Descaso com o idioma
Ministério lava as mãos e mantém livros com erros gramaticais nas escolas públicas, lamentam tucanos
Os deputados Rogério Marinho (RN) e Raimundo Gomes de Matos (CE) condenaram o Ministério da Educação (MEC) por não recolher os livros com graves erros gramaticais distribuídos para escolas públicas. Apesar das críticas de educadores e escritores, os exemplares não serão retirados de circulação. Para Gomes de Matos, a falta de atitude mostra o descaso do governo federal com a educação.
“Ficamos cada vez mais preocupados com a situação do país. É um descaso em todas as áreas. Agora o desrespeito é com a nossa língua. É impossível admitir que o MEC distribua livros oficiais para a rede educacional com erros. Isso pode ser caso até de prisão”, afirmou o tucano, ao classificar o ato de “irresponsabilidade”.
baixe aquiDesprezo do MEC à norma culta do português reforça o descuido com a educação, afirmam tucanos
Distribuído a 485 mil estudantes jovens e adultos, o livro “Por uma vida melhor”, da professora Heloísa Ramos, defende uma suposta supremacia da linguagem oral sobre a escrita. No texto, a autora admite a troca dos conceitos “certo e errado” por “adequado e inadequado”. O livro ensina que frases como “nós pega o peixe” podem ser consideradas corretas em certos contextos, como mostrou reportagem do jornal “O Globo” desta segunda-feira (16). O título fazia parte do Programa Nacional do Livro Didático.
Segundo o material distribuído pelo MEC, não há necessidade de seguir a norma culta para a regra da concordância. “Estamos deseducando as nossas crianças. Dizendo a elas que falar de forma errada é absolutamente natural. Isso não é verdade”, afirmou Rogério Marinho. De acordo o deputado, o fato de alguns brasileiros terem dificuldade com a gramática se deve à falta de qualidade da educação. “E não é promovendo o erro que vamos combatê-lo”, ressaltou.
PT distorce a história
Rogério Marinho encaminhou, no começo do mês, pedido de informações ao ministro da Educação, Fernando Haddad, sobre as denúncias publicadas pela “Folha de S. Paulo” envolvendo o Programa Nacional do Livro Didático. Segundo o jornal, o projeto utilizaria livros com doutrinação política nas escolas públicas. O material faz elogios ao ex-presidente Lula e críticas à gestão de Fernando Henrique Cardoso. O requerimento foi feito na Comissão de Educação e Cultura, em que o deputado é coordenador da bancada do PSDB.
“Colocar uma visão política é contrário a uma boa prática administrativa e aos próprios critérios estabelecidos pelo MEC. O viés ideológico não deveria ser levado em consideração. Os livros fazem críticas à gestão FHC ao mesmo tempo em que enaltecem a administração do ex-presidente Lula, esquecendo inclusive fatos como o mensalão”, lembrou Marinho. Para Gomes de Matos, divulgar só as ações de Lula, sem preservar a história do PSDB, é um “desserviço à história brasileira”.
A Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado realiza amanhã (17), às 10h, audiência para debater livros didáticos aprovados pelo MEC que fazem críticas ao governo Fernando Henrique e elogios a Lula. O presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros), Jorge Yunes, foi convidado para o debate. O requerimento do pedido de audiência é dos senadores Cyro Miranda (GO) e Roberto Requião (PMDB-PR).
Críticas ao programa
→ A próxima reunião da Comissão de Educação da Câmara ocorrerá quarta-feira (18). Rogério Marinho vai reiterar o pedido de informações ao ministro da Educação e lembrar as agressões à língua portuguesa.
→ Escritores e educadores criticaram ontem (15) a decisão de distribuir o livro, tomada pelos responsáveis do Programa Nacional do Livro Didático. Para Mírian Paura, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uerj, as obras deveriam conter a norma culta. “Não tem que se fazer livros com erros. O professor pode falar na sala de aula que temos outra linguagem, a popular, não erudita, como se fosse um dialeto. Os livros servem para os alunos aprenderem o conhecimento erudito”.
→ Autor de dezenas de livros infantis e sobre Machado de Assis, o escritor Luiz Antônio Aguiar também é contra a novidade. “Está valendo tudo. Mais uma vez, no lugar de ensinar, vão rebaixar tudo à ignorância. Estão jogando a toalha. Isso demonstra falta de competência para ensinar”.
(Reportagem: Letícia Bogéa/Foto: Paula Sholl/Áudio: Elyvio Blower)
Deixe uma resposta