Violência injustificada
Parlamentares repudiam agressões de militantes petistas à jornalista Miriam Leitão
Parlamentares do PSDB repudiaram nesta terça-feira (12) agressões sofridas por Miriam Leitão e manifestaram solidariedade a ela. Em sua coluna publicada no jornal “O Globo”, a jornalista relata o que passou dentro de uma aeronave da Avianca que fazia a rota Brasília-Rio no último dia 3. “Sofri um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT dentro de um voo. Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo”, escreveu.
“Como deputada e Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, mas acima de tudo cidadã de uma república democrática como a que vivemos em nosso país, repudio todo e qualquer ato de violência”, disse a deputada Shéridan (RR) em nota de repúdio. Segundo ela, não é possível considerar “normal” que líderes partidários, ou qualquer outra pessoa, estimulem a ira contra os que estão apenas exercendo sua profissão. “Nossas diferenças devem ser respeitadas e perpassam partidarismos. A chave das soluções para os problemas da atualidade não está no confronto, mas no entendimento”, apontou a tucana.
Em Plenário, o deputado Jutahy Junior (BA) manifestou sua “absoluta solidariedade” à profissional de imprensa. O tucano lamentou que ela tenha sido agredida simplesmente por seu trabalho. Jutahy também classificou de “covarde” a atitude do comandante do voo, que, pelos relatos de Miriam, nada disse ou fez para restabelecer a paz a bordo.
Segundo Jutahy, a companhia aérea tem a obrigação de prestar apoio ao passageiro, requisitando a presença da Polícia Federal para garantir a segurança do voo. O tucano disse ter ficado estarrecido ao ler o artigo e lembrou que já passou por situação semelhante dentro de uma aeronave, mas na ocasião o comandante tomou as devidas providências. Para ele, as agressões são “desproporcionais, descabidas e injustificáveis. ”
Também em Plenário, a deputada Yeda Crusius (RS) pediu a inclusão do artigo de Míriam nos Anais da Câmara. “Mais do que isso: peço que esta Casa repudie publicamente a agressão sofrida não apenas pela jornalista, mas por outros, como tem sido costume em todo o Brasil. Destaco que a liberdade de imprensa e expressão é essencial para o bom funcionamento da democracia”, destacou.
Em discurso, a deputada Geovania de Sá (SC) reprovou a atitude desse integrantes que estavam no voo. “Foi uma atitude inadmissível. Como integrante da bancada feminina, quero repudiar o acontecimento e me solidarizar com a jornalista”, disse da tribuna. O secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP), também se manifestou: “Nossa solidariedade a essa grande jornalista e repúdio a qualquer violência que possa ir contra a democracia”, declarou o parlamentar por meio de sua página no Facebook.
Leia abaixo a íntegra do artigo:
“O ódio a bordo”, por Miriam Leitão
“Foram duas horas de gritos, ameaças e xingamentos por parte de delegados do PT em um voo de Brasília ao Rio. Lula tem estimulado o ódio, citando meu nome com frequência em comícios.” Sofri um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT dentro de um voo. Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo. Não eram jovens militantes, eram homens e mulheres representantes partidários. Alguns já em seus cinquenta anos. Fui ameaçada, tive meu nome achincalhado e fui acusada de ter defendido posições que não defendo.
Sábado, 3 de junho, o voo 6237 da Avianca, das19h05, de Brasília para o Santos Dumont, estava no horário. O Congresso do PT em Brasília havia acabado naquela tarde e por isso eles estavam ainda vestidos com camisetas do encontro. Eu tinha ido a Brasília gravar o programa da Globonews.
Antes de chegar ao portão, fui comprar água e ouvi gritos do outro lado. Olhei instintivamente e vi que um grupo me dirigia ofensas. O barulho parou em seguida, e achei que embarcariam em outro voo.
Fui uma das primeiras a entrar no avião e me sentei na 15C. Logo depois eles entraram e começaram as hostilidades antes mesmo de sentarem. Por coincidência, estavam todos, talvez uns 20, em cadeiras próximas de mim. Alguns à minha frente, outros do lado, outros atrás. Alguns mais silenciosos me dirigiram olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas. — Terrorista, terrorista — gritaram alguns. Pensei na ironia. Foi “terrorista” a palavra com que fui recebida em um quartel do Exército, aos 19 anos, durante minha prisão na ditadura. Tantas décadas depois, em plena democracia, a mesma palavra era lançada contra mim.
Uma comissária, a única mulher na tripulação, veio, abaixou-se e falou: — O comandante te convida a sentar na frente. — Diga ao comandante que eu comprei a 15C e é aqui que eu vou ficar — respondi.
O avião já estava atrasado àquela altura. Os gritos, slogans, cantorias continuavam, diante de uma tripulação inerte, que nada fazia para restabelecer a ordem a bordo em respeito aos passageiros. Os petistas pareciam estar numa manifestação. Minutos depois, a aeromoça voltou:
— A Polícia Federal está mandando você ir para frente. Disse que se a senhora não for o avião não sai.
— Diga à Polícia Federal que enfrentei a ditadura. Não tenho medo. De nada.
Não vi ninguém da Polícia Federal. Se esteve lá, ficou na porta do avião e não andou pelo corredor, não chegou até a minha cadeira.
Durante todo o voo, os delegados do PT me ofenderam, mostrando uma visão totalmente distorcida do meu trabalho. Certamente não o acompanham. Não sou inimiga do partido, não torci pela crise, alertei que ela ocorreria pelos erros que estavam sendo cometidos. Quando os governos do PT acertaram, fiz avaliações positivas e há vários registros disso.
Durante o voo foram muitas as ofensas, e, nos momentos de maior tensão, alguns levantavam o celular esperando a reação que eu não tive. Houve um gesto de tão baixo nível que prefiro nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o autocontrole. Não filmei porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras grosserias. Ameaçaram atacar fisicamente a emissora, mostrando desconhecimento histórico mínimo: “quando eles mataram Getúlio o povo foi lá e quebrou a Globo”, berrou um deles. Ela foi fundada onze anos depois do suicídio de Vargas.
O piloto nada disse ou fez para restabelecer a paz a bordo. Nem mesmo um pedido de silêncio pelo serviço de som. Ele é a autoridade dentro do avião, mas não a exerceu. A viagem transcorreu em clima de comício, e, em meio a refrões, pousamos no Santos Dumont. A Avianca não me deu — nem aos demais passageiros — qualquer explicação sobre sua inusitada leniência e flagrante desrespeito às regras de segurança em voo. Alguns dos delegados do PT estavam bem exaltados. Quando me levantei, um deles, no corredor, me apontou o dedo xingando em altos brados. Passei entre eles no saguão do aeroporto debaixo do coro ofensivo.
Não acho que o PT é isso, mas repito que os protagonistas desse ataque de ódio eram profissionais do partido. Lula citou, mais de uma vez, meu nome em comícios ou reuniões partidárias. Como fez nesse último fim de semana. É um erro. Não devo ser alvo do partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei fazendo meu trabalho.
(Da redação/fotos: Alexssandro Loyola e Cleia Viana / Câmara dos Deputados/Áudio: Hélio Ricardo)
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