Operações suspeitas
Tucano pede investigação sobre restituição da Receita a cliente de Palocci em tempo recorde
O deputado Fernando Francischini (PR) apresentou nesta quarta-feira (25) proposta à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle que pede a investigação de pagamentos milionários realizados pela Receita Federal à WTorre, uma das clientes da empresa de consultoria do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.
Em consulta ao Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira), o tucano constatou a existência de duas ordens bancárias do órgão vinculado ao Ministério da Fazenda em São Paulo: uma de R$ 6,2 milhões e outra de R$ 2,9 milhões. Ambos os valores foram creditados na mesma data, em 7 de outubro de 2010, quatro dias depois do 1º turno das eleições.
Francischini frisa que um processo foi protocolado pela WTorre em 8 de outubro de 2009 e o outro em 24 de agosto de 2010, e ambos foram pagos no mesmo dia. Nesta última data foi gerada uma restituição de R$ 2,9 milhões e feita uma doação de R$ 1 milhão ao comitê de campanha da então candidata à Presidência Dilma Rousseff. Dezesette dias depois, ou seja, em 10 de setembro do ano passado, em plena campanha, houve outro repasse de R$ 1 milhão para a campanha petista.
baixe aquiNa avaliação do parlamentar, as operações geram desconfiança e são indícios graves da prática de tráfico de influência. “Não tenho a mínima dúvida que há tráfico de influência. Agora queremos saber de quem. Os dados mostram que a WTorre, empresa que Palocci prestou assessoria, recebeu quase R$ 10 milhões dias depois da eleição presidencial. Esses são fatos graves que merecem ser apurados”, declarou.
Segundo a “Folha de S.Paulo”, a empresa WTorre possui negócios públicos e contratou a empresa Projeto, de propriedade do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, para tratar de “assunto corporativo”. Ainda de acordo com a reportagem, a construtora fechou negócios em torno de R$ 1,3 bilhão com fundos de pensão e a Petrobras.
O deputado pelo Paraná ressaltou que entre o protocolo de agosto e a liberação dos valores em outubro, passaram-se somente 44 dias. Para Francischini, a liberação aconteceu em tempo recorde. “Segundo técnicos da área, a agilidade é diferenciada da maioria dos casos da Receita Federal. Queremos investigar quem fez esses pagamentos, como foi o procedimento e se houve a intervenção de Palocci por meio de sua consultoria”, afirmou. A investigação pedida pelo tucano pode ter o apoio do Tribunal de Contas da União (TCU).
Para o líder do PSDB na Câmara, deputado Duarte Nogueira (SP), há uma “necessidade profunda de investigação dessas extremas coincidências”. “Há um nítido relacionamento entre a consultoria prestada, entre recursos de campanha, entre a celeridade absurda da Receita Federal em devolver créditos para uma empresa que tinha esse mesmo direito em 2007, 2008, 2009 e não requereu. Por que só requereu nessa data mais próxima, em 2010?”, questionou o tucano em plenário, ao lembrar que qualquer empresa que requer recursos à Receita Federal tem um “calvário”. Ainda de acordo com o deputado, as novas revelações reforçam a necessidade de uma CPI.
(Reportagem: Alessandra Galvão/ Foto: Paula Sholl/Áudio: Elyvio Blower)
Deixe uma resposta