Brasil pós-Dilma
Sinais de recuperação da economia e debate sobre reformas marcam país um ano após impeachment
Há exatamente um ano, o Plenário da Câmara aprovava o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República por crime de responsabilidade. O pedido era baseado em duas premissas: as chamadas “pedaladas fiscais” e a abertura de créditos sem autorização do Congresso. A saída ocorreu num momento em que o governo da petista estava arruinando a economia.
Passado esse momento histórico e após o Senado ter confirmado a queda da presidente, o Brasil continua tendo como um dos principais desafios a recuperação da economia. Entre as conquistas mais importantes do período, estão a queda consistente da inflação e a redução dos juros. Além disso, o debate sobre as reformas da Previdência, da legislação trabalhista, política e tributária ganham destaque no Congresso e na sociedade.
Indicadores econômicos mostram que a saída de Dilma do Planalto foi fundamental para impedir um aprofundamento da crise e permitir que os agentes financeiros voltassem a ter confiança no Brasil. Em abril de 2016, mês da histórica votação na Câmara que afastou a presidente provisoriamente, a inflação era de 0,61%. Em termos anuais, chegava naquele momento a 9,28%. Um ano depois, a realidade é outra. Para este ano, estima-se que a inflação feche na meta. A taxa básica de juros caiu de 14,25% para 11,25%, assim como a previsão do PIB, que era de retração de 3,73% e hoje está projeta em leve crescimento de 0,4%, segundo a última edição do boletim Focus do Banco Central.
Por meio de sua página no Facebook, a deputada Mariana Carvalho (RO) relembrou o seu discurso naquela data histórica. “Esse foi o início de uma nova história”, escreveu a jovem parlamentar nesta segunda-feira (17).
O deputado Paulo Abi-Ackel (MG) ressaltou que hoje, diferente do período anterior ao impeachment, o governo tem credibilidade, está empreendendo reformas e enfrentando a crise. Ele afirma que, diferente de Dilma, o presidente Michel Temer sabe dialogar com o Parlamento e a sociedade e soube escolher uma equipe qualificada para o auxiliar, incluindo o ministro da Fazenda. Em sua avaliação, aos poucos, o “bolso do cidadão começa a ficar mais folgado”, como resultado das medidas que tem sido tomadas.
Segundo ele, o país é outro. “As manifestações populares diminuiriam, o país está mais pacificado, o presidente incentivou a continuidade da Lava Jato e está enfrentando de maneira corajosa as reformas estruturais. Os efeitos benéficos virão com o tempo e nós temos a expectativa de que o Brasil será muito melhor ao final desse novo período que entramos, além de estarmos livres de um grupo que assaltou os cofres públicos e com arrogância não quis dialogar com ninguém”, apontou.
Para a deputada Yeda Crusius (RS), um dos principais resultados da queda de Dilma foi impedir um desastre total. A tucana observa que, com o impeachment, várias forças políticas se uniram sob o compromisso de frear o crescimento do desemprego e da inflação e fazer o país voltar a crescer. Ela avalia que o compromisso tem sido mantido e medidas nesse sentido têm sido tomadas. Um desafio, segundo ela, são as reformas, que governo e Congresso estão discutindo e que precisam acontecer para, de fato, mudanças mais consistentes possam acontecer.
RECUPERAÇÃO
A aprovação das reformas é vista como passo fundamental para a plena retomada da confiança e recuperação mais rápida da economia. O país caminha nesse sentido, o que certamente não estaria acontecendo se a ex-presidente tivesse permanecido no cargo, já que, durante 13 anos no poder, seu partido não mostrou disposição para tirá-las do papel.
Nesta terça-feira (18), por exemplo, será apresentado o parecer da reforma da Previdência na comissão especial, enquanto na semana passada o deputado Rogério Marinho (RN) leu seu relatório ao PL da modernização da legislação trabalhista. Yeda ressalta ainda que as reformas política e tributária, já em discussão, devem ainda fazer parte dessa pauta reformista até o ano que vem.
O deputado Betinho Gomes (PE) acredita que, de fato, o que mais melhorou foi o ambiente econômico. “Embora a mudança ainda seja muito tênue, já se percebe que a confiança tem aumentado e isso vai representar, num futuro breve, geração de emprego e renda”, acredita. Para ele, os governos petistas ficaram marcados por gerenciar mal a área econômica e por não terem disposição para enfrentar problemas estruturais, o que o fez o país entrar numa situação de déficit fiscal profundo, gerando grandes dificuldades.
“Passado esse período, apesar de ainda termos uma crise muito grave, os sinais de recuperação começam a se manifestar. Os investidores estão com mais ânimo, há uma pequena reação no mercado de trabalho. Esses são alguns pontos que podemos ressaltar e que fazem parte desse processo de recuperação. Agora é torcer para que isso possa se aprofundar e o Brasil possa se reerguer e se colocar no mercado internacional como um player capaz de atrair mais investimentos, melhorando sua economia interna e as relações externas”, aponta o tucano.
PROJETOS APROVADOS
Especialistas ouvidos pelo jornal “Correio Braziliense” afirmam que uma importante diferença está na autonomia e qualificação da atual equipe econômica do governo, o que não existia antes do impeachment, sob Dilma. No governo de Michel Temer, em um ano, o Congresso também conseguiu aprovar medidas importantes que beneficiam não só a economia, mas áreas essenciais, como a educação. A PEC do Teto de Gastos, a reforma do Ensino Médio e o fim da obrigatoriedade da exploração do pré-sal exclusivamente pela Petrobras são alguns dos exemplos de matérias importantes aprovadas após o fim da era Dilma.
Ainda no campo econômico, vários outros indicadores mostram que o país começou a retomar o fôlego. A produção da indústria melhorou, o setor automobilístico deu um salto, a venda de carros e de materiais de construção cresceu e, em pouco tempo, os empregos devem surgir. O superávit da balança comercial também subiu e o dólar caiu.
Essa melhora nos indicadores econômicos se evidencia no risco-país (ou risco Brasil). O indicador caiu de 387 para 271 pontos em um ano. O dado, aliado às reformas propostas por Temer, fez com que a agência Moody’s melhorasse o rating do Brasil de negativo para estável. Isso significa que a classificação da dívida pública brasileira não corre o risco de ser rebaixada a qualquer momento.
(Reportagem: Djan Moreno/foto: Antonio Augusto – CD/Áudio: Hélio Ricardo)
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