Entrevista exclusiva


Presidente da Comissão de Educação, Caio Narcio cita gargalos do setor e aponta caminhos

Em entrevista exclusiva, o presidente da Comissão de Educação da Câmara, Caio Narcio (MG), aborda conquistas e desafios da área educacional no Brasil, além de apontar caminhos para que o país possa dar um salto de qualidade. Entre os principais gargalos, o parlamentar cita a necessidade de valorização dos profissionais e a aplicação correta de recursos.  

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Caio comemora a tomada de medidas de grande impacto, como a Reforma do Ensino Médio e a construção, com a sociedade, da nova Base Comum Curricular. Tais ações podem levar o Brasil a um novo patamar na educação, com mais qualidade e oportunidades. Ao mesmo tempo, o deputado cita questões urgentes que necessitam de atenção do governo e do Legislativo e ressalta a atuação da Comissão de Educação no acompanhamento e engajamento para sanar problemas existentes. Confira a entrevista:

A Reforma do Ensino Médio contou com amplo apoio da sociedade e vai estabelecer um modelo eficaz e moderno na educação nacional. Com as reformulações, surgem os desafios para a devida implementação dos novos padrões. Como a comissão tem atuado para acompanhar e contribuir com essa fase transitória?
A reforma é uma medida corajosa e importante na transformação do nosso país, pois aproveita as aptidões de uma geração, assimila o conhecimento e ajuda na formação dos nossos jovens. A comissão tem o desafio de acompanhar os desdobramentos dessa lei sendo colocada em prática. Nós criamos uma subcomissão que vai acompanhar a implementação, que ainda depende da nova Base Comum Curricular, em discussão. Estamos atentos e certos de que foi uma medida corajosa, uma das mais importantes deste mandato. Apesar da desconfiança de alguns setores inicialmente, ela tem amplo apoio e tende a trazer grande evolução para o país. Em alguns anos essa reforma será enxergada como uma mudança de paradigma que vai ter colocado o Brasil numa modalidade de ensino médio competitiva mundialmente.  

A nova Base Comum Curricular recebeu mais de 12 milhões de contribuições da sociedade, o que mostra uma disposição em ouvir a população e o engajamento desta em uma discussão tão importante. A nova BCC pode transformar a educação brasileira?
Sim, pois esse contexto de receber essas contribuições já nos mostra a democracia na construção desse processo, amplamente debatido com a sociedade. É assim que deve ser, todas as partes sendo ouvidas para que a decisão final seja coletiva e atenda às demandas. Além de democrático, esse processo precisa ser determinante na transformação da educação do país. No momento em que alunos, professores, gestores estão sendo ouvidos e o debate sendo feito à exaustão, é possível afirmarmos que essa transformação positiva virá.

 Com isso, poderemos, finalmente, avançar em educação de qualidade e melhorar nossos indicadores, que hoje são tão ruins? Entre 70 nações, por exemplo, o Brasil ocupa entre a 59ª e a 66ª posição em ciências, leitura e matemática.
Não tenho dúvida que essa realidade mudará com tudo que está sendo feito hoje, pois serão aproveitadas as aptidões de jovens que têm talentos em determinadas áreas e poderão aprimorá-los, o que vai desaguar em acadêmicos mais preparados em universidades e institutos técnicos e, por fim, em profissionais muito mais preparados para as áreas em que vão atuar. Perceber essas aptidões mais cedo é dar oportunidade para aprimorar talentos e aprofundar conhecimentos em uma área que ele tende a desenvolver pelo resto da vida. Hoje os nossos indicadores são tão ruins por que os governos passados, do PT, priorizaram apenas a universalização em detrimento da qualidade. Houve, por exemplo, esforço para universalizar o ensino superior e técnico, mas a maneira como os recursos foram aplicados não se converteu em qualidade no ensino. Uma coisa é colocar o aluno dentro da sala de aula, outra coisa é ter qualidade para transferir o conhecimento, e nisso nós temos um grande desafio que vai perdurar por anos, que é a valorização e qualificação dos professores.

Essa questão da valorização e qualificação dos professores é então um dos maiores desafios?
Com certeza o maior deles, assim como a aplicação correta dos recursos da área. Quando temos professores que não recebem salários competitivos, eles deixam a sala de aula para buscar outro tipo de profissionalização. Com isso, estamos formando mal as nossas gerações, pois os bons profissionais deixam de lecionar e quem fica continua mal preparado. Enquanto não resolvermos o problema da valorização e qualificação dos professores, teremos esse problema na qualidade da formação dos nossos alunos. Da mesma forma, os recursos não precisam necessariamente corresponder a grandes cifras, precisa mesmo é ser bem aplicado para que os resultados venham. Nos governos do PT havia recurso em abundância e uma má aplicação. Em decorrência disso, índices que poderiam estar muito melhores foram prejudicados e o Brasil acabou ficando para trás.

Assim que tomou posse como presidente do colegiado, o senhor destacou a importância de discutir a questão dos campi avançados de universidades, pois alguns estavam sem estrutura alguma para funcionamento. Como está hoje essa situação?
A Comissão de Educação está atenta a isso. Criamos uma subcomissão de acompanhamento dos campi avançados e já fizemos alguns seminários sobre esse tema. A situação é grave, pois foi feita uma expansão de ensino superior com cunho eleitoral. Muitas vezes fizeram campi de universidades que não tinham nenhum critério para serem aprovados e depois, como consequência, alguns desses campi não foram viabilizados na sua situação física e de cargos estruturantes para que o funcionamento dos cursos pudesse existir com qualidade e estrutura mínima necessária. A situação é muito grave, o recurso insuficiente, e precisamos debater para que haja solução com o prejuízo mínimo possível para os estudantes dessas universidades que passam por dificuldades.

Recentemente, deputados do PSDB apresentaram um projeto de lei para combater o déficit nas creches. Estima-se que 200 mil crianças de até 3 anos estão fora dessas instituições por falta de vagas segundo estudo feito em sete capitais. O número elevado mostra o tamanho do desafio na assistência à primeira infância no Brasil?
A creche é o primeiro espaço de convivência da criança em comunidade e ali pode começar a formação educacional dela, tanto da fala quanto da escrita e da leitura. Uma má formação nessa fase de pré-alfabetização afeta toda a vida. É algo gravíssimo. O déficit precisa ser resolvido o quanto antes. Da mesma forma, precisa haver uma revisão do modelo dessas creches, daquilo que é feito dentro delas. Ali tem que ser feito o início da alfabetização. As creches não podem ser apenas um espaço para a criança passar o tempo enquanto os pais trabalham. Se não houver um foco do Ministério da Educação quanto a isso, estaremos perdendo uma grande oportunidade de iniciar ali a formação básica. As crianças de famílias mais estruturadas geralmente chegam à escola mais preparadas, pois tiveram essa fase de preparação em casa. É o que a creche poderia estar fazendo se houvesse uma normativa, uma estratégia de abordagem. Estamos num momento em que temos que tratar essa questão: sanar o déficit, si
m, mas ao mesmo tempo que o foco seja aprimorado, para que ali dentro a criança comece a ser lecionada.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola)

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1 junho, 2017 Últimas notícias Sem commentários »

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