Ideologia que traz prejuízos
Brasil precisa explorar potencial comercial com EUA desprezado pelo governo Lula, avalia ITV
Em sua Carta de Formulação e Mobilização Política divulgada nesta segunda-feira (21), o Instituto Teotônio Vilela (ITV) afirma que o Itamaraty deve dedicar-se a explorar as possibilidades comerciais representadas pelo mercado dos EUA e desdenhadas nos anos Lula. “Enquanto nos ocupávamos de falar fino com a Bolívia e grosso com Washington, a China nos deixou comendo poeira. É hora de abandonar esta diplomacia ideologicamente equivocada”, diz trecho do documento, divulgado no mesmo dia em que o presidente dos EUA, Barack Obama, deixa o Brasil. Leia a íntegra abaixo:
Em busca dos dólares perdidos
A passagem de Barack Obama pelo Brasil não rendeu os frutos mais vistosos que alguns, provavelmente de maneira ingênua, esperavam. A aspiração brasileira a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU mereceu apenas uma manifestação de “apreço” do presidente americano. Nada muito diferente do esperado.
Passado o oba-obama da visita, melhor fará o Itamaraty se dedicar-se a explorar uma highway desdenhada pela diplomacia companheira nos anos Lula: as enormes possibilidades comerciais representadas pelo mercado dos EUA.
Enquanto nos ocupávamos de falar fino com a Bolívia e grosso com Washington – como parte de uma espécie de “complexo de Chico Buarque” que imperou em nossa chancelaria – a China nos deixou comendo poeira na América. É hora de nossos diplomatas recalibrarem a voz.
Os Estados Unidos ainda são, disparados, os maiores compradores do planeta. Só no ano passado, importaram US$ 2,3 trilhões em bens e serviços. Desse montante, o Brasil só conseguiu participar com US$ 19,2 bilhões, ou seja, 0,8% do total, mostrou o G1.
Afora termos nos tornado quase irrisórios no intercâmbio comercial com os americanos, o Brasil é um dos poucos países que possui déficit com os EUA. Trata-se de um dos subprodutos da gloriosa diplomacia Sul-Sul que o PT impôs ao país nos últimos tempos. O tamanho do prejuízo se mede em bilhões de dólares.
Em 2005, o Brasil obteve superávit comercial de US$ 9,9 bilhões junto aos EUA. Significa que naquela época ainda vendíamos a eles muito mais do que comprávamos. Apenas cinco anos depois, o resultado se invertera por completo: em 2010, o Brasil registrou déficit de US$ 7,8 bilhões no comércio bilateral com os americanos.
Enquanto isso, os chineses fizeram a festa. Entre 2000 e 2010, aumentaram as exportações para os EUA de US$ 100 bilhões para US$ 365 bilhões – o que equivale a quase 20 vezes o que o Brasil vendeu aos americanos. Enquanto nós temos déficit com a América, a China exibe agora um astronômico superávit de mais de US$ 273 bilhões.
A visita de Obama no fim de semana deu oportunidade à presidente Dilma Rousseff de despir-se de ideologias equivocadas que grassaram no Itamaraty nos anos recentes e tentar recuperar os dólares perdidos. Está correto exigir maior abertura comercial dos EUA. Mas não basta lançar palavras em protocolos diplomáticos; é preciso agir. Além disso, o bunker de resistência à liberalização comercial é o Congresso americano, não a Casa Branca.
Alguns acordos foram assinados no sábado – entre eles, o de Comércio e Cooperação Econômica, que levará à formação de um conselho que se reunirá anualmente para dirimir pendengas comerciais existentes entre os dois países. A pauta de contenciosos é vasta. Produtos brasileiros como suco de laranja, álcool, aço e carne sofrem sérias restrições no mercado americano – a maior parte delas já condenadas pela OMC.
Os EUA têm feito corpo mole, por exemplo, no cumprimento do acordo para facilitar a entrada de carne brasileira no mercado americano, conforme mostrou o Valor Econômico em sua edição de sexta-feira. Já para barrar nosso etanol, o governo americano concede subsídios de US$ 6 bilhões por ano aos seus produtores, além de impor tarifa de US$ 0,15 sobre o litro de álcool importado do Brasil.
A diplomacia brasileira precisa lutar com mais garra do que fez até agora para suspender as distorcivas barreiras comerciais que nos são impostas por Washington. Deve, igualmente, buscar aproveitar-se de espaços existentes no mercado americano para outros produtos: atualmente, 85% das importações feitas pelos EUA são isentas de tributação.
A passagem de Barack Obama pelo Brasil precisa servir bem mais do que para mostrar ao mundo um turista acidental em cenários de praia, sol, capoeira e molduras modernistas. Deve ser o pontapé para uma decidida guinada na diplomacia ideologicamente equivocada, retrogradamente terceiro-mundista e antiamericana praticada pelo PT no governo. O mundo globalizado não comporta apenas uma única coordenada geográfica. Girar o eixo e abarcar outros quadrantes é mirar mais longe e defender o interesse nacional.
(Fonte: ITV)
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