Planalto perdido
Gestão Dilma adota medidas conflitantes no “vale-tudo” contra a inflação, alerta ITV
“O governo atira para todo lado depois que sua política anti-inflacionária de laboratório fez água.” A avaliação consta na Carta de Formulação e Mobilização Política desta terça-feira (10). Como destaca o Instituto Teotônio Vilela, facilitar a importação de componentes, como porcas e parafusos, e abusar da Petrobras tornaram-se armas da gestão Dilma Rousseff para segurar os preços no país. Segundo o ITV, o PT vai conseguindo pôr o Brasil na incômoda companhia de países onde o descontrole de preços já é total e onde o poder do Estado tornou-se tentacular, como a Argentina e a Venezuela. Leia a íntegra abaixo:
Vai mal um país que precisa importar porcas e parafusos. Vai muito mal um país cuja maior empresa vira um joguete nas mãos do governo de turno. Vai de mal a pior um país que tem de usar mecanismos tão díspares para conter um problema que seus próprios governantes, oportunisticamente, geraram. Vai mal o Brasil diante da inflação.
Facilitar a importação de componentes e abusar da Petrobras tornaram-se armas da gestão Dilma Rousseff para segurar os preços no país. Atira-se para todo lado. O governo está tendo de apelar para todo o tipo de arsenal depois que sua política anti-inflacionária de laboratório foi fazendo água. Vai, assim, impingindo custos adicionais e muitas vezes desnecessários à sociedade.
É o que está ocorrendo, por exemplo, com a Petrobras. O ministro Edison Lobão avisou ontem que vai usar a BR Distribuidora, subsidiária da estatal, para “forçar a queda dos preços dos combustíveis aos consumidores finais”, informa O Globo em manchete. Ele considera que, agindo assim, pode quebrar a espinha de um “um processo de cartelização” que estaria em marcha no setor.
É fato que os custos do etanol e da gasolina têm ajudado a empurrar a inflação para cima. Juntos, subiram 6,53% em abril e levaram o IPCA acumulado em 12 meses a romper o teto da meta estipulada pelo Banco Central. Mas é igualmente verdade que os aumentos aberrantes têm muito mais a ver com a ausência de uma política clara de combustíveis no país.
O ciclo funciona mais ou menos assim. Com base nas condições de mercado, os usineiros definem o que vão produzir com a cana: ora etanol, ora açúcar. Neste ano, o mercado estava um doce e a maior parte da garapa foi usada para fabricar açúcar. A oferta de etanol, então, diminuiu, os preços dispararam e o país teve de buscar combustível até nos EUA. Como gasolina tem álcool anidro na sua composição, o efeito se estende a ela.
O governo assiste, impotente, às decisões dos usineiros. Mas usa, prepotente, a Petrobras para tentar conter os preços na economia, uma vez que combustíveis são insumo básico de qualquer custo. A presidente da República e seu ministro da Fazenda recusam-se a permitir que a companhia reajuste seus preços, mesmo o barril de petróleo já tendo subido 22% no ano.
A manipulação da Petrobras como instrumento anti-inflacionário tem custado caro à empresa. Estima-se que, por não ter elevado os preços da gasolina e do óleo diesel na proporção em que as cotações de petróleo aumentaram no mercado internacional, a estatal tenha perdido R$ 1,65 bilhão neste ano.
Sofrem também os acionistas da companhia, entre eles os 310 mil que investiram parte de seu FGTS em seus papéis em 2000. Neste ano, suas ações já caíram 8,92% e são uma das principais razões para o fato de a Bovespa ser a bolsa com pior desempenho no mundo em 2011.
O índice Bovespa retrocedeu aos níveis de agosto de 2008 e acumula queda de 6,76% no ano. No mesmo período, o índice americano Standard & Poor’s 500 subiu 7,05%. A bolsa brasileira perde até mesmo em relação aos países emergentes, cuja alta média é de 0,96% no ano, compara o Valor Econômico.
Os analistas têm uma palavra empolada para tratar do problema da Petrobras: governança. Em linguagem simples, significa que, como acionista majoritário, o governo está metendo o bedelho na empresa e atravancando sua gestão. Subir ou não o preço do produto que vende deveria ser decisão empresarial, mas no Brasil petista não é.
Num ambiente desta natureza, procedimentos negociais e processos decisórios ficam muito mais sujeitos a humores político-partidários. Empresa assim não funciona bem, gasta mais, rende menos. O mesmo fantasma assombra a Vale, cujos papéis estão igualmente em baixa no mercado depois que o governo defenestrou o executivo responsável por levar a companhia a lucrar como nunca. Suas ações já caíram 6,55% em 2011.
Não bastasse isso, O Globo também informa que “o governo já recorre às importações para evitar altas ainda mais elevadas de preços em geral, mesmo reconhecendo que sua escolha pode impor sacrifícios ao crescimento da economia”. Será facilitada a compra no exterior de itens como algodão, porcas e parafusos. O aço pode ser o próximo a ter tarifa de importação reduzida.
É legítimo que o governo busque alternativas para combater o mal maior da inflação. O que não cabe é a adoção de medidas cada vez mais conflitantes. Com a escalada de preços, o PT vai conseguindo pôr o Brasil na incômoda companhia de países onde o descontrole já é total e onde o poder do Estado tornou-se tentacular, como a Argentina e a Venezuela. Talvez esteja se materializando, por vias transversas, o sonho da nossa diplomacia companheira.
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