“Fantasma” de volta

Deputados apontam falhas na área econômica neste início de gestão

Os deputados Antonio Carlos Mendes Thame (SP) e Rogério Marinho (RN) consideraram negativa a atuação do governo Dilma na área econômica nos cem primeiros dias de mandato. Para os tucanos, o início da gestão da presidente foi marcada por ações contraditórias e sem efeito positivo para o equilíbrio e tranquilidade da economia. Os congressistas acreditam que o “fantasma” da inflação voltou a ter força nesse período e, mesmo assim, o novo governo não respondeu com medidas rígidas capazes de contê-lo.

Os parlamentares afirmaram nesta segunda-feira (11) que Dilma optou por dar continuidade à política econômica promovida por Lula, sem fazer mudanças fundamentais. De acordo com Thame, a gestão anterior acertou por manter a mesma linha do governo Fernando Henrique Cardoso. No entanto, Dilma não pode permanecer na inércia diante da nova situação da economia mundial, que mudou após a crise de 2008.  Atualmente, se faz necessária a adoção de novas medidas, em especial relacionadas à inflação e ao controle do câmbio.

“Governo está leniente com a inflação”, diz líder do PSDB na Câmara

“As receitas que o país usava antes já não funcionam mais e, por enquanto, todas as medidas cosméticas de perfumaria que eles tomaram para enfrentar a questão da inflação e do câmbio foram inócuas”, apontou Mendes Thame. De acordo com ele, é preocupante o patamar que a inflação conseguiu alcançar: 6,3% no acumulado de um ano, quando a meta estipulada pelo governo é de 4,5%, com teto de 6,5%. Preocupação essa que, segundo o deputado, se repete com o dólar. Desvalorizada diante do real, a moeda dificulta a vida das exportadoras e da indústria nacional, que passam a competir com empresas estrangeiras.

Mendes Thame acredita que a primeira medida do governo Dilma deveria ter sido um corte real de gastos supérfluos e a liberação de recursos para investir em áreas básicas e, ao mesmo tempo, alavancar a economia. Mas, de acordo com o parlamentar, isso não aconteceu devido ao aparelhamento do Estado promovido pelo governo Lula, que dá sinais de continuidade com a presidente.

Segundo os deputados, as contradições da equipe de Dilma são inúmeras e também aparecem nos corte de gastos. O tucano lembra que, no momento em que anunciou um “fictício” corte de R$ 50 bilhões do Orçamento, o Planalto injetou R$ 55 bilhões no BNDES para emprestar a empresários com juros bem abaixo do que capitou no mercado. Atitude que também ajuda a expandir o crédito e estimula a demanda, o que contribui ainda mais para a pressão inflacionária.

“Nós vemos com muita preocupação o início desse governo. O cidadão comum que vai ao supermercado já sente, de forma muito forte, a volta da inflação, principalmente em gêneros de primeira necessidade, como os grãos, a carne, o leite e derivados, tal como no preço dos transportes”, afirmou Rogério Marinho. Para ele, o Executivo precisa se focar no que realmente é importante. “O governo precisa acenar para o mercado com medidas fortes no sentido de conter o processo inflacionário, ter austeridade no custeio da máquina e investir fortemente em educação, empreendedorismo, infraestrutura, inovação e logística, áreas que são fundamentais para tornar nossa economia mais dinâmica e competitiva no cenário internacional”, destacou.

Muitas mudanças, poucos resultados

Confira abaixo algumas das primeiras medidas adotadas pela equipe econômica de Dilma nesses 100 dias de governo. (Fonte: “O Estado de S.Paulo”)

Cortes
Fazenda e Planejamento anunciaram corte de R$ 50 bilhões no Orçamento

Juros
O BC elevou os juros em 1 ponto percentual. O ajuste total desde 2010 é de 3 pontos percentuais

Compra de dólares
O BC passou a comprar dólares com entrega em data futura, chamada de leilão a termo

IOF 1
Governo taxa em 6% empréstimos externos de até dois anos

IOF 2
Fazenda instituiu IOF de 6% sobre captações externas de até um ano, medida que tenta atacar a valorização cambial e ajudar no processo de contenção do crescimento do crédito

IOF 3
Imposto será de 6,38% para compras com cartão de crédito no exterior, para reduzir compra de eletrônicos

IOF 4
Fazenda dobrou o IOF, de 1,5% para 3%, nas operações de crédito para pessoa física

Meta ameaçada

4,5%
é a meta de inflação, com tolerância de 2 pontos porcentuais para cima

6,3%
é o IPCA acumulado em 12 meses

(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Rodolfo Stuckert e Saulo Cruz/Ag. Câmara/ Áudio: Elyvio Blower)