Alianças do mal


Governo Dilma deve acabar com alianças com ditadores alimentadas pela gestão Lula, cobra ITV

Em sua carta de conjuntura divulgada nesta segunda-feira (28), o Instituto Teotônio Vilela considera correto, mas insuficiente, o fato de o governo brasileiro ter aprovado a investigação por desrespeito aos direitos humanos no Irã. “A atitude sinaliza uma importante revisão de postura em relação a um princípio que, até a era Lula, sempre foi inegociável na nossa diplomacia. Mas a ação ainda é insuficiente. Nos últimos oito anos, o governo petista construiu amizades e parcerias com alguns dos chefes de Estado mais perigosos do mundo. Está na hora de acabar com essas alianças do mal”, defende o ITV em documento cuja íntegra está disponível abaixo.

Ainda em más companhias

Após oito anos de manifestações de amizade e alianças firmadas com alguns dos principais facínoras do mundo, o Brasil surpreendeu ao votar na ONU a favor de investigar o Irã por suspeita de violação de direitos humanos. Ainda não se trata de uma guinada completa na nossa política externa, mas pode ser um bom começo. A lista de más companhias a serem evitadas pela nossa diplomacia é caudalosa.

A votação no Conselho de Direitos Humanos da ONU ocorreu na última quinta-feira. Foi a primeira vez que o Brasil deliberou contra o Irã desde 2003. Desde então, foram sete abstenções em votações sobre o país de Mahmoud Ahmadinejad no órgão da Assembleia Geral da ONU – uma delas em novembro do ano passado, quando foram propostas punições ao Irã por apedrejamentos e enforcamentos em praça pública e o Brasil calou-se.

O país de Ahmadinejad – além de condenar à morte por apedrejamento uma mãe de família como Sakineh Ashtiani, por suposto adultério – persegue oposicionistas, jornalistas, dissidentes, homossexuais e qualquer um que se arrisque a discordar de seus líderes totalitários. Para o PT, até pouco tempo atrás, o que ocorria por lá era como briga entre “flamenguistas e vascaínos”, na memorável definição de Lula.

De acordo com o voto brasileiro na ONU na semana passada, “o Brasil acredita que todos os países, sem exceção, têm desafios a serem superados na área de direitos humanos e espera que os principais copatrocinadores dessa iniciativa [o envio de um relator especial ao Irã] apliquem os mesmos padrões a outros possíveis casos de não cooperação com o sistema de direitos humanos das Nações Unidas”. Espera-se que o Brasil pratique o que prediz.

É prematuro dizer que a atitude de agora contra o Irã seja um rompimento com a diplomacia posta em prática pelo governo anterior. “Por ora o que se vê é uma mudança nas ênfases e nos procedimentos tendo em vista a retomada de valores essenciais em regimes de liberdade. A volta, digamos assim, à normalidade”, escreveu Dora Kramer. Mas a chancelaria brasileira tem no voto proferido na ONU na semana passada uma boa carta de intenções para seguir adiante no bom caminho. Terá trabalho pela frente.

A lista de más amizades costuradas ao longo do governo de Lula é de fazer inveja à mítica Legião do Mal – os inimigos criados pela DC Comics para rivalizar com os super-heróis da Liga da Justiça. Para começar, basta lembrar que o líbio Muamar Kadafi foi chamado de “amigo e irmão” pelo presidente Lula, para quem tudo o que era atribuído ao ditador ora em desgraça não passava de “invenção da mídia”.

Mas resolver a questão líbia é só o mais óbvio. Dilma também precisa, por exemplo, cortar as ligações de amizade do Brasil com o presidente da Guiné Equatorial, Obiang Nguema Mbasogo, há 32 anos no poder. O presidente Lula visitou-o em julho do ano passado sem se importar com a alcunha dada ao país de Mbasogo: “Auschwitz da África”. Precisa dizer mais?

Outro ditador oficialmente nosso companheiro, o sudanês Omar Al-Bashir, foi condenado pela Corte Penal Internacional por crimes de guerra pela morte de 300 mil pessoas. O Brasil nunca aceitou recriminá-lo nos foros globais. Mas, em 2006, conseguiu que o país africano abrisse as portas para negócios da Petrobras por lá. Vale lembrar o mantra de Celso Amorim: “Business is business”.

A nova diplomacia brasileira ainda deve desculpas, também, aos dissidentes políticos de Cuba, comparados por Lula a traficantes do PCC. Já com relação à Venezuela, hoje atolada num total desabastecimento que obriga a população a economizar de água a energia, as artes de Hugo Chávez finalmente poderão receber um “chega” ou deixarem de ser consideradas “parte da democracia”. O Brasil mantém, ainda, ótimas relações com países não democráticos como Uzbequistão, Gabão, Camarões, entre outros, numa lista que, com o PT, só fez crescer.

O basta ao Irã foi apenas a primeira e tímida medida para encerrar uma grande lambança na nossa chancelaria que ainda está para ser redimida. Se realmente quer retomar o caminho do respeito e do compromisso com os direitos humanos – tradição secular do Itamaraty só abandonada pela diplomacia companheira de Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia – o Brasil ainda precisa fazer muito. Se assim optar por agir, merecerá justificados aplausos – aqui e lá fora.

(Fonte: ITV)

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28 março, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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