Editorial do PSDB
Ministro da Casa Civil precisa sim, e rapidamente, esclarecer a exata natureza dos serviços prestados
As diferenças são incomparáveis e os detalhes reveladores. Apontado pela “Folha de S. Paulo” como comprador de um imóvel residencial de altíssimo luxo e de um escritório em zona nobre da capital paulista, no valor de R$ 7,2 milhões, Antonio Palocci tentou se defender acusando.
Em 9 de agosto de 1995, a revista “Veja” informava que o então secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, José Milton Dallari, estava sendo investigado pela Receita sob a suspeita de tirar “vantagens econômicas em seus negócios particulares em função do cargo que ocupa”. O alvo da investigação era o escritório de consultoria Decisão, que Dallari mantinha há dez anos.
Oportunisticamente, o então deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) dispensou provas e exigiu a cabeça do secretário: “Veja relatou à sociedade brasileira que existe uma investigação na Receita para esclarecer as atividades ilícitas desse secretário do governo Fernando Henrique Cardoso”. Como era um governo democrático, aguardaram-se as provas e dias depois o secretário foi demitido e um processo enviado à 7ª Vara Criminal de S. Paulo.
Relembrando mais: também no primeiro governo de FHC, acusado de passar um fim de semana numa fazenda do banqueiro Fernão Bracher, às vésperas de uma mudança na política cambial, o então presidente do Banco Central, Pérsio Arida, foi ao Congresso se explicar, diante de irados discursos do petismo.
Outra: apontado em suposto tráfego de influência e por ter comprado um apartamento onde mora até hoje, em 1999 o então secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge, além de ir ao Congresso cumprir o dever do esclarecimento, sofreu uma ruidosa perseguição por dois procuradores da República. Para defender-se, abriu os sigilos fiscal, bancário e telefônico. Cinco anos depois, Eduardo Jorge conseguiu a punição dos dois procuradores e ser indenizado pelas acusações que sofrera.
Não terminou: no episódio da privatização das Telebrás, em 1998, o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, foi duramente fustigado, no Senado Federal, quando prestava esclarecimentos. Mendonça deixou o ministério, sofreu diversos processos e foi absolvido em todos.
Indo mais longe, a 1993: acusado de envolvimento com os “anões do orçamento”, o chefe da Casa Civil do então presidente Itamar Franco, Henrique Hargreaves, licenciou-se imediatamente do cargo. Só voltou quando ficou claro que nada havia contra ele.
Parecem exemplos enfadonhos. Na verdade, servem para enfatizar comportamentos distintos entre os governos do PSDB e do Presidente Itamar Franco, com os do PT. Lula ainda trata a gravidade do mensalão como piada, além de, à época do escândalo, insistir que todos fazem a mesma coisa, como se todos os brasileiros fossem como os mensaleiros.
É também uma postura que já se vê no governo Dilma Rousseff, que continua a passar a mão na cabeça e blindar seus ministros contra denúncias, como por exemplo, as diárias ilegais recebidas pela ministra da Cultura, Ana de Hollanda. Ou, mais grave: o caso da espantosa multiplicação de patrimônio de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e atual superministro da presidente na Casa Civil. Um ministério onde não pode pairar um grão de poeira, uma vez que é por lá que passam todos os atos de um governo.
Dilma e companhia já deviam ter entendido isso com o caso Erenice Guerra. Mas, aprender não é com o petismo, como atestam as cartilhas escolares. Eles estão acima do bem e do mal. O médico Antonio Palocci flagrado como um rico consultor econômico-financeiro — o que pode inclusive, caracterizar exercício irregular da profissão –, apoiado em partidos “da base aliada”, nega-se a dar esclarecimentos ao Congresso e reage com uma nota que, reduzida à expressão mais simples do seu guru, afirma: “Fiz, mas quem não faz?”
Na conhecida linha petista, transfere responsabilidade ao insinuar que outros colaboradores de governos anteriores fazem o mesmo. Uma tentativa fraudulenta e enganosa de fugir à sua responsabilidade. Como sempre, os petistas não têm compromisso com a verdade e com a história.
Pedro Malan começou como funcionário de carreira do Ministério do Planejamento. Nomeado negociador da dívida externa, mudou-se para Washington. Voltou para presidir o Banco Central no governo Itamar e, depois, assumir o Ministério da Fazenda. De volta à planície, cumpriu a quarentena determinada pelo Código de Ética Pública e se tornou diretor do Unibanco. Não tem nenhuma empresa de consultoria.
Pérsio Arida já era banqueiro antes mesmo de ajudar na concepção do Plano Real e acabar justamente como a galinha dos ovos de ouro da banca: a inflação. André Lara Resende também era um conhecido banqueiro de investimentos. Hoje, é um administrador de bens. Antes de assumir o Banco Central, em 1999, Armínio Fraga dirigia um grande e famoso fundo de investimentos em Nova York, do multimilionário George Soros. Depois de deixar o BC, e fazer quarentena, passou a conselheiro de um banco e hoje é, também, administrador de fundos de investimentos.
A origem de seus patrimônios, portanto, é mais do que conhecida. Todos trabalhavam no mercado financeiro e foram convidados para os cargos por seus conhecimentos da área, ganhando muito menos que em suas atividades anteriores. Ao contrário de Palocci, que é médico, e, ao assumir o Ministério da Fazenda, trazia no currículo apenas o título de homem de confiança de Lula.
A diferença entre o PSDB e os lulopetistas é essa desde que o partido foi fundado, em 1988: transparência, responsabilidade, diferenciação entre o que é público e privado, onde o Estado não é uma extensão dos interesses companheiros.
Quando acusado, o PSDB busca a luz da verdade. E não transformar o acusador em culpado.
O PSDB não faz pré-julgamento, acredita que o ministro tem o direito constitucional à presunção da inocência e à defesa, mas Antonio Palocci precisa sim, e rapidamente, esclarecer a exata natureza dos serviços prestados, os valores recebidos dos respectivos clientes.
Caso contrário passará a suspeito de tráfico de influência junto ao governo do seu partido e de uso de informações privilegiadas, ao mesmo tempo em que exercia o cargo de deputado federal.
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