Intervenção indevida
Mediação de Lula na negociação sobre o salário mínimo é absurda, afirma Márcio Bittar
O deputado Márcio Bittar (AC) reprovou nesta terça-feira (8) as declarações do ex-presidente Lula sobre as centrais sindicais e o reajuste do salário mínimo. Em sua primeira afirmação pública sobre o governo Dilma Rousseff desde que deixou o Planalto, o petista fez ontem (7) duras críticas aos ex-colegas de militância. Para Lula, é “oportunismo” vincular o mínimo aos índices da economia, como a inflação e o PIB, proposta defendida pelas centrais.
Na avaliação de Bittar, a intervenção de Lula nas questões de Estado é indevida. “É um absurdo ele continuar se metendo dessa maneira nos assuntos do governo. Lula deveria se comportar como ex-presidente. Ele vai fazer um governo paralelo ao de Dilma Rousseff? A mídia nacional vai ter duas pautas, a da presidente atual e a do ex-presidente da República?”, questionou o parlamentar.
O governo federal defende o mínimo de R$ 545. O valor é rejeitado pelas centrais sindicais, que tentam elevar o piso para R$ 580. De acordo com o ex-presidente, o acordo do salário mínimo foi fechado em seu governo e durante a gestão do ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Luiz Marinho no Ministério da Previdência. O petista disse ainda que se sentia confortável para intermediar a questão por ser “amigo e companheiro” dos dirigentes sindicais.
Para o deputado, a declaração de Lula criou uma situação constrangedora para as centrais, já que o petista fez parte do grupo fundador da CUT em 1983, e pode dificultar ainda mais a negociação entre governo e trabalhadores.
O tucano lembrou também que o PSDB defende um mínimo de R$ 600 desde a campanha presidencial, ao contrário do governo do PT e a da sua base aliada no Congresso, que não se entendem sobre o valor do reajuste. “Nós defendemos um salário mínimo bem maior do que esse que o PT está propondo. Estamos legitimados pela campanha que fizemos”, afirmou Bittar.
Dilma quer reduzir discussão no Congresso e política de longo prazo do mínimo
→ Na última sexta-feira (4), sem acordo sobre o aumento do salário mínimo, dirigentes das seis maiores entidades do país acusaram Dilma de romper a política de valorização salarial e ameaçaram suspender as negociações.
→ Segundo a “Folha.com”, o governo vai enviar ainda esta semana um projeto de lei que trate da política do salário até 2014 e com o valor fixado em R$ 545. De acordo com a reportagem, para votar o projeto já na terça-feira que vem (15), a ideia é acrescentar um dispositivo que trate de dívidas de pessoas físicas com a União. Desta maneira, a proposta poderia ser apreciada antes das medidas provisórias que já estão prontas para a pauta.
→ A manobra do governo tenta reduzir a discussão no Congresso, já que uma MP sobre o tema só seria votada em junho. O projeto de lei também modifica a proposta de Lula. Ano passado, o ex-presidente enviou à Câmara texto prevendo a política de valorização do mínimo até 2023, mas não foi aprovado. (Reportagem: Alessandra Galvão/Foto:Dilvugação/Áudio: Elyvio Blower)
Deixe uma resposta