Esplanada esfacelada
Queda de Wagner Rossi não esgota investigação e fortalece criação de CPI, avalia líder
O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), alertou que a queda do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, não esgota o trabalho a ser feito: ir a fundo nas investigações, verificar o tamanho dos danos causados aos cofres públicos, punir quem tiver culpa e ressarcir os recursos ao erário. Desde o fim de semana o tucano já havia cobrado o afastamento do Rossi do cargo até a apuração completa das denúncias que pesam contra ele, com eventual retorno ao ministério se nada fosse comprovado.
“Mas ele insistiu em permanecer, e dado o agravamento das irregularidades encontradas e da proximidade das pessoas envolvidas, não restou outra saída senão o afastamento”, destacou Nogueira nesta noite. Para ele, a queda do quarto ministro em sete meses de governo Dilma apenas reforça a necessidade da instalação da CPI da Corrupção.
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Também neste mês, Nelson Jobim pediu demissão do Ministério da Defesa. Substituído por Celso Amorim, ele saiu após críticas ao governo. Desde o início do mandato, a presidente Dilma teve outras baixas. Antonio Palocci (Casa Civil) deixou o Executivo após multiplicar patrimônio em 20 vezes em 4 anos, enquanto Alfredo Nascimento (Transportes) saiu por denúncia de corrupção, Ideli Salvatti assumiu as Relações Instituições para estancar crise com a base e Luiz Sérgio foi transferido para a Pesca por inabilidade na articulação política.
“A impressão que se tem é que o mensalão, surgido no governo Lula, não acabou. Ele continua se alastrando no governo Dilma. É necessária uma CPI para investigar como se dá e até onde chega a ramificação desse esquema”, acrescentou Nogueira. Ele espera que a crise política não afete o agronegócio, o fiel da balança comercial brasileira. “Os produtores não têm nada a ver com a crise política e não podem ser prejudicados, principalmente num momento como este, em que uma nova crise mundial se configura”, afirmou.
Para o deputado Antonio Imbassahy (BA), “o governo Dilma está caindo de podre”. “O número de denuncias de corrupção é algo inimaginável”, apontou. Segundo ele, nunca antes na história do país tantas irregularidades apareceram em tão pouco tempo. “E pior: há prosseguimento de denúncias pesadas no âmbito do Turismo e outras informações que vão chegando a cada momento outros órgãos. Esperamos que a limpeza continue”, defendeu o vice-líder tucano. Assim como Nogueira, Imbassahy defendeu a instalação da CPI da Corrupção. “Queremos ajudar o Brasil a fazer um investigação completa e profunda”, declarou.
A demissão de mais um auxiliar de Dilma também repercutiu no Twitter. “O governo Dilma está se desmanchando”, escreveu o deputado Rogério Marinho (RN). “Nunca antes na história deste país quatro ministros caem em seis meses”, postou Vanderlei Macris (SP).
Situação insustentável
A situação de Wagner, apadrinhado político do vice-presidente Michel Temer, ficou insustentável após esquema de corrupção revelado pela revista “Veja” na Agricultura, em especial na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O ex-dirigente da estatal Oscar Jucá Neto, irmão do líder no governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), afirmou que só “há bandidos” no ministério.
O escândalo já havia derrubado o secretário-executivo Milton Ortolan, que pediu demissão ao ser identificado como a pessoa que teria garantido o acesso do lobista Júlio Fróes, acusado de fraudar licitações.
Nesta semana, “Veja” denunciou outra série de desmandos. Em um dos casos, o ministro foi acusado de pedir pagamento de R$ 2 milhões em uma licitação para contratar serviço de comunicação. Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, Israel Leonardo Batista, ex-chefe da comissão de licitação, afirmou que o ministério foi “corrompido” após a chegada do peemedebista. Israel disse que as fitas do circuito interno podem comprovar se Rossi conhece ou não Júlio Fróes. Diante da denúncia, o PSDB solicitou ao Ministério Público pedido de busca e apreensão das imagens. Outra denúncia que atingiu o ministro foi a revelação de que o agora ex-ministro e um de seus filhos, o deputado estadual Baleia Rossi (PMDB-SP), viajaram várias vezes em um jatinho pertencente a uma empresa de agronegócios.
Nesta semana, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar as denúncias de suposta corrupção no ministério. Há suspeitas de direcionamento de licitação e pagamento de propina.
(Reportagem: Marcos Côrtes e Gabriel Garcia/ Foto: Agência Câmara/Áudio: Elyvio Blower)
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