularidades continuam a prosperar. Fala-se agora numa “central de propina” montada dentro da estrutura mantida pelo ministério, segundo O Globo. Ali eram acertadas com as ONG o pagamento de comissões de até 20% sobre as verbas liberadas. Parte disso teria sido usada pelo PCdoB para irrigar a campanha pela reeleição de Lula, para “melhorar o prestígio do partido junto ao ex-presidente”.
Orlando Silva prefere defender atacando. Tenta desqualificar o autor das denúncias. Mas parece difícil explicar, por exemplo, por que, mesmo depois de ter irregularidades constatadas pelo ministério em seu primeiro convênio, uma das entidades do policial militar João Dias Ferreira ganhou um segundo contrato da pasta do Esporte.
Também é complicado esclarecer por que cinco dias depois de relatar à Polícia Militar do Distrito Federal – que havia aberto uma sindicância interna para investigar os negócios em que o policial estava envolvido – irregularidades nos convênios com entidades do soldado, o ministério de Silva recuou e emitiu ofício pedindo que o parecer fosse “desconsiderado”. Terá sido parte dos “acordos” de que o policial vem falando?
Ainda há muito a revelar. Por isso, a necessidade de Ferreira ser ouvido no Congresso, assim como uma lista de pessoas ligadas ao ministro, ao ministério, a ONG e ao PCdoB – todas envolvidas em negociatas para desvio de verbas e acobertamento de mutretas. Se isso não acontecer, ficará claro que ao governo só interessa manter tudo como está.
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