Carta de Formulação e Mobilização Política
Show dos Bilhões – Análise do Instituto Teotonio Vilela
O Banco Central deu, na semana passada, mais um passo para extirpar uma das anomalias da nossa economia. A taxa básica de juros brasileira finalmente caminha para patamares mais civilizados, apesar de ainda estar muito acima da média praticada ao redor do mundo. Os cortes na Selic abrem espaço para que o Estado gaste menos com sua dívida.
A taxa básica foi reduzida para 11,25% ao ano na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) encerrada na quarta-feira da semana passada. Desta vez, o corte foi de um ponto percentual, o maior desde junho de 2009.
Desde que o atual ciclo de baixa começou, em outubro do ano passado, a Selic já foi reduzida em três pontos percentuais. Os cortes começaram tímidos, na casa de 0,25 ponto percentual, e foram se aprofundando à medida que ficavam claros tanto o recuo da inflação quanto a severidade da recessão.
A expectativa é de que a Selic caia mais a partir de agora, possibilidade que o Copom alimentou com o comunicado que emitiu na semana passada. Até o fim deste ano, o juro básico brasileiro deve recuar para 8,5% ao ano, mantendo-se neste nível ao longo de 2018.
Se isso acontecer de fato, o Brasil terá um juro real, ou seja, descontada a inflação, em torno de 4,6% ao ano, ainda muito alto – quando o ciclo atual de baixa começou a média era de cerca de 7% ao ano. Isso significa que o crédito fica mais barato, assim como as despesas com a dívida pública. Menos juros também tendem a impulsionar investimentos produtivos, num ciclo virtuoso.
Confirmadas as baixas que os analistas projetam para os próximos meses, o Brasil deixará de ser a economia com maior taxa real do mundo, perdendo o nada honroso título para a Rússia. Mas ainda assim permanecerá com patamares muito acima da média global de juros, hoje negativa em 2,2%, segundo levantamento da consultoria Moneyou.
Cada ponto percentual a menos da Selic significa gasto R$ 26 bilhões menor pelo governo federal com pagamento de juros da sua dívida. Infelizmente, o efeito para o cidadão comum é menos significativo: a baixa da taxa básica não tem chegado às linhas de crédito ofertadas pelos bancos a seus clientes, como mostrou O Globo.
A queda consistente da inflação, que caminha para fechar 2017 na meta depois de sete anos flertando com o descontrole, e a redução dos juros são as conquistas mais robustas até agora da política econômica em vigor há um ano. Espera-se que o rigor fiscal imposto às contas públicas também engrosse a lista de êxitos.
Em ambos os casos tem-se agora atitudes distintas das que vigoravam no país nos governos do PT. Inflação é coisa séria e precisa ser combatida. Juros altos são uma anomalia que deve ser extirpada, mas com instrumentos certos e nos momentos certos, não com voluntarismo, como se tentou entre 2011 e 2013. A hora é agora.
(Foto: José Cruz/Agência Brasil)
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