Itamar Franco: ética, espírito público e nacionalismo, por Marcus Pestana
Num tempo em que proliferam escândalos na vida pública e a ação política é ameaçada pela mediocrização e pelo fisiologismo, a morte de Itamar Franco provoca necessariamente uma reflexão.
Itamar Franco foi um daqueles políticos singulares na história do Brasil. Símbolo de ética, dignidade, firmeza, espírito público e nacionalismo. O conterrâneo mais ilustre da nossa Juiz de Fora.
Lembro bem dos meus 10 anos, em 1970, e dos comícios, “santinhos” e principalmente do jingle da campanha que elegeu meu pai na sucessão da Prefeitura de Juiz de Fora com o lema: “As obras não podem parar, Agostinho Pestana depois de Itamar”. Itamar tinha sido eleito aos 36 anos, em 1966, acompanhado de uma nova geração de políticos e técnicos, e promoveu uma administração histórica e modernizante.
Em 1974, após ser eleito para um segundo mandato frente à prefeitura, Itamar teve um gesto de coragem e ousadia – traço que sempre o acompanhou -, ao se desligar do cargo para, em pleno regime autoritário, se candidatar ao Senado Federal pelo MDB. Venceu e fez parte daquela que talvez tenha sido a melhor geração que já passou pelo Senado. A partir daí, participou de forma marcante das lutas pela redemocratização e pela defesa do interesse nacional.
Em 1982, acompanhei de perto sua reeleição ao Senado, já que, aos 22 anos, era candidato a vereador. Essas eleições foram decisivas. O voto era vinculado. Nossa chapa em Juiz de Fora: Tancredo, Itamar, Tarcísio Delgado, José Luis Guedes, Clodsmith Riani. Foi minha estreia eleitoral antes mesmo de me formar em economia. Fizemos barba, cabelo e bigode.
Em 1986, coordenei a dissidência do PMDB em Juiz de Fora a favor da candidatura de Itamar ao governo de Minas contra Newton Cardoso. Pimenta da Veiga liderava essa corrente no plano estadual. Essa foi a semente do PSDB.
Vieram o governo Collor e a crise do impeachment. Itamar assume a Presidência em condições extremamente graves e instáveis. O PSDB é o primeiro a se oferecer para colaborar. Itamar, com serenidade e firmeza, consolida um governo de união nacional. Só o PT, que pensa sempre no próprio PT, não quis participar. Itamar deixa uma herança definitiva: garante a liberdade e assegura a estabilidade econômica através do Plano Real. Gozando de enorme prestígio popular, escolhe e elege Fernando Henrique presidente da República.
De 1998 a 2002, realiza o sonho de governar sua Minas tão querida. E, em gesto generoso, abre mão da reeleição para apoiar Aécio Neves. Em 2010, tem papel decisivo na grande vitória de Anastasia, elegendo-se, pela terceira vez, senador. Nos quatro meses de exercício do novo mandato se destacou de forma absoluta pela exemplar e consistente ação oposicionista.
Itamar Franco deixará um enorme vazio. Mas servirá de firme exemplo para as novas gerações por sua vida dedicada à ética, à pátria e ao povo brasileiro.
(*) Marcus Pestana é deputado federal pelo PSDB-MG. Artigo publicado no jornal “O Tempo” em 11 de julho de 2011.
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