Carta de Formulação e Mobilização Política
Sobrou pra quem não pode se defender – Análise do Instituto Teotonio Vilela
Um simples procedimento da Justiça, por mais graves que sejam as acusações ou por mais notório que seja o réu envolvido, não é motivo para ser transformado em palanque político nem em ato de campanha. Foi, no entanto, o que fizeram os petistas nesta quarta-feira, em função do depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sergio Moro, em Curitiba.
Que fique claro que a transformação do interrogatório de Lula em circo não foi culpa do juiz, que, aliás, pediu para ninguém se mobilizar ou comparecer a um “ato normal do processo” que apura o recebimento de quase R$ 4 milhões em propina paga pela OAS ao ex-presidente em troca de favores nos governos do PT.
Quem transformou o interrogatório em ato de campanha foram apenas os petistas. Nenhuma novidade. Eles vivem assim há 37 anos, ou seja, desde que a sigla foi criada no ABC Paulista. O que menos interessa ao petismo são os problemas do país. A legenda confirma-se ensimesmada numa única coisa: recuperar, obter e manter o poder. Sua clássica estratégia de guerra de dividir e conquistar.
A presença de alguns parlamentares petistas em Curitiba ontem – pagos para estar naquela mesma hora cumprindo seus deveres no Congresso, a milhares de quilômetros dali – ladeados por magra militância retrata o vazio de poder em torno do partido.
O PT é hoje muito mais um happening (ainda barulhento e incômodo, é certo) do que um movimento que expresse de fato parcela expressiva dos brasileiros – a presença de Dilma Rousseff num palanque depois de ter levado o Brasil à ruína encarna isso à perfeição. O PT esperneia para mostrar-se maior do que é, para tentar sobreviver.
Lula e o PT já tiveram, lícito admitir, importância para a história e a democracia brasileiras. Hoje são um atraso. Insuflam sua militância a resistir às mudanças necessárias para corrigir os estragos que seus governos causaram. Contaminam o debate político e envenenam o convívio social.
Lula cumpre papel de protagonista neste enredo tóxico. Mantém-se em campanha eleitoral permanente, a despeito de ter patrocinado os governos mais corruptos e ruinosos da história. Naquilo que diz respeito às investigações de que é alvo, sua desfaçatez não tem limites.
Réu em cinco processos, ele já havia transformado o velório da esposa, morta em fevereiro, em comício. Agora, diante do momento de esclarecer as suspeitas que lhe pesam sobre os ombros, transformou a própria Marisa Letícia em bode expiatório e imputou-lhe os principais atos e decisões sobre o tríplex que ganhou de presente como propina. Nada mais previsível do que o enredo de culpar quem já não pode se defender, típico de quem tem contas a acertar e não tem argumentos a apresentar.
Lula, mais uma vez, disse que nada viu, nada sabia. Mais uma vez, apresentou-se como vítima – embora tenha encontrado do outro lado um juiz técnico, frio e objetivo que não se sujeitou a servir-lhe de escada, tampouco em permitir que um ato corriqueiro da Justiça virasse palanque. Novamente, novidade alguma nisso. Minutos depois o petista estava num comício de fato, como a corroborar os reais objetivos da passagem de sua caravana pelo Paraná.
O líder dos petistas age mesmo, e sempre, para usar sua militância como joguete e para tentar paralisar a nação, como marionete de seus desejos. Que a Justiça se cumpra e que esse anacrônico modo de agir na arena política seja apenas um eco de um passado que não se repetirá.
(fonte: ITV)
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