Inclusão
Especialistas debatem acesso à educação ao longo da vida em seminário proposto por Barbosa
As comissões de Educação e de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência realizaram, nesta terça-feira (12), o I Seminário Internacional Educação ao Longo da Vida. O evento foi proposto pelo deputado Eduardo Barbosa (MG). Experiências internacionais foram apresentadas com modelos que vêm sendo consolidados no mundo. O ensino de jovens e adultos e de pessoas com deficiência foi abordado na perspectiva da educação ao longo da vida.
Na mesa de abertura, que contou com a participação do presidente da Comissão de Educação, deputado Caio Narcio (MG), o uso das tecnologias foi levantado como uma forma de auxiliar na inclusão e inserção de pessoas com deficiência, como destacou João Gomes Cravinhos, embaixador da União Europeia.
Para Narcio, a aprendizagem mais eficaz é aquela que ocorre ao longo da vida, não apenas na idade escolar, quando o ensino público é obrigatório. Segundo ele, os desafios são enormes, mas os avanços são necessários. “Ao estabelecer as potencialidades e vencer os desafios e preconceitos vamos conseguir êxito em enfrentar algo que é corriqueiro, mas que é necessário abrir os nossos olhos, que é a nossa realidade educacional”, disse.
Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Deficiência, o deputado Cabo Sabino reforçou a ideia de que a educação não acaba quando se deixa a sala de aula. Por isso, a sociedade e o Estado precisam respeitar e contribuir com a ideia de educação ao longo da vida.
Para Eduardo Barbosa, o seminário representou um passo rumo a uma regulamentação que vá ao encontro da população, sobretudo a de maior vulnerabilidade, para o apoio na formação pessoal, facilidades de convivência social e familiar. “Esse é o papel fundamental da educação ao longo da vida”, ressaltou.
Ao longo de décadas trabalhando com pessoas com deficiência, o tucano afirma que há conquistas visíveis, porém, há situações que exigem mais. “Pessoas com comprometimentos maiores, principalmente cognitivos, têm a necessidade urgente de oferta, pelo Estado, de uma educação ao longo da vida com estratégias de formação para que possam acompanhar as exigências sociais”, exemplificou.
Barbosa defendeu projeto de lei de sua autoria, já aprovado pela Câmara, que inclui a educação ao longo da vida na EJA, dentro da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). “Foi a maneira que encontramos de falar com toda as letras que a EJA tem que dar conta dessa educação ao longo de toda vida”, esclareceu. A proposta atualmente está em apreciação na Comissão de Educação do Senado.
Após ouvir a fala de todos os convidados, o deputado do PSDB afirmou que o seminário levantou uma provocação para clarear o conceito e mostrar que a educação ao longo da vida pode ser feita de maneira não formal. Ela pode usar espaços públicos, sem estar necessariamente ligada à escola, mas valorizando o desejo das pessoas de adquirirem novos conhecimentos, seja para a vida profissional ou pessoal.
Os deputados Otavio Leite (RJ) e Mara Gabrilli (SP) prestigiaram o evento. Para Mara, o seminário foi um importante momento de reflexão. “Aprender é nossa missão nesse planeta, então devemos estabelecer as ferramentas para que todos possam aprender durante toda a vida, pois isso é que nos faz dar um salto na qualidade de vida”, disse.
Durante o seminário, a professora Drª Edith Hammer, da UIL-Hamburgo, lembrou que o aprendizado contínuo é um conceito bastante antigo e que data de milhares de anos em algumas culturas. Para ela, todas as pessoas, especialmente as de maior vulnerabilidade, deveriam ter oportunidades de aprendizado ao longo da vida. Como ressaltou, a Unesco é uma das principais incentivadoras disso.
A Dra. Filomena Pereira, da União Europeia/Portugal, relatou experiências de Portugal e afirmou que o desenvolvimento humano envolve aspectos como a equidade em educação, educação inclusiva, educação de qualidade e a aprendizagem ao longo da vida, que, para ela, precisa ser pensada não só como tarefa da escola, mas de toda a sociedade.
O professor Genuíno Bordignon, da UnB, criticou o modelo atual da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil e disse que a modalidade não resolve o problema educacional. Segundo ele, o modelo tenta inserir o jovem ou adulto num ambiente pensado para crianças e adolescentes. Em sua avaliação, é preciso pensar um novo paradigma de EJA no Brasil.
Fazendo coro à fala de Genuíno, Ivana Siqueira, do Secadi/MEC, destacou que 2,8 milhões de pessoas entre 4 e 17 anos estão fora da escola no país e 12,8 milhões de pessoas com 15 anos ou mais não sabem sequer ler ou escrever um bilhete simples. Além disso, 50 milhões de pessoas não completaram o ensino básico. “É preciso ter outras ofertas para a EJA, prover suporte individual às necessidades das pessoas, valorizar as atividades e vivências, permitir percursos individualizados e conteúdos significativos, formar professores com especialidade para a educação de jovens e adultos”, destacou, ao citar iniciativas do Ministério da Educação.
Os demais convidados levantaram questões semelhantes e defenderam a educação ao longo da vida como forma de crescimento individual e profissional e como uma necessidade de todos. Paulo Santos Ramos, que é cadeirante, surdo e cego, fez um relato da sua vida educacional e de suas perspectivas acadêmicas e profissionais. O rapaz é um exemplo de superação e mostrou com seu testemunho como a educação faz a diferença. Apesar das limitações físicas, ele tem habilidades especiais e desenvolve softwares e jogos virtuais.
Após o evento, Eduardo Barbosa destacou a necessidade da formação de um grupo de trabalho para dar continuidade nas tratativas sobre o tema.
(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola)
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